Tensões à vista para o Brasil
Entre os assuntos da política externa que envolvem a volta de Donald Trump à Casa Branca, estão possíveis conflitos armados no continente americano, com respingos no Brasil.
O primeiro é a retomada do Canal do Panamá. O republicano já afirmou várias vezes antes da posse e na cerimônia o desejo de retomar o controle do local e disse que não deixaria de empregar forças armadas para isso. O segundo, na avaliação de analistas militares, é consequência do primeiro: a possível reação do ditador venezuelano Nicolás Maduro diante disso. Em 2023, Maduro insinuou anexar Essequibo, território que pertence à Guiana.
O jornalista Vitor Netto conversou sobre o tema com o professor Eduardo Svartman, doutor em Ciência Política e professor da UFRGS. O pesquisador avalia que, por enquanto, o discurso do novo governo dos Estados Unidos está focado em México e Panamá:
- É evidente que esse tipo de tensionamento na região não interessa ao governo brasileiro, porque cria instabilidade, que pode se desdobrar em algum tipo de conflito e, consequentemente, em refugiados e presença de potências extrarregionais. Nada disso interessa ao Brasil.
Svartman comenta que, até o momento neste mandato, Trump não falou sobre a Venezuela:
- É importante lembrarmos que, no outro governo Trump, houve uma tentativa de mudança de regime na Venezuela. O secretário de Estado dos EUA gravou um vídeo fomentando que as pessoas se rebelassem, enquanto o governo reconhecia aquele que os EUA identificaram como o legítimo representante do povo venezuelano. Houve movimentação nesse sentido, que acabou não sendo bem sucedida, não mobilizou tropas, mas não se pode descartar algo nesse sentido.
Reflexos no país
Sobre o território de Essequibo, o professor avalia como possível um cenário de conflito armado:
- É importante que tanto a diplomacia quanto a defesa no Brasil estejam acompanhando esses cenários e fazendo gestões para que a situação não se degenere. A Venezuela aparentemente ainda não está no radar de Trump, mas pode vir a estar, o que traria consequências para o Brasil para além do número de venezuelanos que, por causa da prolongada crise no país vizinho, busca uma vida melhor aqui no Brasil. _
Fórum da Liberdade
Expedição ao redor Antártica chega à estação brasileira
A Expedição Internacional de Circum-navegação Costeira Antártica chegou, na quinta-feira, à Estação Comandante Ferraz. Agora, a tripulação segue rumo ao Brasil, com a previsão de chegada na quinta-feira.
Na Estação Comandante Ferraz, sob responsabilidade da Marinha, desembarcou um pesquisador e também materiais de carga.
A expedição conta com mais de 60 tripulantes, de sete países. _
Entrevista - Roberto Uebel - Professor de Relações Internacionais ESPM-SP
"Há espaço para diversificar mercados"
As manifestações do governo Donald Trump nos EUA levantam mais preocupações geopolíticas do que econômicas na opinião do professor de Relações Internacionais Roberto Uebel, da ESPM-SP. A seguir, trechos de uma entrevista à coluna.
Que oportunidades o Brasil pode aproveitar a partir do provável acirramento comercial entre EUA e China?
Observando-se os dados do comércio exterior do Brasil para os Estados Unidos e a série histórica do primeiro governo Trump - entre 2017 e 2024 -, é possível ver que há setores que se pode priorizar na relação com os EUA ou buscar novos parceiros em detrimento de uma eventual imposição de tarifas. O Brasil tem uma relação de déficit comercial com os EUA, ou seja, importamos mais do que exportamos. Então, aquela fala polêmica de Trump, segundo o qual o Brasil depende mais dos EUA do que o contrário é uma meia verdade quando se fala da perspectiva comercial.
E em relação ao RS, na questão com a China, o cenário pode nos favorecer?
Para a China, sobretudo, exportamos soja. Para os EUA, temos um volume menor, mas com características mais diversificadas. Em 2024, os três produtos que o RS mais exportou para os americanos foram tabaco, armas e pastas químicas de madeira, que somaram valores de mais de U$ 500 milhões. É um valor muito menor do que os bilhões de dólares que exportamos à China. O RS também pode entrar nesse balanceamento, em eventual tensão comercial entre China e EUA. Há espaço para diversificar nossas exportações para outros mercados.
O Brasil corre o risco de estar nessa lista dos países sobretaxados por Trump?
Há risco, não diretamente ao Brasil, mas sim ao bloco do Brics. Trump não falou explicitamente sobre o Brasil, mas mencionou o bloco do qual fazemos parte, ameaçando que, caso o Brics adote outra moeda de referência para as transações comerciais, os países membros poderiam sofrer algum tipo de sobretaxação ou de tarifa extra por parte dos EUA. Não me parece que o Brasil especificamente esteja no radar dessa nova política comercial do governo Trump.
Do discurso de Trump, o que traz mais riscos ao Brasil?
O que me preocupa de fato são questões geopolíticas. Se o Brasil, seguindo o movimento de adotar uma outra moeda para as transações comerciais no Brics e sofrer pressão por parte dos EUA, isso pode prejudicar nossa balança comercial. Temos uma relação deficitária comercialmente falando com os EUA? Temos. Tanto o Brasil quanto o RS. Mas esse déficit vem diminuindo desde 2017. Então, mesmo durante o governo Trump, que lá atrás aplicou tarifas para produtos importados, conseguimos reduzir esse déficit. Hoje, essa relação consegue melhorar. Acho que as preocupações que temos neste momento são mais de ordem geopolítica ou geoeconômica do que preocupação puramente comercial. Porque se olharmos tanto o Brasil como o RS, exportamos produtos que eles tendem a consumir mais com a nova política do governo Trump. _
Colaborou Guilherme Jacques
INFORME ESPECIAL
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