11
de fevereiro de 2015 | N° 18070
EDITORIAL
ZH
AS DORES DO PAÍS
O
sentimento da grande maioria, de que a presidente sabia dos desmandos na
Petrobras, deve ter a resposta de ações saneadoras, e não só de manifestações
de espanto.
Assessores
contam que a presidente Dilma Rousseff ficou particularmente ferida com um dos
muitos pontos negativos da última pesquisa Datafolha, em que 77% dos brasileiros
acreditam que ela sabia dos desvios da Petrobras. Isso dói, teria exclamado a
presidente, que considera a seriedade e a honestidade seus maiores patrimônios.
Deve doer mesmo ser alvo de desconfiança e rejeição.
Mas
a presidente tem que saber que a dor coletiva da nação é maior do que a sua, não
apenas por ver a degradação da maior empresa brasileira no redemoinho de corrupção
em que foi envolvida, por inoperância e omissão dos governos que a comandam,
mas também por constatar que o país está rumando para um precipício de
incertezas, com o retorno da inflação, com a economia estagnada e com sinais de
que, também politicamente, o governo perde apoio no Congresso e entre aliados.
Em
vez de lamentar a perda de popularidade, o que a presidente deve fazer para
atenuar sua própria dor e as dores do país é mostrar logo a seriedade e
transparência que alega possuir, agindo como estadista, condenando os corruptos
mesmo que sejam companheiros de partido e adotando medidas preventivas para que
os malfeitos não voltem a se repetir. Há expectativa, nesse sentido, com a
possibilidade de a presidente fazer um pronunciamento ao país depois do
Carnaval.
Estão
sendo previstas medidas de combate à corrupção, o que deve ser saudado com
cautela, porque seriam retardatárias em relação ao que acontece no país e
porque, desde a campanha eleitoral, a então candidata petista promete o
enfrentamento dos grupos que se apoderaram do setor público. O governo sempre
dispôs de organismos, de leis e de mecanismos internos de controle para pelo
menos conter parte da corrupção. Não foi, portanto, por falta de suporte legal
que o Executivo fracassou.
Há muito
essa situação é refletida pelo sentimento médio do brasileiro de que o governo,
em seus altos escalões, sabia das negociatas entre servidores da Petrobras e
empreiteiros. Tem-se agora, pela amostragem da Datafolha, a informação mais
dramática para o Planalto de que quase oito entre 10 consultados entendem que a
presidente tinha conhecimento da corrupção. É uma situação que somente será revertida
se o governo cumprir plenamente com suas atribuições no combate aos delitos
contra o Estado, como já vêm fazendo o Ministério Público e o Judiciário.