Algoritmos
Para quem ainda não sabe, algoritmos podem ser definidos, em termos teóricos, como uma sequência lógica, finita e definida de instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa. Esses dias, li sobre uma pesquisa que foi feita sobre música, com utilização de algoritmos e o autor, com ciência, disse que até os Beatles a música tinha mais qualidade, em termos de notas, estrutura e harmonia.
Achei interessante e lembrei de uma antiga cantora de bossa nova que disse que hoje as pessoas não querem ouvir música, querem dançar. E dançar, acho, sem precisar muitas notas para tirar os pés do chão. Pensando em algoritmos, podemos refletir que na vida existem planejamento, acaso e muitas outras coisas que aqui não vou listar, pois tenho apenas 3.500 caracteres nesse meu algoritmo do texto que escrevo.
Na vida cotidiana, por exemplo, seguimos para o trabalho quase sempre pelo mesmo caminho e nos secamos depois do banho com a mesma sequência de gestos. Isso são algoritmos, regras que estabelecemos. Receitas de culinária ou manuais de instruções para vários fins, são algoritmos que usamos. Há quem procure novo algoritmo para, por exemplo, fazer uma omelete de modo diferente.
Há quem diga que, daqui a pouco, só usaremos algoritmos e não precisaremos tomar grandes ou pequenas decisões. Tomara que não, que a vida não deve ser uma rotina chata, cheia de regras rígidas, sem criatividade e imprevistos. Em se tratando de meios eletrônicos e comunicação em redes sociais, é importante notar os efeitos de algoritmos que são utilizados para nos "guiar" em termos de informação, política, economia, costumes, comportamento e tantas outros aspectos da vida.
É preciso abrir o olho e não deixar que os algoritmos, nossos e dos outros, sejam utilizados para suplantar a liberdade e a vontade humanas. Tomara que nossas vidas não sejam comandadas por algoritmos. No Brasil, por exemplo, atualmente, dá para perceber o uso de algoritmos por uns e outros para tentar ganhar o Fla-Flu eleitoral, político e econômico que anda por aí.
Vamos ficar espertos e não deixar que a "sequência lógica, finita e definida de instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa" seja imposta para nós, via comunicação eletrônica, impressa, televisada ou falada. É claro que na vida precisamos de leis, regras e normas para viver em comunidade. Onde há sociedade é preciso haver leis e regras ou a sociedade acaba, por atos violentos e arbitrários praticados por pessoas que não respeitam o direito, a liberdade, a honra, a vida e o patrimônio dos outros. Um agrupamento humano só sobrevive com regras.
De preferência, regras democráticas e garantidoras de igualdade perante a lei. Regras impostas por ditadores, muitas vezes com o uso da força, devem ficar no passado. A experiência e a história nos mostram que ditaduras de direita, de esquerda, de centro ou do que forem não trouxeram benefícios para as sociedades e, muitas vezes, ao contrário, trouxeram mortes, genocídios e desgraças para as populações.
a propósito...
A graça da vida, que é chamada por alguns de "graça triste", é justamente o balanço entre velhos e novos algoritmos. Velhas e novas tradições, antigos e novos hábitos. Ter regras de convívio, sim, mas ter a inteligência e a vontade de mudá-las, também - de preferência, para melhor. O mundo e as pessoas devem ir para a frente, não necessariamente para a "esquerda" ou para a "direita", conceitos ultrapassados. Por que não novos caminhos?
O calor, a rebeldia, a criatividade e a força dos jovens - e não só deles - sempre são melhores e mais produtivos quando combinados com a experiência, a cautela e as vivências dos velhos. Criar, criança, criatividade, novidade, ótimo! Melhor sem impor "algoritmos" autoritários, e respeitando a vida, a liberdade, a paz e o convívio social.
(Jaime Cimenti) - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/02/colunas/livros/610981-memoria-da-ausencia.html)