28
de janeiro de 2013 | N° 17326
PAULO
SANT’ANA
Oremos pelos
mortos
Ponhamo-nos no lugar dos familiares das vítimas da
inigualável tragédia de Santa Maria.
Cria-se
entre eles naturalmente um clima de revolta pelo acontecido. E é justamente em
torno disso que quero me fixar.
Um
dos impulsos naturais surgidos logo após uma tragédia dessas, a maior da
história gaúcha, é a do justiçamento moral dos proprietários de uma boate que
só tinha uma saída física e das autoridades responsáveis por licenciar para o
funcionamento aquele local fatídico.
Cumpro
alertar a imprensa gaúcha e a sociedade rio-grandense para que não se exerça
uma caça às bruxas pós-tragédia.
Tudo
tem de ser feito como manda a lei e o bom senso: a Polícia Civil apurará
prováveis responsabilidades, e a Justiça, serenamente, examinará os fatos,
decidindo sobre even- tuais autorias.
Ponho-me
no lugar dos cerca de 400 pais e mães das vítimas da tragédia. Hoje em dia,
sempre que um filho sai para a diversão noturna, os pais ficam com os corações
apertados de apreensão.
Esses
pais das vítimas de Santa Maria foram acordados na madrugada e souberam que
houve um grande incêndio na boate Kiss.Logo a seguir, constataram que seus
filhos não retornaram para casa.
A
seguir, tiveram um sofrimento inenarrável, primeiro porque pressentiram que
seus filhos poderiam ter morrido. Segundo, porque tiveram a tortura horrível de
se dirigir até o ginásio municipal e reconhecê-los e identificá-los,
carbonizados ou intoxicados.
Uma
dor incomparável. Qualquer pessoa que morra numa tragédia ocasiona uma
desolação, seja jovem, seja adulto, seja idoso.
Só
que em Santa Maria morreram centenas de jovens. E gente universitária, pronta
para estudar e formar-se, o futuro da nação. Mocidade estuante, livre para
estudar, formar-se e realizar a sua vida.
E,
como se viu, livres também para morrer. Morrer num braseiro ou numa câmara de
gás de uma boate trágica de uma cidade universitária.
Não
sei mais o que dizer. Sei que a vida implica risco de morrer a qualquer
momento. Mas esse momento escolhido pelo destino para sacrificar estes jovens
foi especial: era janeiro, decorriam as férias, tempo de alegria entre os pais
e os filhos.
E
sobreveio nesse tempo alegre e esfuziante a tragédia.
Só
resta que se tomem providências para que nunca mais isso volte a ocorrer. Que
nunca mais nenhum estúpido qualquer atire sobre o palco de uma boate um
sinalizador no rumo de um teto coberto de material inflamável.
Que
nunca mais se permita uma boate para grande público com uma saída só, além
disso, quando os jovens tentaram de início fugir por essa saída, os seguranças
da boate os impediram, imaginando que eles estavam saindo para não pagar a
consumação, já era madrugada e portanto a consumação seria grande.
Uma
tragédia, pior até porque foi entre nós e chamou a atenção do Brasil e do
mundo. Tomara que todos os jovens gaúchos que sobreviveram a essa tragédia
terrível um dia venham a chamar a atenção do Brasil e do mundo por grandes
feitos deles que ainda hão de vir.
Prontamente,
com rapidez impressionante, a presidente Dilma Rousseff e o governador Tarso
Genro dirigiram-se a Santa Maria e foram solidarizar-se com as vítimas fatais,
os feridos e seus familiares, confortando a cidade.
Tarso
Genro tinha ontem uma emoção acessória, Santa Maria é a cidade que ele adotou
para viver, estudou lá e fez carreira política também. Tarso nasceu em São
Borja, mas, como milhões de gaúchos, escolheu Santa Maria como sede de seus
estudos universitários.
Cada
um de nós tem algo a ver com Santa Maria, que é o centro geográfico do Estado.
Eu, por exemplo, me casei há 43 anos lá em Santa Maria, na Paróquia da
Medianeira, daí por que fiz muitos amigos naquela cidade. Fico ainda mais
tocado.
Os
jornais e a imprensa em geral estão classificando a tragédia de ontem como a
maior da história do Rio Grande do Sul.
Lembro-me
de tragédias aéreas ocorridas aqui, assim como o célebre incêndio nas Lojas Renner,
com muitas vítimas, na esquina das ruas Dr. Flores e Otávio Rocha, na Capital.