10
de fevereiro de 2015 | N° 18069
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Amizades definitivas
Amizade
vai além do momento. É comum ser amigo de contextos idênticos e se distanciar
com os hábitos diferentes.
Quando
você está solteiro, o normal é fazer cumplicidade com quem frequenta festas e não
se apega a uma relação. Quando está casado, o normal é criar laços com outros
casais e privilegiar jantares e viagens. Quando está com filhos, o normal é sair
com quem também está conhecendo as manhas e as longas manhãs dos bebês.
Amizade
verdadeira ultrapassa a normalidade e o oportunismo do convívio.
Estas
nem são amizades verdadeiras, mas afinidades circunstanciais. São colegas de
uma época, de uma fase, de um estilo. Acabam unidos provisoriamente por um
gosto, circunscritos a uma vizinhança etária. Desaparecem diante de nossa
primeira mudança, de nossa primeira transformação de personalidade.
Permanecem
quando há um interesse imediato, um arranjo benéfico do cotidiano, e somem
quando não existe mais uma desculpa para se ver e se ouvir. Dependem de um
pretexto para se manter próximos.
Os
conhecidos da academia ficarão no passado dos halteres assim que cansarmos dos
treinos. Os conhecidos da faculdade ficarão na lembrança do quadro-negro assim
que nos formarmos. Os conhecidos dos cursos de idiomas ficarão nos livros de
exercícios assim que dominarmos uma nova língua.
Amigo
mesmo é o que não experimenta uma fase igual e permanece junto. Quebra o
espelho e não se machuca com os cacos.
Amigo
mesmo é o que não tem filho e vem brincar com nossas crianças, não reclama dos
gritos e dos choros e não diz que “pela trabalheira, não pensa em ser mãe ou
ser pai tão cedo”. Não se justifica, está lado a lado qualquer que seja o cenário.
É aquele
que se separou e não amaldiçoa nossa paixão recente. É aquele que não tem
emprego fixo e não inveja o nosso sucesso. É aquele que não tem nenhum problema
grave e escuta com paciência e atenção as nossas lamúrias.
Não é
o de empatia fácil, feita de experiências semelhantes: só porque atravessa a
fossa entende a nossa fossa, só porque transborda de alegria festeja a nossa
alegria.
Amigo
não dá nem para contar nos dedos, pois sempre estará segurando nossa mão.