Veraneio 2018
Pois é, nosso tradicional veraneio feito de oito fins de semana deste verão de 2018 não terminou. Falta um finde, graças a Deus. Tem esta saideira de sexta até domingo 25, e é bom demais lembrar que a Páscoa está logo ali, no final de março. Melhor deixar umas bebidas e comidas duráveis na geladeira da praia, pensar no feriadão do coelhinho e, que remédio, enfrentar, de novo, em turno integral e por toda a semana, a realidade urbana ou rural.
Entre uma viagem semanal e outra, a maioria ficou entre a praia e o asfalto. Para muitos, o melhor veraneio é em Porto Alegre ou nas cidades. Questão de gosto. Gostos, cores e amores não se discutem, dizia minha vó. É preciso ser forte e firme para enfrentar, como disse um amigo, a "depressão pós-verão" que atinge muitos viventes rio-grandenses, que passam o ano com saudade de nossas lindas praias, com seu mar azul turquês, suas areias finas e brancas e suas ricas fauna e flora.
Os gaúchos terão saudades dos engarrafamentos na freeway e da RS-040, dos pastéis e sonhos de beira de estrada, das chuvas e trovoadas e das guias gordas do IPTU dos imóveis das praias. Olhem, senhores prefeitos do Litoral, que os veranistas estão em campanha para transferência de seus títulos eleitorais para o Litoral, e aí o bicho pode pegar. Fiquem espertos.
O melhor do verão segue sendo a turma de amigos, os comes e bebes na beira da praia, da piscina ou mesmo na beira do tempo, em qualquer bar, restaurante, boteco ou coisa parecida que pinte. Aquelas horas, aqueles dias, sem muito celular, jornal, telejornal ou noticiários tenebrosos de rádio, ajudam a colocar nossos sonhos em dia e recarregam nossas pilhas para encarar este aninho de 2018, repleto de indignação contra a corrupção e ainda sem definições claras sobre as eleições presidenciais.
Melhor votar em gente nova, renovar o congresso, é o que ouço a toda hora. Tomara que os políticos ouçam esses gritos das ruas e aproveitem os últimos meses para fazer alguma coisa boa. A esperança é a última que morre. Muitos políticos vão morrer na praia, como certos times de futebol. Há quem fale mal dos condomínios horizontais do Litoral, que tem "town-houses" (casas de cidade), tipo os condomínios da Flórida, cuja maioria fica um pouco afastada da beira da praia.
Melhor é ter, nas casas de condomínio e nas outras, bananas, abacaxis, redes, artesanato local, puxa-puxa e outras essências de nossos veraneios antigos, quando a coisa era básica: areia, mar, sol, lua, estrelas, mordidas de siri, creme paraqueimol, pesca de sardinha na ponte Imbé-Tramandaí, chalé de madeira, e sonhos e cachaça em Santo Antônio da Patrulha. Ninguém esquece o primeiro Chica-Bom no braço morto, em Imbé, e os primeiros namoros, azarações e sanduíches sobaka no Boliche de Capão. Amigos, cuidado com os efeitos de overdose de crepes doces e salgados. Degustem os deliciosos crepes com moderação.
a propósito...
Para variar, vou sugerir, de novo, que as férias de verão se prolonguem até 15 ou 20 de março. Março é o melhor mês. Muitas pessoas, especialmente as de menor renda, poderiam aproveitar casas, apartamentos, pousadas, hotéis, colônias de férias e campings. Seria bom para todos, moradores e veranistas. O mar claro, o tempo firme e as noites enluaradas de março sentem saudades dos veranistas. Todo ano repito isso.
Vou repetir por mais alguns. Sei que sou um sonhador, mas não sou o único. Junte-se a nós. Veranistas unidos jamais serão vencidos. Ontem sonhei, de novo, com o trem-bala Porto Alegre-Litoral. Ontem sonhei, de novo, com um grande e produtivo diálogo entre os moradores do Litoral e os veranistas. Vamos conversar, nos unir, temos muito em comum, é melhor para todos.
(Jaime Cimenti) - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/02/colunas/livros/612510-machado-de-assis-melhores-contos.html)