"Era de ouro" ou Idade Média?
Em seu discurso de posse, Donald Trump começou e terminou o pronunciamento decretando que "a era de ouro dos Estados Unidos começa agora". No entanto, a julgar por suas palavras, o que teve início ontem assemelha-se ao retorno da América à Idade Média.
Em itens como imigração, gênero, ambiente, relações internacionais e globalização, o presidente que volta ao poder demonstrou total desprezo pelos avanços da sociedade contemporânea e escancarou um nativismo que poucas vezes se viu no século 21.
Com relação à migração, afirmou que assinaria ordem decretando "emergência nacional" na fronteira Sul, prometendo "mandar milhões de imigrantes e criminosos de volta aos lugares de onde vieram" e começar a política do "fique no México".
Ele ignora que a história dos EUA é feita de pessoas que vieram de várias partes do mundo para erigir a América. Outro tema, alinhado a sua lógica binária, estabeleceu que: "a partir de hoje, vai ser política governamental para apenas dois gêneros: masculino e feminino".
Enquanto o mundo caminha para o uso de energia limpa, redução do uso de combustíveis fósseis e menos emissões de gases do efeito estufa para o equilíbrio do desenvolvimento econômico e respeito ao ambiente, Trump defendeu "vender mais petróleo e gás" e em acabar com o que chamou de "lei mandatória dos carros elétricos":
- O ouro líquido que está sob nossos pés nos ajudará a chegar lá - disse no discurso.
Fez aflorar um dos lados mais condenáveis da história americana, o colonialismo, ao prometer retomar o Canal do Panamá.
- O canal foi dado de forma muito tola para o Panamá, um presente que nunca deveria ter sido dado. A promessa foi quebrada: nossos barcos e navios estão sendo tarifados. A China está operando o Canal do Panamá. E vamos pegar de volta - disse.
Em outro arroubo nacionalista, para não dizer xenófobo, afirmou que pretende trocar o nome do Golfo do México por "Golfo da América".
Em um mundo cada vez mais interconectado e globalizado, prometeu muros econômicos:
- Vamos taxar países para proteger nossos cidadãos.
Invocou a defesa da liberdade em várias ocasiões, mas, diante dos barões das big techs, que abraçaram o trumpismo não por ideologia, mas para se livrar de regulamentações, acabou fincando a bandeira do "tudo é permitido" nas redes. _
"Nós amamos vocês, América", diz Biden
Em uma das suas últimas publicações como presidente dos Estados Unidos, Joe Biden compartilhou uma selfie ao lado da esposa Jill Biden. A imagem foi publicada nas redes sociais da conta oficial da presidência.
"Mais uma selfie para a jornada. Nós amamos vocês, América", disse a legenda.
Na imagem, o casal está nos jardins da Casa Branca, com árvores e arbustos tomados de neve durante o frio da capital Washington. Esse, inclusive, foi um dos motivos para o evento de posse, que normalmente ocorre ao ar livre, ser realizado dentro do Capitólio.
Antes de ser presidente, Biden foi membro do Conselho do Condado, senador (por 36 anos) e vice-presidente de Barack Obama. _
Trump mais forte
Muito se comenta que Donald Trump chega ao novo mandato mais forte do que no anterior. Mas por quê?
Primeiro pela chancela das urnas, na eleição de 2024. O republicano conquistou a ampla maioria dos votos no colégio eleitoral e entre os eleitores. Em 2016, quando chegou pela primeira vez ao poder, ele havia perdido para Hillary Clinton no voto popular - ou seja, embora o que vale nos EUA é conquistar a maioria dos votos dos delegados, havia, nos bastidores, uma certa crise de legitimidade. Agora, não.
Segundo, Trump não pode se apresentar como um outsider, como em 2017. Na época, era alguém de fora do establishment, um "apolítico". Agora, exerceu o poder. Os americanos o conhecem - e o elegeram. Logo, Trump está chancelado também por um eleitor que deseja tê-lo de volta.
Outro ponto importante: o republicano assume com uma vitória geopolítica nas mãos, o acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas. Claro que o acerto é fruto de um esforço também da diplomacia americana, sob comando de Biden, mas Trump teve papel fundamental. Retorna ao poder com estatura elevada.
Além disso, terá maioria no Congresso. Ainda que frágil - dois senadores a mais do que os democratas no Senado e quatro deputados a mais na Câmara. Isso facilita a aprovação de projetos e dificulta eventuais processos de impeachment. E terá uma Suprema Corte mais conservadora.
Por último, retorna com apoio do empresariado americano - e, principalmente, das big techs. Trump tem a América corporativa na mão. _
A ausência de Michelle Obama
O ex-presidente dos EUA Barack Obama chegou sozinho à posse de Trump.
É costumeiro que ex-presidentes e ex-primeiras-damas compareçam ao evento. Bill Clinton estava acompanhado da esposa, Hillary.
George W. Bush, de Laura. Já Michelle não estava presente.
Essa não é a primeira vez que ela não comparece a eventos oficiais. Recentemente, esteve ausente no funeral do ex-presidente Jimmy Carter.
O escritório do casal emitiu nota confirmando a presença de Barack, sem explicações para a ausência de Michelle.
Ela sempre apresentou abertamente divergências com Trump e seus apoiadores, além de fazer campanha para a democrata Kamala Harris. _
Sem reações
Durante discurso, Trump anunciou: "Vou declarar emergência nacional nas fronteiras do Sul". Prontamente, a maioria do público se levantou, ovacionou-o com aplausos. Contudo, algumas pessoas não levantaram nem expressaram reações.
Entre os que permaneceram imóveis: Biden, Kamala, Bill e Hillary Clinton, George W. Bush e a esposa Laura, e Obama. _
De olho no Brasil
O ex-presidente Jair Bolsonaro não foi aos EUA acompanhar a posse de Donald Trump. Mas o bolsonarismo colheu alguns frutos. Em almoço com a comitiva brasileira de parlamentares que estiveram presentes, Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, afirmou que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, será presidente do Brasil.
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