24
de janeiro de 2013 | N° 17322
L. F.
VERISSIMO
Agora sim
O
discurso de reposse do Barack Obama foi uma litania previsível de boas intenções,
como todos os discursos de posse, mas teve algumas novidades.
Nunca
antes na história, a palavra “gay” – ainda mais as palavras “nossos irmãos e
irmãs gays” – tinha aparecido num discurso inaugural. Barack, que minutos antes
fizera seu juramento com a mão esquerda em cima de duas Bíblias (outra novidade),
uma que pertencera a Lincoln e a outra ao reverendo Martin Luther King, para não
haver dúvida sobre o contexto maior da solenidade, incluiu o movimento “gay” entre
as minorias (negros, latinos, imigrantes) e uma maioria (mulheres) ainda
discriminadas.
E,
pela primeira vez na história, a questão ambiental, ignorada por presidentes
anteriores e pelo próprio Baraca até agora, mereceu mais do que duas ou três
frases no discurso.
Mas
a maior novidade de todas, e a mais politicamente relevante, foi a evidente
mudança no tom do presidente em relação ao seu discurso de posse anterior e ao
seu comportamento, moderado e conciliador, no primeiro mandato.
O
seu centrismo assumido decepcionou muita gente, apesar de ser uma óbvia manobra
para governar com uma oposição republicana majoritária no Congresso e em muitos
casos vitriólica. Mesmo com sua retórica convencional, o novo Obama, com as
outras novidades do seu discurso e com seu novo tom, deu o recado: agora vai
ser diferente. Agora vocês verão o Obama que todos esperavam há quatro anos. “Agora,
sim” poderia ser o título do discurso.
Os
republicanos continuam com maioria na Câmara dos Deputados e muitos dos novos
eleitos são da linha do Tea Party, ultrarreacionários dispostos a ser ainda
mais chatos. O presidente pode não cumprir a promessa do novo tom e decepcionar
outra vez, mas agora não precisa se preocupar com a reeleição e conta com a reação
dentro do próprio Partido Republicano à sua ala maluca, depois do fracasso do
seu candidato no pleito presidencial.
Armários
vazios
Entre
as bandas que participaram do desfile em frente à Casa Branca estava a “Lesbians
and Gays Band Association”, que escolheu um repertório de compositores
homossexuais. Entre eles, Leonard Bernstein e Aaron Copland. Os armários estão
todos sendo esvaziados, mesmo retroativamente. O que é formidável.