08
de março de 2014 | N° 17726
PAULO
SANT’ANA
Os primeiros
passos
Posso
estar exagerando, mas o momento mais magistralmente importante da vida humana é
aquele em que o bebê ensaia os primeiros passos e aprende a caminhar.
Há
um segundo momento importante na vida humana: é aquele em que o bebê, sempre
levantado, é claro, por outra pessoa, depois de ensaiar os primeiros passos,
aprende a, sentado, levantar-se sozinho sem o auxílio de ninguém, e empreende
ele próprio a sua caminhada.
Não
há na trajetória humana um instante mais significativo de humanidade.
É de
ver-se um bebê aprendendo a caminhar. Estou escrevendo sobre este assunto
porque ontem acompanhei um sobrinho-segundo da minha mulher dar os primeiros
passos.
Deve
ser notável para um bebê perceber que, depois dos primeiros meses de incerteza
e vacilações, é capaz de locomover-se sozinho sem engatinhar,
Nenhum
ser humano recorda-se desse instante sublime, por isso aconselho os pais de
bebês a filmarem esse momento notável para a posteridade. Eu gostaria de ter
visto num filme, já adulto, os ensaios dos meus primeiros passos.
Eu
ontem estava olhando, visivelmente emocionado, o bebê ensaiando os primeiros
passos trôpegos, foi um espetáculo que não sairá jamais da minha lembrança.
Não
sei quanto tempo, normalmente, uma criança demora desde seu nascimento até
aprender a caminhar. Calculo que sejam poucos meses antes de um ano de idade,
algo em torno disso, uns demoram menos que os outros, mas é por aí...
E
quando o bebê, já desenvolto no seu caminhar, com autonomia completa, começa a
andar por toda a casa, de uma peça para outra, classifico esse instante como o
mais prodigioso da existência de uma pessoa.
Poder
caminhar por toda a casa sem mais ter a necessidade de transportar-se no colo
da mãe é, na compreensão de um bebê, o verdadeiro início da vida, o princípio
de tudo o que virá dali por diante no currículo humano de um ser.
Viver
não é outra coisa senão caminhar. Viver é caminhar para diante. Viver é dar
passos, tomar decisões, fazer escolhas.
E,
quando passa a caminhar, o bebê começa a fazer escolhas e a tomar decisões. Em
suma, a perceber, escolher e executar suas vontades.
Nós
todos somos, em última análise, muito do bebê que fomos.
Eu
gostaria de nunca ter deixado de ser bebê.