23
de janeiro de 2013 | N° 17321
PAULO
SANT’ANA
Ainda o presídio
privado
Por
toda parte aonde vou, as pessoas me abordam da seguinte maneira: “Tudo bem?”.
Entre
as pessoas que me abordam, existem pessoas que me conhecem, algumas até são
íntimas minhas, mesmo assim perguntam: “Como é, tudo bem?”.
Não
posso entender. Se me conhecem ou leem todos os dias minha coluna, como é que
ainda têm a coragem de me perguntar se vai tudo bem comigo?
Inicio
hoje uma campanha para que todos os que me abordarem na rua ou em qualquer
lugar o façam da seguinte maneira: “Estimo as melhoras”.
De
cara, já vão me desejando melhoras. É uma abordagem muito mais adequada e
compatível com a minha realidade.
É
que, quando me perguntam se está tudo bem comigo, me forçam a um
constrangimento: responder que nada vai bem e que, mais ainda, tudo piora a
cada dia que passa.
Uso
três espécies de colírio para os olhos: o apenas lacrimal, que reforça a
lágrima, o colírio com corticoide, que combate a secreção vinda do globo
ocular, e o colírio anestésico, para quando o oftalmologista vai examinar
detidamente os meus olhos.
Existe
uma expressão que significa uma mulher inteiramente linda: “Você é um colírio
para os meus olhos”. Depende do colírio que significa um olhar para a mulher. É
lacrimal, é com corticoide ou é anestésico?
Ia
me esquecendo de que uso um quarto colírio: para os ouvidos, que atualmente
combate os fungos que se criam em minha orelha média.
Digo
orelha porque os anatomistas impuseram à linguagem da medicina a extinção da
palavra ouvido, substituída por orelha. Temos agora, então, a orelha externa,
que é aquela orelha tradicional, temos a orelha média, um pouco adiante do
conduto auditivo, e a orelha interna, lá no fundo da cabeça, creio que nas
cercanias do cérebro.
Quanto
ao cerebelo, sobre ele não sei nada, nem sua função, quanto mais sua
localização.
Sempre
é bom lembrar, na polêmica inexplicável que cerca os presídios privados que
estão sendo instalados no Estado de Minas Gerais, a opinião do secretário de
Estado de Defesa Social daquela unidade federativa, Rômulo de Carvalho Ferraz:
“A polêmica é muito mais conceitual do que prática. Quem se opõe aos presídios
privados não tem a menor noção do que é o sistema prisional do país”.
E é
também oportuna a opinião de Luciano Losekann, coordenador do Departamento de
Monitoração e Fiscalização do Sistema Carcerário do Conselho Nacional de
Justiça: “Se o Estado desempenhasse o papel de carcereiro a contento, eu seria
contrário aos presídios privados. Mas o Estado não consegue isso”.
Além
de o Estado não resolver o problema carcerário, no meio gaúcho existe o
Presídio Central, que mostra condições medievais de hospedagem e tratamento aos
presos, com doenças espalhadas por 80% dos detentos.
Mas
aqui também não se instalam os presídios privados por birra de rivalidade: o
projeto foi iniciado no governo Yeda Crusius.