18 de Janeiro de 2025
Opinião RBS
Trégua frágil
Programado para entrar em vigor neste domingo, o acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, anunciado na quarta-feira depois de exaustivas negociações mediadas por Catar, Egito e Estados Unidos, tem o mérito de suspender temporariamente os combates. O conflito já provocou milhares de mortes e muita destruição a partir do ataque sangrento dos membros do Hamas ao território israelense em 7 de outubro de 2023. É importante contextualizar que antes daquele bárbaro crime, caracterizado pela execução sumária e pelo sequestro de centenas de civis inocentes, incluindo mulheres e crianças, perdurava uma espécie de trégua na região - ainda que o litígio histórico permanecesse latente.
Agora, depois de 15 meses de muito sofrimento de ambos os lados, principalmente pelas perdas irreparáveis de vidas humanas, volta-se ao ponto de partida - um armistício frágil, mas que devolve a esperança de uma convivência pacífica entre os dois povos. Se perdurar, esse "acordo possível" pode ser uma nova oportunidade para a construção de uma paz duradoura no Oriente Médio, com diálogo permanente, respeito mútuo e rejeição inequívoca ao extremismo.
O pacto firmado no Catar e apenas nesta sexta-feira ratificado pelo conselho de ministros do governo israelense é, na verdade, uma negociação continuada, pois depende do cumprimento de etapas que representam um verdadeiro terreno movediço a ser atravessado. A primeira fase, com duração de seis semanas, prevê a liberação de 33 reféns israelenses, a soltura de prisioneiros palestinos, a retirada parcial das tropas que ocupam as zonas mais populosas de Gaza e a ampliação da ajuda humanitária para a população civil. A segunda parte do acordo deve incluir a liberação dos demais reféns detidos pelo grupo terrorista e a entrega dos corpos daqueles que já morreram.
O terceiro e ainda distante objetivo do entendimento inclui a reconstrução de Gaza e a definição de um governo reconhecido e responsável para administrar aquele território palestino.
Aí está o X da questão: a população da Faixa de Gaza não pode continuar sob o domínio de terroristas que defendem a eliminação de Israel - e que, infelizmente, contam com o apoio de ditaduras islâmicas da região. Se o radicalismo sobreviver e se fortalecer, dificilmente a paz duradoura será alcançada. Há um consenso internacional de que Gaza deva ser administrada por palestinos, mas essa administração não pode ser controlada pelos criminosos do Hamas, que se movem pelo ódio e pelo fanatismo, mesmo sabendo que seus atos reverterão em sofrimento para seu próprio povo.
Israel, como qualquer país soberano, tem o direito de se defender de agressores que pregam a sua eliminação. Mas certamente o propósito prioritário dos israelenses - como ocorre com a maioria dos palestinos - é viver em paz e conviver harmonicamente com seus vizinhos. A guerra nunca é solução para nada, só traz desgraças e privações. As grandes conquistas civilizatórias se consolidam nos períodos de paz, quando homens e mulheres podem se dedicar ao trabalho, ao lazer, à vida em sociedade, à criatividade e ao desenvolvimento econômico, cultural e social. Essa trégua frágil ainda não pode ser chamada de pacificação, mas reacende a luz da esperança. _
Conselho Editorial - Claudio Toigo Filho
CEO da RBS Mídias e membro do Conselho Editorial da RBS
A capacidade de resistir e de se reinventar
O ano de 2025 começa com o Rio Grande do Sul marcado por cicatrizes profundas. A tragédia das enchentes de 2024 abalou famílias, cidades e a identidade coletiva de um povo que há séculos enfrenta desafios com coragem. Visitantes de fora do Estado chegam aqui e se impressionam com as poucas marcas visíveis da inundação e elogiam a capacidade dos gaúchos de dar a volta por cima. A devastação foi imensa, mas como dizia Winston Churchill em plena Segunda Guerra Mundial: "We shall never surrender" (nunca nos renderemos). Não nos rendemos, e agora nos perguntamos: como reconstruir melhor, como virar a página, como fazer deste novo ano um marco de esperança e ação?
Na Inglaterra devastada pela guerra, Churchill sabia que a resiliência dependia não apenas de resistência, mas de ambição.
Ele inspirou um país inteiro a lutar pelo que ainda não existia: uma nação reconstruída sobre alicerces mais sólidos. O mesmo desafio se apresenta agora ao Rio Grande do Sul. Temos que ir além da reconstrução básica. Como no pós-Katrina em Nova Orleans, o objetivo deve ser o build better, uma reconstrução que não só repara, mas transforma.
No entanto, para que isso aconteça, precisamos enfrentar as realidades de uma cultura instalada no sistema público caracterizada pela burocracia, pela lentidão na execução dos projetos e pela responsabilidade difusa, que não ajuda nem governantes, nem governados. A população tem dificuldade de enxergar um projeto que interligue todas as frentes necessárias. Há recursos disponíveis, mas faltam qualidade nos projetos, velocidade e gestão eficiente. Esse é o grande gargalo, e o papel do jornalismo, em nome do público, é mostrá-lo.
Os veículos da RBS, como Rádio Gaúcha, Zero Hora, GZH e RBS TV, têm sido uma ponte entre a população, as autoridades e as soluções. Nossa missão é clara: cobrar que a reconstrução e a reinvenção do Estado saiam do papel. Não podemos permitir que a tragédia de 2024 vire apenas mais uma história esquecida. Mas também temos que celebrar o que já foi feito, mobilizando a sociedade para avançar. É preciso inspirar e realizar.
Aprendemos muito com as enchentes: sobre a força da solidariedade, mas também sobre nossa vulnerabilidade. Como sociedade, aprendemos pouco em termos práticos. Por isso, em 2025, o desafio é duplo: manter a sociedade resiliente e exigir resultados. Não podemos nos render ao cansaço ou ao pessimismo que pairam no ar a cada chuva. Precisamos de coragem, de otimismo, de ação.
A força de um povo está em sua capacidade de resistir e, mais importante, de se reinventar. Quem vê de fora, se impressiona com a valentia do gaúcho, que tem sua identidade forjada na luta. É ela que nos une e que, em 2025, precisa se transformar em movimento. Vamos virar a página, mas não esquecer do que nos trouxe até aqui. Somos o Estado do futuro, e nossa reconstrução será a prova disso.
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