01
de março de 2014 | N° 17719
EDITORIAIS
A crítica do
juiz
Artigo
assinado ontem pelo juiz Pedro Luiz Pozza sobre a dificuldade do governo
estadual para pagar precatórios alinha exemplarmente algumas mazelas que
impedem o desenvolvimento do Estado. Estranha o magistrado que o Executivo
alegue falta de recursos para pagar credores, mas não hesite em criar estatais
como a Empresa Gaúcha de Rodovias, quando o Daer poderia fazer o mesmo trabalho
de administrar os pedágios.
Ele
aponta também outros entraves: gastos demasiados com servidores, endividamento
desnecessário, criação e manutenção de empresas estatais que poderiam ser
privatizadas ou funcionar com menor estrutura. Questiona até mesmo a manutenção
do Banrisul como banco público, com o custo elevado da dívida contraída com a
União para salvá-lo.
Muitas
das observações do magistrado são procedentes. Algumas, porém, deixam de ser
resolvidas pelos governadores porque esbarram no próprio Judiciário, caso dos
gastos com servidores inativos, que, segundo seu levantamento, representam mais
de 50% das despesas de pessoal e mais do que o dobro do que gasta o governo
paulista na mesma rubrica. O que pode fazer um administrador para superar a
barreira do chamado direito adquirido?
Mas
a verdade é que os governantes, em sua maioria, costumam empurrar os problemas
para o futuro. Distribuem benesses e adiam compromissos, conscientes de que o
mandato tem prazo para acabar e a carreira política continua depois. É
justamente esse descompromisso com a coisa pública que o juiz flagra em sua
crítica, concluindo com uma pergunta desafiadora: “A quem interessa que a
situação não mude?”.