Jaime Cimenti
Fla-Flu federal!
Sou
do tempo em que Flamengo x Fluminense, o Fla-Flu, era o "clássico das
multidões". Numa partida, o público beirou 200 mil, nos anos 1960. Agora,
sinto que o Brasil parece estar, politicamente, no Maraca, num Fla-Flu federal,
com dois times enormes digladiando. Briga de cachorros gigantes. Não digo que
estamos num Gre-nal federal, pois aí vão dizer que é bairrismo gaúcho. De mais
a mais, Gre-nal é um clássico de nível mundial. Nos últimos anos, com resultado
final previsível, como se sabe.
Pois
é, o Brasil está virado num grande Rio Grande, tipo assim, dividido. Nosso
Fla-Flu político federal tem final ainda incerto, nesse País onde até a
manchete de ontem é imprevisível.
Estou
na arquibancada, assistindo ao jogo, torcendo, sofrendo, dando palpites e me
metendo a técnico como todo mundo, propondo esquemas táticos, escalações e
jogadas. Como ocupo este espaço público, devo e quero contribuir com algo
positivo. Essa semana não me peçam para falar sobre dietas, shoppings, entrega
do Oscar ou comportamento social na era digital.
A
gente sabe que fora e dentro do campo está complicado conversar, mas é preciso.
É preciso calma nessa hora. O jogo vai se desenvolvendo, a bola rolando, as
jogadas se sucedendo para a direita, para a esquerda, para o meio, para a
frente e para trás, se é que ainda existem essas classificações. Um gol aqui,
outro ali, a bola voltando para o centro, como sempre. O juiz vai apitando,
decidindo, os bandeirinhas se empinam, levantam suas bandeirinhas e a coisa vai
seguindo.
Tem
jogadores de um time que estão jogando no time do adversário, tem jogadores de
outros times fora da dupla Fla-Flu que jogam no clássico, torcidas para cá e
para lá, democraticamente. Técnicos vão e vêm. Tem torcedores querendo anulação
do jogo, de olho em lances futuros. Quem disse que futebol e política são
simples? Jogos da vida, intermináveis.
Resta
torcer para o melhor ganhar, para que as regras sejam obedecidas. Nada de gol
de mão, mesmo que seja a mão de Deus. É pedir para Nossa Senhora Aparecida
abençoar este País e fazer as coisas se resolverem do modo o mais pacífico
possível. Violência e radicalismo não devem interessar a ninguém. Se interessam
para alguém, esse alguém certamente não nos interessa. Nossa população segue
pacífica e busca caminhos institucionais para o Brasil.
Tomara
que não haja quebra-quebra no final da partida, que não haja conflitos mortais
entre torcedores. Desde o primeiro dia, os acadêmicos de Direito aprendem que
não existe sociedade sem leis, ordem e Justiça. Não nos interessa a barbárie. Nossa
democracia é jovem. Temos muito o que aprender. Todos nós. Eleitores e eleitos.
Precisamos de uma federação que melhore a situação da maioria dos municípios e
estados, que vivem de pires na mão na capital federal. Precisamos de união em
torno dos interesses verdadeiramente nacionais. Sabemos que a desunião e as
divisões têm causado prejuízos.
Mesmo
antes do último apito e de eventuais manifestações da CBF e da Fifa, vamos
tentar dialogar ao máximo, unir esforços. Com certeza é o melhor para todos. Se
não for assim, os de fora tomam conta. Isso não queremos.
a
propósito...
Claro
que o humor e as piadas, que geralmente nascem em momentos difíceis, são
essenciais para a vida e para nós, brasileiros, em horas complicadas como essa.
Mas penso que levar tudo na brincadeira e exagerar no riso não é o melhor. É
preciso procurar limites. Na vida familiar, nos bares, restaurantes, praças,
nas redes sociais, shoppings e outros locais, não custa pensar duas vezes antes
de falar ou agir. O respeito é bom, as pessoas gostam e segue fortalecendo
parentescos, amizades e relações sociais e profissionais. Sei que parece
romântico ou ingênuo falar assim num mundo de egos tão inflados, mas é isso que
eu gostaria de dizer hoje.