01
de março de 2014 | N° 17719
NÍLSON
SOUZA
O repórter na arca
Li
que Russel Crowe, o ator oscarizado de Gladiador, está fazendo campanha nas
redes sociais para convencer o papa Francisco a assistir ao seu próximo filme,
Noé – longa-metragem sobre um dos mais instigantes episódios bíblicos, o relato
da arca de Noé.
A
história do único homem justo num mundo convulsionado pela perversidade,
escolhido por Deus para perpetuar a espécie depois da destruição da humanidade
pelas águas, impressiona tanto, que foi contada e recontada nos registros
fundamentais de várias religiões. Claro que cada narrador acrescentou o seu
ponto: em alguns casos Noé leva só a sua família com a bicharada, em outros
leva vários discípulos; uns dizem que choveu durante 40 dias e 40 noites,
outros que o dilúvio universal durou meses. Também os bichos ganham as mais
diversas simbologias, terminando com o corvo velhaco e a pomba fiel nas suas
missões em busca de terra firme.
À
luz da razão, é um relato inverossímil. Como acreditar que com a tecnologia da
época alguém fosse capaz de construir um cargueiro capaz de flutuar vários dias
com um zoológico inteiro a bordo? Ainda assim, cientistas procuram até hoje os
restos do barco nas montanhas da Turquia. Para os crentes, porém, tudo faz
sentido. Há explicações até para coisas aparentemente absurdas e para
questionamentos éticos, como o fato de Noé, sendo tão virtuoso, não ter
alertado a vizinhança sobre o aguaceiro iminente.
Respeito
todas as visões. Mas, na condição de enviado especial para a cobertura da
inusitada viagem, que acabo de assumir nesta crônica, prefiro acreditar que se
trata de um mito cheio de ensinamentos reais para todos nós, mesmo nestes
tempos em que navegamos apenas em águas virtuais. A propósito, não estamos
vivendo um dilúvio universal de tecnologia? Será o Zuckerberg o novo Noé?
Desculpem a digressão. Volto ao filme.
Está
programado para estrear em março nos Estados Unidos e em abril por aqui, mas já
tive a curiosidade de olhar o trailer e me chamou a atenção uma pergunta da
mulher de Noé, ao ver o bicharedo embarcando:
– As
cobras também?
Gosto
de uma interpretação que diz que os animais embarcados representam as paixões e
os sentimentos humanos. As escrituras também contam que a mulher foi enganada
pela serpente no paraíso e ambas foram condenadas a se odiar pela maldição
divina. É tema para outro debate, mas a verdade é que as mulheres, sempre
considerando a maioria, detestam cobras. Não sei se a recíproca é verdadeira.
De qualquer maneira, a cena retrata bem esta situação. Noé, porém, autoriza o
embarque.
Estou louco para ver no que deu. Será que o Papa também
não está?