sábado, 28 de fevereiro de 2015


01 de março de 2015 | N° 18088
COMPORTAMENTO OS 40 DE OUTRAS ÉPOCAS

OS NOVOS SESSENTÕES

A cada ano, cerca de 650 mil brasileiros chegam aos 60 anos. Para a Organização Mundial da Saúde, é aí que começa a terceira idade, quando, oficialmente, eles podem ser chamados de idosos. Na prática, a palavra gera desconforto.

Conhecidos como baby boomers (nascidos entre 1945 e 1960), os sessentões de hoje estão longe da ideia de aposentados que encaram a fase como o fim das atividades úteis. Alguns se preparam para encerrar o ciclo do trabalho formal, mas descansar não é um plano viável: para eles, chegar aos 60 significa abandonar a idade cronológica e aproveitar o momento para realizar sonhos que tinham ficado para trás. É chegada a hora de conquistar a vida que queriam ter. E o que define a vida dos sessentões são liberdade e autonomia: 65% das mulheres nessa faixa etária vivem sozinhas – eles são apenas 31% –, e 71% dos idosos brasileiros têm independência financeira.

– Há alguns anos, pensar na velhice era algo que acontecia só dentro das famílias, era algo privado. Hoje, há uma atenção cada vez maior para a qualidade do envelhecimento. Finalmente, o idoso é considerado um ator político, um importante consumidor com espaço maior na sociedade – afirma Guita Grin Debert, professora de antropologia na Universidade Estadual de Campinas.

Hoje, há 23 milhões de pessoas com mais de 60 anos no Brasil. Esse número é 50% maior do que na década passada. Proporcionalmente, as regiões Sul e Sudeste concentram a maior parte dessa população. De acordo com o último Censo, das 20 cidades com maior proporção de pessoas com mais de 60 anos, 18 são gaúchas.

– Os 60 são os novos 40. A OMS encara esse grupo como idosos e isso tem suas vantagens e desvantagens. É bom porque garante direitos a um público que não era muito assistido. Ao mesmo tempo, é ruim porque eles enfrentam preconceito. São vistos como velhos, mas estão mais preocupados com a saúde, mudaram o estilo de vida porque querem viver mais e ainda têm pique para continuar trabalhando – explica Newton Terra, diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS.

Segundo o IBGE, 27% dos idosos brasileiros continuam trabalhando – e isso inclui os setentões e os longevos (pessoas com mais de 80 anos). A “cronologização” da vida mudou. Para Guita, a idade é um sistema que padroniza a hora de iniciar a escola e de se aposentar, por exemplo, mas que hoje exige flexibilização.

– Estou com 63 anos e me preparando para a aposentadoria. Não é o fim da vida útil, apenas quero ter mais tempo, depois de tantos anos de produção intensa, para aproveitar outras experiências. Antigamente, a idade tinha conotação de perda, de declínio. Hoje, são os ganhos que têm destaque na vida das pessoas mais velhas – comenta a antropóloga.

Nas próximas páginas, você vai conhecer as histórias de Maria Odete, Nanete, Sergio e Milton (nas fotos, da esq. para a dir.), representantes dos novos sessentões gaúchos.


GREYCE VARGAS | ESPECIAL