29
de janeiro de 2013 | N° 17327
TULIO
MILMAN
O depois e o
antes
Talvez
seja uma antinotícia. Talvez alguns leitores desanimem na segunda linha e nem
cheguem ao fim do texto. Paciência. O fato é que, na tragédia de Santa Maria, o
Estado foi Estado. Os atores principais: governo federal, estadual e
prefeitura. Me defendo de antemão. O elogio é baseado em fatos reais. Minutos
depois do incêndio, a coordenação de crise definiu suas três linhas de ação.
1)
Assistência aos feridos.
2)
Assistência aos familiares e amigos.
3)
Reconhecimento dos mortos.
A
partir daí, a máquina andou. Em poucas horas, a estrutura estava montada. Na
mesma área, um ginásio recebia os corpos. Ao lado, a transição para as
funerárias. No espaço mais amplo, a central de informações e o velório
coletivo.
A
atenção e a presença da presidente Dilma Rousseff foram fundamentais. Quando
saiu do Chile para Santa Maria, Dilma mandou um recado a sua equipe. “Façam
funcionar”. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, assumiu pessoalmente a
coordenação da sua área. Some-se a isso as presenças do governador Tarso Genro
e do prefeito Cezar Schirmer. Pouco mais de 24 horas depois do incêndio, a
Defesa Civil Nacional avisava: “Não está faltando nada, não precisamos de
doações”. Remédios, leitos, luvas, médicos, enfermeiras, assistentes sociais,
policiais, psicólogos. Em quantidade suficiente e nos lugares certos.
As
entrevistas iniciais foram cautelosas, sem omitir a verdade. Quem estuda gestão
de crise sabe que é fundamental manter a opinião pública informada. Investir na
frequência e intensidade da comunicação. Porque se as autoridades não falarem,
alguém vai falar. Prefeito, governador, ministro, comandantes da Polícia e da
Brigada estavam disponíveis para responder às questões da imprensa, muitas
delas ainda sem resposta.
Na
tarde posterior à tragédia, não houve registro de tumultos no ginásio
municipal. Um por um, os parentes iam sendo chamados. Acompanhados por um
psicólogo e por um policial, entravam no ginásio. Olhavam para o chão. E no
chão estavam os corpos. Na saída, atrás de um tapume grafitado, amigos e
familiares entendiam logo a reposta. E quase sempre a reposta certa era a pior.
O
calor de mais de 30ºC dentro do ginásio exigiu uma logística especial. Dezenas
de voluntários carregando caixas de papelão circulavam entre a multidão
oferecendo copos de água. Havia biscoitos e sanduíches. Alguém pode,
legitimamente, rebater: não fizeram mais que a obrigação. Fizeram sim. Mas é
certo que, quando as tragédias já aconteceram, deveria ser sempre assim.
Esse
texto, que começou com um elogio, termina com um desejo possível: que o poder
público copie a si mesmo e tenha, no antes, a mesma eficiência que teve no
depois. Leis claras e fiscalização que não poupe nem os amigos seria um bom
começo.
Então,
finalmente, não haveria mais o depois.