24
de fevereiro de 2015 | N° 18083
ECONOMIA
APOSENTADORIA
SE DEPENDER DO MINISTRO, É O FIM DO
FATOR
FÓRMULA
QUE SOMA a idade e o tempo de contribuição, já em discussão no Congresso,
poderia ser adotada para substituir regra atual
A
defesa do ministro da Previdência, Carlos Gabas, de trocar o fator previdenciário
para dar lugar a um novo sistema de cálculo para a aposentadoria, a fórmula 85/95,
desencadeou reações contraditórias entre especialistas e líderes sindicais.
Criado
no governo Fernando Henrique Cardoso em 1999, o fator surgiu com o objetivo de
desestimular as aposentadorias precoces – os trabalhadores estavam se
aposentando, em média, com 51 anos de idade. Acabou ganhando a antipatia dos
cidadãos por reduzir benefícios e prejudicar quem começou cedo na labuta.
Desde
então, a revogação da medida é uma das principais bandeiras das entidades que
representam trabalhadores no país. Em 2003, o senador Paulo Paim (PT-RS) chegou
a apresentar projeto de lei para extinguir o mecanismo. A proposta foi aprovada
no Senado, mas está empacada na Câmara até hoje.
Lá,
recebeu um complemento do deputado e relator Pepe Vargas (PT-RS), hoje ministro
da Secretaria de Relações Institucionais do governo Dilma, aderindo à nova
regra. A ideia, discutida desde então, é condicionar a aposentadoria integral,
para homens, a 95 anos (somando idade e tempo de contribuição) e 85, para
mulheres.
Em
entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo de ontem, o ministro da Previdência
Social, Carlos Gabas, reconheceu o fracasso do atual modelo por descumprir o
papel de retardar as aposentadorias. Gabas disse defender a fórmula 85/95 “como
base de partida” para um debate mais amplo. O ministro ressaltou ontem, em
entrevista à rádio CBN, que se trata de “opinião pessoal”.
Fonte
de polêmica entre estudiosos (leia na página ao lado), a defesa causou furor
nas centrais sindicais, embora nenhum detalhe tenha sido divulgado.
PARA
SINDICALISTA, IDEIA É DESVIAR FOCO
No
Estado, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Claudir
Nespolo, saudou a decisão e disse se tratar de “um bom início de conversa”. Cético,
o presidente da Força Sindical no Estado, Clàudio Janta, adotou outra linha,
mais dura. Ele suspeita de que o ministro esteja apenas tentando desviar o foco
das medidas negativas adotadas recentemente – entre as quais a redução de
direitos trabalhistas.
– O
governo Lula já havia sentado com as centrais sindicais e dado ok para a mudança,
mas, desde que Dilma assumiu, a coisa não andou – afirma Janta.
Há ainda
os que se opõem à alteração proposta, como Atnágoras Lopes, integrante da
executiva nacional da Central Sindical e Popular Conlutas. Lopes argumenta que
a nova fórmula obrigará as pessoas a trabalhar mais.
– O
que queremos é fim do fator e ponto – destaca Lopes.
juliana.bublitz@zerohora.com.br