23
de fevereiro de 2015 | N° 18082
L. F. VERISSIMO
Sadomasoquismo
Dizem
que era a piada favorita do Freud. Mulher para marido:
–
Querido, se um de nós morrer antes do outro, eu juro que não caso outra vez.
Freud
talvez também gostasse da piada que se tornou atual e relevante com a nova moda
de relações sexuais sadomasoquistas, popularizada nos livros e na adaptação
para o cinema dos tais Cinquenta Tons de Cinza. O sádico casou com uma
masoquista e os dois passam o tempo todo brigando.
A
masoquista:
– Me
bate. O sádico:
–
Não bato. A masoquista:
– Me
bate. O sádico:
–
Não bato. – Por favor, me bate!
–
Não bato. E assim pelo resto da vida.
Uma
vez, imaginei uma visita do Sacher-Masoch, escritor austríaco cujos gostos
deram origem ao termo “masoquismo”, ao Marquês de Sade, o escritor francês que
deu nome ao sadismo. Uma visita impossível de acontecer na vida real, já que os
dois não foram contemporâneos. Mas, na arte, ou pelo menos nas piadas, tudo é
permitido.
De
Sade oferece a Masoch:
–
Chá? Está fervendo.
–
Aceito, obrigado.
–
Vou lhe dar uma xícara.
–
Não precisa. Pode ser na mão mesmo.
–
Hmmm – diz De Sade. – Sinto que este pode ser o começo de uma bela amizade.
Falando
em sadismo, não quero assustar ninguém, mas já se deram conta de que, se o
golpismo que anda à solta conseguir empixar a Dilma, só um Michel Temer nos
separará do Eduardo Cunha na Presidência da República? A saúde do Michel Temer
passará a ser a principal preocupação da nação. Um espirro do Michel Temer, uma
palidez extemporânea, um leve enjoo pós- prandial colocarão o país em alerta.
O
perigo, se acontecer o pior, é a gente sucumbir à ideia de que o Eduardo Cunha
na Presidência não é mais o que este país merece. Uma espécie de masoquismo
fatalista.