24
de fevereiro de 2015 | N° 18083
EDITORIAL
Zh
TESE INSUSTENTÁVEL
Mais
importante do que saber quando começou a corrupção na Petrobras é contê-la. E
os governos petistas tiveram 12 anos para fazer isso.
Com
base numa declaração do ex-gerente-executivo de Serviços da Petrobras, Pedro
Barusco, setores do Partido dos Trabalhadores desenvolveram a tese
diversionista de que a corrupção na estatal teria começado no governo Fernando
Henrique Cardoso e que deveria ter sido investigada antes, impedindo sua ampliação.
Até mesmo a presidente Dilma Rousseff, em recente manifestação, fez questão de
enfatizar esse detalhe, como se ele atenuasse a responsabilidade do seu governo
no triste episódio. De tão ridícula, essa tese chega a ser ofensiva.
Realmente,
em depoimento prestado à Polícia Federal no dia 21 de novembro de 2014, o
referido delator confessou que começou a receber propina em troca da aprovação
de contratos entre os anos de 1997 e 1998. No mesmo depoimento, garantiu que o
PT recebeu, entre 2003 e 2013, entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões, como
comissão pelos contratos superfaturados. Apontou o tesoureiro do partido, João
Vaccari Neto, como intermediário dos pagamentos, que seriam destinados às
campanhas eleitorais de candidatos petistas.
Ora,
mais importante do que saber quando começou a corrupção na Petrobras é contê-la.
Os governos petistas tiveram 12 anos para fazer isso, inclusive durante o período
em que a própria presidente, na condição de ministra de Lula, ocupou a presidência
do Conselho de Administração da estatal, entre 2003 e 2010. Será que só agora,
entre o final do primeiro mandato e o início do segundo de Dilma, é que o Ministério
Público e a Polícia Federal conquistaram independência suficiente para proceder
à investigação?
A
desculpa de que “foram eles que começaram” até pode fazer sentido no debate
ideológico entre militantes dos dois partidos que vêm se revezando no poder,
mas fica patética na boca da presidente da República. Dela, o país espera uma
explicação mais consistente e mais responsável sobre a leniência administrativa
que levou a Petrobras ao desastre e sobre a participação dos partidos que lhe dão
apoio no deplorável episódio.
Mais
do que isso: da presidente da República, os brasileiros esperam menos discurso
ideológico e mais ação para combater a corrupção, incluindo- se aí o repúdio
inequívoco aos corruptos e corruptores, independentemente de suas ligações
partidárias.