quarta-feira, 22 de janeiro de 2025



22 de Janeiro de 2025
MÁRIO CORSO

Largue o celular

Se você é como São Tomé, que precisa ver para crer, já existem imagens dos danos cerebrais causados pelo uso abusivo de telas. Foi publicado um estudo de meta análise, para sintetizar e comparar vários estudos de neuroimagem que tratavam do tema. A redução do volume da massa cinzenta se dá nas áreas de controle dos impulsos, tomada de decisões e processamento de recompensas. Os danos são semelhantes aos de dependentes de álcool, metanfetaminas e maconha.

Recentemente, a palavra do ano de língua inglesa foi brainrot ("podridão cerebral"), para designar a mudança cognitiva em quem abusa de games e redes sociais. Especialmente para quem fica rolando de um conteúdo aleatório para outro, sendo metralhado por múltiplos estímulos de conteúdo de baixa qualidade. Não é que a metáfora podridão ganhou um lastro real no cérebro?

Para quem diz: "Eu não consigo tirar o celular do meu filho". Seria de espantar se fosse fácil, afinal, ele age como um viciado, não consegue se imaginar sem sua substância. Para quem faz uso abusivo, privá-lo do celular é como tirar a droga de alguém. Gera abstinência, que gera revolta, irritação, ansiedade e agressividade. Os aplicativos são desenhados para nos manter presos na tela pelo maior tempo possível. Eles são intrinsecamente viciantes.

É válida a preocupação com o que os pequenos consomem, se o produto é orgânico, se tem agrotóxicos, se é ultraprocessado. É essencial dar-se conta de que o cérebro também é alimentado para crescer. O conteúdo viciante danifica os mecanismos de atenção sustentada que as crianças precisam na escola. Não adianta investir na educação se o jovem fica exposto aos algoritmos de mantê-lo preso à internet. Todo o esforço para conseguir um bom colégio é consumido pela podridão cerebral.

A escola é mais do que aquisição de tal o qual conteúdo, é o treino sistemático para enfrentar assuntos cada vez mais complexos e abstratos. Este progresso pode ser inviabilizado, pois as redes sociais treinam o cérebro no sentido inverso da capacidade de concentração, ou seja, busca por novidades e assuntos alarmantes. Jovens e adultos estão mentalmente subnutridos, e seus cérebros, intoxicados com conteúdos de fast-food. _

MÁRIO CORSO

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