08
de março de 2014 | N° 17726
NÍLSON
SOUZA
Elas por elas
Sobre
mulheres, jamais vou escrever algo tão bonito que Cora Coralina já não tenha
escrito: “Que pretendes, mulher? Independência, igualdade de condições...
Empregos fora do lar? És superior àqueles que procuras imitar. Tens o dom
divino de ser mãe. Em ti está presente a humanidade”.
Sobre
mulheres, não poderia ser tão autêntico e verdadeiro quanto Martha Medeiros: “A
todos trato muito bem/ sou cordial, educada, quase sensata,/ mas nada me dá
mais prazer/ do que ser persona non grata/ expulsa do paraíso/ uma mulher sem
juízo, que não se comove/ com nada/ cruel e refinada/ que não merece ir pro
céu, uma vilã de novela/ mas bela, e até mesmo culta/ estranha, com tantos
amigos/ e amada, bem vestida e respeitada/ aqui entre nós/ melhor que ser
boazinha é não poder ser imitada”.
Sobre
mulheres, poderia até dizer que prezam a própria autonomia, mas não com a
legitimidade de Bruna Lombardi: “Tenho os caprichos inerentes à natureza da
mulher/ abro a caixa de pandora que eu quiser/ e lanço mão de todo mal e todo
bem/ avanço a passos largos/ alcanço o ponto extremo e vou além”.
Sobre
mulheres, sei que carregam mistérios na alma, mas sabe-o muito melhor Clarice
Lispector: “Sou como você me vê,/ posso ser leve como uma brisa,/ ou forte como
uma ventania, / depende de quando,/ e como você me vê passar”.
Sobre
mulheres, só mesmo a irreverência de uma Adélia Prado para desafiar Drummond:
“Vai ser coxo na vida é maldição pra homem./ Mulher é desdobrável./ Eu sou”.
Sobre
mulheres, poderia arriscar-me a falar de inconstância, mas prefiro dar a
palavra a Cecília Meireles: “Tenho fases, como a lua/ Fases de andar
escondida,/ fases de vir para a rua.../ Perdição da minha vida!/ Perdição da
vida minha!/ Tenho fases de ser tua,/ tenho outras de ser sozinha”.
Sobre
mulheres, poderia defini-las, mas não com a convicção de Raquel de Queiroz:
“Nós, mulheres, herdamos muito da personalidade de Eva: todas as vezes que nos
encontramos na santa paz do Paraíso, ficamos ansiosas por morder uma maçã e
cairmos fora de lá!...”.
Sobre
mulheres, permito-me saudá-las muito mais pela sensibilidade e pelo talento do
que propriamente pelo dia de hoje.