25 de janeiro de 2013 |
N° 17323
EDITORIAIS
A CONTROVÉRSIA DA ENERGIA
É natural que a decisão
governamental sobre a redução das tarifas de energia provoque euforia entre
governistas e seja recebida com críticas ou com cautela por setores da oposição
e também por especialistas do setor. A medida deve representar redução de
custos para as famílias e as empresas, com menos impacto na inflação e, ao
mesmo tempo, estímulo à produção.
Há, no entanto, um desencontro de
opiniões em torno de várias questões, começando pela resistência de algumas
concessionárias de geração a participarem da engenharia financeira montada pelo
governo. Pela percepção do Planalto, reforçada no discurso da presidente Dilma
Rousseff na quarta-feira, as reações fariam parte de um boicote ao plano de
desconto nas tarifas, comandando por “aqueles que são sempre do contra”.
É uma definição simplificadora
demais para as manifestações provocadas não só pela redução. Mesmo que o
componente político quase sempre esteja presente no debate das deliberações
governamentais, a presidente sabe, como estudiosa da área, que nem todos os que
emitiram comentários a respeito do assunto são movidos por interesses
partidários ou ideológicos. As observações críticas levam em conta vários
fatores, entre os quais o de que o governo fez escolhas, e com altos custos,
para bancar a tarifa mais barata.
A diferença será sustentada pelo
desembolso de R$ 8,4 bilhões do Tesouro Nacional, numa operação ainda não
esclarecida.
Quando o debate envolve aspectos
estruturais do setor, amplia-se a desconfiança com a efetividade, no longo
prazo, de uma decisão que depende de pesados investimentos. Avaliações
técnicas, e não apenas políticas, têm alertado para o fato de que o Brasil não
investe, há pelo menos uma década e meia, o que deveria na geração de energia.
Tais avaliações apontam para a
fragilidade de um sistema de geração que se sustenta na diversidade das fontes
hidro, termo e eólica, mas com um equilíbrio cada vez mais precário. Tanto que
não foram poucos os casos de apagões enfrentados no atual governo, apesar da
afirmação da própria presidente da República, no pronunciamento desta semana,
de que “algumas pessoas, por precipitação, desinformação ou qualquer outro
motivo, tenham feito previsões sem fundamento” – ao referir-se à ameaça de
falta de energia.
Mesmo que não exista risco de
colapso no setor, análises sérias indicam que o Brasil pode, sim, enfrentar
problemas, se a economia voltar a crescer. Não seria uma situação inédita, mas
a repetição de panes, cada vez mais intensas e danosas. O esforço do Planalto
para desqualificar avaliações que contrariam seu otimismo não contribui para a
compreensão da realidade energética do país.