27
de fevereiro de 2015 | N° 18086
DAVID
COIMBRA
No Brasil tem
pastel
Acho
que não existe pastel nos Estados Unidos. Isso me deixa um pouco triste. Viver
num país sem pastel.
É
verdade que, mesmo sob o sol do Brasil, é difícil encontrar um bom pastel. Ou
eles são muito secos ou muito oleosos ou têm pouco recheio ou o recheio é
simplesmente ruim. Por isso, evito comer pastel em bares e assemelhados.
Falando
em assemelhados, aí está algo intrigante: o que é um assemelhado? Um lugar que
é quase um bar, mas ainda não chegou lá? Nunca ouvi alguém dizer: “Estou indo
ali no assemelhado da esquina, tomar uma gelada”. Eu, se tivesse um bar,
colocaria o nome de Bar Assemelhado.
Mas
voltemos ao nosso pastel. Os melhores pastéis são os que a minha mãe faz, mas
comida de mãe não conta – comida de mãe sempre é a melhor do mundo.
No
antigo refeitório da Zero Hora, quando tinha pastel, dava-se uma comoção.
Lembro que o antigo editor de dupla Gre-Nal, o Renato Bertuol Barros, comia
sete pastéis num único prato, junto com arroz e feijão, o que é uma combinação
deliciosa.
Sete
pastéis...
Uma
vez, eu e meu amigo Chico Camboim estávamos em São Paulo, em deslocamento para
o Rio. Íamos de ônibus, que os tempos eram de muita alegria e pouco dinheiro.
Paramos num assemelhado vulgar, no mais vulgar dos endereços: na frente da
rodoviária. O dono era um japonês. Japoneses são especialistas em pastel, então
tive a inspiração:
–
Que tal dois pastéis de carne e uma geladinha, Chico?
O
Chico topou e, cinco minutos depois, lá estava aquele pastel fumegante na minha
frente, um pastel inesquecível, o melhor que já provei em qualquer bar ou
assemelhado, e só não diria que foi um pastel inefável porque seria exagero, em
se tratando de um humilde pastel de japonês paulista.
O
certo é que nós nos repimpamos com nossos pastéis e pedimos outros e a cerveja
estava geladíssima, como jamais se encontra no lado de cima do Equador.
Era
um rasteiro bar de japonês em frente à rodoviária, nós só tínhamos umas poucas
notas amassadas nos bolsos, mas comíamos com gosto, comíamos rindo um para o
outro, e eram risos de amizade e brindávamos com nossos copos de cerveja gelada
e ríamos de novo, felizes com um pastel, apenas com um pastel, e com a vida.
Ah, os americanos podem ter tudo o que o dinheiro compra, mas eles não têm
pastel.