01
de março de 2015 | N° 18088
COMPORTAMENTO
OS 40 DE OUTRAS ÉPOCAS
OS NOVOS SESSENTÕES
A
cada ano, cerca de 650 mil brasileiros chegam aos 60 anos. Para a Organização
Mundial da Saúde, é aí que começa a terceira idade, quando, oficialmente, eles
podem ser chamados de idosos. Na prática, a palavra gera desconforto.
Conhecidos
como baby boomers (nascidos entre 1945 e 1960), os sessentões de hoje estão
longe da ideia de aposentados que encaram a fase como o fim das atividades
úteis. Alguns se preparam para encerrar o ciclo do trabalho formal, mas
descansar não é um plano viável: para eles, chegar aos 60 significa abandonar a
idade cronológica e aproveitar o momento para realizar sonhos que tinham ficado
para trás. É chegada a hora de conquistar a vida que queriam ter. E o que
define a vida dos sessentões são liberdade e autonomia: 65% das mulheres nessa
faixa etária vivem sozinhas – eles são apenas 31% –, e 71% dos idosos
brasileiros têm independência financeira.
– Há
alguns anos, pensar na velhice era algo que acontecia só dentro das famílias,
era algo privado. Hoje, há uma atenção cada vez maior para a qualidade do
envelhecimento. Finalmente, o idoso é considerado um ator político, um
importante consumidor com espaço maior na sociedade – afirma Guita Grin Debert,
professora de antropologia na Universidade Estadual de Campinas.
Hoje,
há 23 milhões de pessoas com mais de 60 anos no Brasil. Esse número é 50% maior
do que na década passada. Proporcionalmente, as regiões Sul e Sudeste
concentram a maior parte dessa população. De acordo com o último Censo, das 20
cidades com maior proporção de pessoas com mais de 60 anos, 18 são gaúchas.
– Os
60 são os novos 40. A
OMS encara esse grupo como idosos e isso tem suas vantagens e desvantagens. É
bom porque garante direitos a um público que não era muito assistido. Ao mesmo
tempo, é ruim porque eles enfrentam preconceito. São vistos como velhos, mas
estão mais preocupados com a saúde, mudaram o estilo de vida porque querem
viver mais e ainda têm pique para continuar trabalhando – explica Newton Terra,
diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS.
Segundo
o IBGE, 27% dos idosos brasileiros continuam trabalhando – e isso inclui os
setentões e os longevos (pessoas com mais de 80 anos). A “cronologização” da
vida mudou. Para Guita, a idade é um sistema que padroniza a hora de iniciar a
escola e de se aposentar, por exemplo, mas que hoje exige flexibilização.
–
Estou com 63 anos e me preparando para a aposentadoria. Não é o fim da vida
útil, apenas quero ter mais tempo, depois de tantos anos de produção intensa,
para aproveitar outras experiências. Antigamente, a idade tinha conotação de
perda, de declínio. Hoje, são os ganhos que têm destaque na vida das pessoas
mais velhas – comenta a antropóloga.
Nas
próximas páginas, você vai conhecer as histórias de Maria Odete, Nanete, Sergio
e Milton (nas fotos, da esq. para a dir.), representantes dos novos sessentões
gaúchos.
GREYCE
VARGAS | ESPECIAL