quarta-feira, 16 de abril de 2025

16 de Abril de 2025
CARPINEJAR

Controvertida concessão do Dmae

Você quer se desfazer da sua casa, mas ela está com o mato crescido, infiltrações nos tetos, baldes espalhados por diferentes aposentos para conter goteiras, janelas e portas emperradas, num cenário de completo abandono.

Surgirão interessados? Só se for para destruir a residência e aproveitar o terreno. O mínimo de empenho corresponderia a cuidar do ambiente, resolver pendências, torná-la novamente habitável. Como se você fosse morar nela outra vez.

Não compreendo a pressa da prefeitura de Porto Alegre em propor uma concessão parcial do Dmae. Pelo projeto, a iniciativa privada se encarregaria da distribuição de água, ampliação das redes, coleta e tratamento de esgoto, além da cobrança das contas.

Nem passou um ano da pior enchente da nossa história, em que o Dmae foi o pivô da crise. Haja vista a recente tragédia humanitária, discutir a concessão de um serviço essencial como água e esgoto soa insensível e inoportuno. Não concretizamos sequer um empreendimento relevante para prevenir futuros alagamentos.

Em abril, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) ingressou com uma ação civil pública contra a prefeitura, solicitando uma indenização coletiva de R$ 50 milhões. O montante seria destinado a obras de adaptação climática, como parques lineares e corredores ecológicos. Também são requeridos ressarcimentos individuais para moradores e empresários dos bairros que deveriam ter sido protegidos pelo sistema de defesa contra cheias.

Identifica-se omissão por parte do Executivo ao não cumprir a manutenção adequada do Dmae, apesar de alertas sobre falhas nas casas de bombas e estações pluviais.

A enchente afetou mais de 160 mil habitantes em 46 bairros de Porto Alegre, incluindo áreas centrais e periféricas. O nível do Guaíba atingiu inéditos 5m33cm. Segundo o MPRS, o colapso não decorreu apenas de um evento de força maior, mas de erros graves de gestão.

A autarquia é alvo recorrente de críticas por precarização dos serviços e divergências administrativas. A cada tempestade, falta água.

E ainda assim se pretende terceirizar o setor, num modelo híbrido? A medida, claramente impopular, poderá resultar em aumento gradual de tarifas para custear investimentos - quando o básico não funciona.

Talvez o contribuinte termine pagando mais por uma prestação já deficitária. Que empresas ficariam atraídas por um negócio marcado por complexidade técnica, suscetibilidade política e incerteza jurídica?

Não duvido de que se repita o leilão vazio do Jardim Botânico. A fragmentação gera insegurança sobre a rentabilidade. A empresa privada dependerá do poder público, sem autonomia diante de desastres naturais em larga escala.

São temerárias, para qualquer investidor, a pressão dos custos operacionais e a imprevisibilidade. Evitam-se ativos em áreas com risco climático crescente, como a nossa. Tampouco se busca o dissabor de enfrentar congelamento da fatura ou dificuldades para aplicar reajustes.

Será que não aprendemos com a privatização da CEEE, há quatro anos? Esperava-se arrecadar bem mais, mas o valor obtido foi surpreendentemente baixo: R$ 100 mil pagos pelo Grupo Equatorial Energia, que assumiu um passivo superior a R$ 4 bilhões.

E a promessa na época, qual era? Lembra? Justamente a atual com o Dmae: melhorar os serviços. Hoje, grande parcela da população está descontente com a distribuição de energia. Com os apagões frequentes, mesmo sem chuva. Com a demora superior a 24 horas para o seu restabelecimento. Com a ausência de resposta nas comunicações.

Sempre que o caro sai barato, o barato acaba saindo muito mais caro. _

CARPINEJAR

16 de Abril de 2025
MÁRIO CORSO

Lobos mágicos

A startup americana Colossal Biosciences anunciou a recriação genética de um lobo extinto, o Aenocyon dirus. Trata-se de um lobo que extinguiu-se ao redor de uns 10 mil anos atrás. Aliás, como toda a megafauna da qual fazia parte. Através de técnicas de edição genética, a startup mostrou como resultado três filhotes. Dois machos, Rômulo e Remo (fundadores míticos de Roma alimentados por uma loba), e uma fêmea Khaleesi (personagem de Game of Thrones, série onde esses lobos aparecem).

Eles partiram do DNA de um lobo cinzento, o parente mais próximo do lobo extinto. Inseriram DNA fóssil de características como pelagem clara, mandíbula robusta e maior tamanho corporal. Conseguiram um fato e tanto para tão poucas inserções de trechos de DNA. Os filhotes correspondem ao que sabemos sobre o ancestral extinto.

A notícia despertou nossa imaginação, tanto que se iniciou um debate bioético sobre o fato e suas consequências. Eles realmente seriam a ressurreição do lobo extinto, ou um híbrido de lobo cinzento? O que farão com esses lobos se já não existe o bioma original onde viviam?

A ambição da Colossal Biosciences é recriar o mamute, o pássaro dodô e o lobo da Tasmânia. Paralelamente, eles criam lobos vermelhos para aumentar a diversidade genética, pois eles estão próximos à extinção pelo gargalo genético. Ou seja, baixa variação de genes por existirem poucos exemplares vivos.

Deixo aos biólogos a discussão sobre o que essa empresa cria e sua utilidade científica. Ou ainda, se tudo é um lance de marketing da empresa para arrecadar dinheiro.

Pessoas que geralmente não acompanham temas científicos ficaram inquietas com a notícia dos lobos recriados. Khaleesi, Rômulo e Remo mexeram no nosso sentimento de culpa pelo estrago que produzimos ao planeta. Sentimos sua vinda como uma tentativa de reparação. Destruímos, mas agora vamos consertar.

Estamos no terreno da fantasia, pois o impacto ecológico, até agora, está na promessa. Nós recebemos apenas notícias de animais sendo extintos. Que alguém nos diga que é possível reverter uma extinção, mesmo dentro de um contexto controverso como esse, cria a ilusão de uma convergência harmônica com a natureza. A realidade é bem outra. 

O conteúdo desta coluna reflete a opinião do autor

MÁRIO CORSO


Colecionador vende relíquias datadas do século 18

Apaixonado por cédulas, moedas e medalhas antigas desde a infância, Jonas Belé fez do hobby a sua profissão. Em sua loja na cidade de Cachoeirinha, ele possui itens raros, como uma moeda com o rosto da rainha Maria I, de Portugal, e o famoso patacão, do período da vinda da família real para o Brasil

Na principal avenida de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, uma pequena sala no segundo andar de um prédio comercial pode ser considerada uma verdadeira máquina do tempo. A loja Mundo Numismático abriga cédulas, moedas e medalhas antigas, datadas desde o século 18. Muitos itens à venda são raros.

O proprietário, Jonas Belé, 37 anos, tem um caso de amor pelas relíquias desde pequeno. Quando era criança, encontrou uma gaveta com cédulas antigas e começou a guardá-las. A coleção virou hobby e, há sete anos, o gaúcho resolveu gravar vídeos para o YouTube sobre o tema.

Ao longo do tempo, o colecionador começou a receber mensagens de pessoas que assistiam aos seus vídeos questionando se ele venderia algum dos itens. Foi quando percebeu que ali havia um mercado e largou sua distribuidora de biscoitos para criar a própria loja.

Numismática é, de acordo com o dicionário Michaelis, o "estudo sobre moedas e medalhas de todos os tempos e países". Mas, para Belé, é muito mais que isso.

- É como se eu fosse trabalhar com o amor da minha vida. Eu nunca considerei um trabalho. Sou um comerciante que não tem só um apego financeiro com isso, o meu apego com as moedas também é muito emocional - explica.

Processo de avaliação

Analisar as moedas que chegam, entender sua história e precificá- las não é uma tarefa simples, então Belé, que também tem uma coleção em casa, conta com algumas ferramentas para ajudá-lo.

Um microscópio digital que amplia a visualização de objetos em até mil vezes, paquímetro, luvas e catálogos com os valores. Todos os itens ficam em sua bancada na hora de realizar a minuciosa avaliação.

- Creio que todo mundo tem um lugar em que não sente dor. Se está passando por um problema, vai lá fazer uma costura, ou algum outro hobby, em que não lembra das dificuldades, onde esquece do mundo. E as moedas são esse espaço para mim. Eu passo quatro, cinco horas analisando alguma e, quando olho no relógio, penso: nossa, achei que só tinham se passado 10 minutos - descreve Belé. _

Produção: Elisa Heinski - Antigas, nem sempre raras

E para quem pensa que basta a moeda ser antiga para que seja considerada rara - e valha bastante - Belé explica que não é bem por aí. Existem diversas variantes para que um item numismático custe mais caro. No caso das moedas, as principais são a quantidade de cunhagens e o estado de conservação.

Cunhagem é o processo que grava os desenhos nas faces das moedas. É realizado na Casa da Moeda do Brasil. Quanto menor a quantidade de moedas daquele tipo específico cunhadas, mais raras elas são, portanto, valem mais.

Além disso, existem alguns indicadores de conservação das moedas. Entre eles estão, em ordem: MBC (muito bem conservada), SOB (soberba), que ainda tem o brilho da cunhagem, e FC (flor de cunho), impecável.

Para contabilizar todas essas variações, os catálogos são uma parte muito importante do trabalho. Existem diversos disponíveis. Um dos que Belé usa é o Livro das Moedas do Brasil, que precifica moedas desde 1643 até 2024.

Pequenas variações das moedas são apresentadas nesses livros. A quantidade de ramos de uma planta que aparece em alguma, variações no cabelo do monarca representado, tudo isso é contabilizado e organizado.

Por serem itens, normalmente, antigos, muitos dos que Jonas recebe em sua loja têm valor sentimental para os clientes. Ele conta que pessoas já o procuraram querendo vender moedas que eram de seus avós por preço caro, mas que não valiam tanto. Ele aconselha:

- O colecionador não compra sentimento. Eu não posso pagar na tua moeda R$ 2 mil, porque tu tens um sentimento que é do teu avô. Ela no mercado vale R$ 100. Nesse caso, tem que guardar. Guarda e não vende por dinheiro nenhum.

Peças valiosas e também carregadas de história

Uma das moedas mais valiosas que Belé possui na Mundo Numismático tem o rosto da rainha Maria I, de Portugal. A monarca governou o país entre os anos de 1777 e 1815, e o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves de 1815 até sua morte, em 1816. A moeda do colecionador é de 1796 e é a terceira que foi cunhada com o rosto dela. O valor desse exemplar varia entre R$ 7 mil e R$ 12 mil.

O patacão

Outra peça que brilha os olhos dos colecionadores é o famoso patacão. De acordo com o comerciante, o contexto em que essa moeda foi cunhada - ou melhor, recunhada - é o da vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808. Belé conta que uma das moedas que circulava informalmente pela colônia era o 8 reales espanhol. Para padronizar e legitimar sua chegada, dom João VI mandou recolher todos os 8 reales para recunhá-los.

A moeda que Belé tem é de 1825. Com a lupa, ainda é possível ver os resquícios da moeda base. Um patacão vale de R$ 500 a R$ 100 mil. O exemplar que Jonas possui custa cerca de R$ 1,5 mil. 



16 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

É o estúpido, estúpido!

Trata-se de uma das frases mais repetidas durante eleições e até mesmo no intervalo, para se referir à popularidade de um presidente: "É a economia, estúpido!". A expressão é atribuída a James Carville, estrategista político de Bill Clinton, durante a corrida presidencial de 1992.

Foi uma resposta sobre o motivo pelo qual Clinton derrotou George Bush (o pai!) e, com ele, décadas de domínio republicano na Casa Branca. Os americanos enfrentavam uma recessão sob Bush pai e votaram no democrata. A explicação? "É a economia, estúpido!".

Corta para 2025: o mundo se pergunta o que, afinal, o novo presidente republicano dos Estados Unidos está tentando fazer, chacoalhando o mundo e ameaçando transformar o que era opulência em seu oposto, a indigência.

Quer reindustrializar os EUA? Fazer caixa para cortar impostos? Evitar que a China se torne a maior economia do planeta? Ganhar dinheiro para si e seu grupo mais próximo? Destronar de vez os EUA como refúgio seguro para investidores?

Depois de tudo, a tese que está se consolidando é a de que "é o estúpido, estúpido!". Em nove dias, de 2 a 11 de abril de 2025, Trump transformou uma potência com problemas, mas ainda um alicerce do mundo, em adversário desleal de ao menos 185 países - todos os que foram alcançados pelas suas tarifas de altos 10% a ridículos 145%. Talvez uma exceção notável sejam as famosas Ilhas Heard e McDonald, porque os pinguins não devem ter se importado com a alíquota de 10%.

Precisou a China reagir com uma alíquota de 125% e avisar que pararia porque, acima disso, acréscimos não fazem sentido, porque o comércio simplesmente cessa.

E assim chegamos a esse momento, em que as duas maiores economias do planeta, em tese, não vão comprar e vender mercadorias entre si. Claro, é impensável. Claro, alguém terá de ceder. A China não parece disposta. Os EUA estão sob risco de perder seu status de porto seguro dos portos seguros.

A cada vez que são cobrados pelo caos instaurado pelo chefe, assessores de Casa Branca dão de ombros e alegam que as pessoas não souberam ler A Arte da Negociação, livro assinado por Trump que conta seus feitos no mercado imobiliário. Na "obra", a lição número 1 é "faça um pedido ridiculamente alto". Ou ignora que governar um país é diferente de negociar um imóvel ou, realmente, "é o estúpido, estúpido". _

"Ajuda" de Trump faz dólar reagir

Depois de encostar em R$ 6 há poucos dias, o dólar começou cautelosa trajetória de baixa, que se manteve até ontem. No meio da tarde, voltou a subir. Chegou a passar de R$ 5,90 durante o dia, mas fechou com alta de 0,67%, para R$ 5,891.

Conforme analistas, a mudança de direção do dólar se deve à expectativa de que os EUA façam alterações na alíquota de 25% aplicada sobre todos os carros fabricados fora do país.

Trump disse que está "pensando em algo para ajudar as montadoras". O dólar sobe porque seria um sinal de recuperação de alguma racionalidade no mais caótico processo de aplicação de tarifas da história. Com isso, algumas das perdas projetadas para essas empresas poderiam ser evitadas.

No entanto, o que se sabe é que a "ajuda" seria um desconto na tarifa baseado no percentual produzido nos Estados Unidos. As ações da Ford fecharam com queda de 2,68%, e as da GM recuaram 1,33%. _

Novo mercado 24 horas tenta a sorte na Capital

Um novo mercado 24 horas vai tentar a sorte em Porto Alegre a partir do próximo mês. Vários foram criados, duraram alguns anos, mas acabaram ou fechando as portas ou alterando a operação. A empresa responsável pela operação será a Uffa, criada em Cruz Alta. A rede pertence ao Grupo 2001, dono de postos de combustível.

A primeira unidade da Uffa na Região Metropolitana será na esquina da Avenida Protásio Alves com a Rua Francisco Ferrer, em frente ao Hospital de Clínicas. Fundada em 2022, a empresa tem 17 lojas no interior do Estado e prevê chegar a 20 já no próximo mês.

- Não temos pressa, mas fazemos as coisas em alta velocidade, como diz Abílio Diniz (um dos empresários mais influentes das últimas décadas). Não somos um supermercado, somos um mercado de proximidade, com lojas menores e 24 horas, onde o cliente vai fazer suas compras de maneira prática - afirma o diretor-executivo da Uffa, Rodolfo Martins.

A unidade de Porto Alegre, diz o executivo, vai oferecer todos os serviços tradicionais de mercado - alimentos, itens de hortifrúti, padaria, limpeza e higiene, mas com menor variedade. A loja de cerca de 120 m2 terá uma área para consumo de lanches. A abertura está prevista para o período entre 16 e 23 de maio.

O local ficará aberto 24 horas por dia. Em alguns horários, no entanto, o cliente não poderá entrar no estabelecimento: o serviço será realizado no modo pegue e leve. O atendimento vai ocorrer por meio de uma janela na porta principal em que o cliente poderá solicitar os produtos ao atendente.

Segundo Martins, ainda não há definição de horários, mas em outras unidades o sistema pegue e leve ocorre a partir das 3h. As lojas têm segurança reforçada no período noturno.

Martins diz que a Uffa estuda abrir mais uma unidade na Capital ainda neste ano. A rede não revela o valor de investimento nem a quantidade de empregos gerados a partir da expansão. _

Troca no comando da Gerdau

Ex-CEO da Gerdau, André Gerdau Johannpeter vai assumir o cargo de presidente do conselho de administração da siderúrgica com raiz gaúcha. A empresa tem operações nos Estados Unidos, onde atua em conexão com México e Canadá, independentes do Brasil.

Eleito durante a assembleia geral de acionistas, o executivo substitui o primo Guilherme Chagas Gerdau Johannpeter, que ocupava a posição desde 2020. Conforme a siderúrgica, a troca é parte do plano de alternância previamente programada.

André começou sua carreira na Gerdau há 45 anos, em Porto Alegre, atuando, desde então, como diretor de operações no Canadá e nos Estados Unidos, vice- presidente de metálicos, e vice- presidente executivo. De 2007 a 2017, atuou como CEO da Gerdau. Em 2018, como vice-presidente do conselho de administração.

Atualmente, André é presidente do conselho do Instituto Gerdau e membro do comitê executivo da Associação Mundial do Aço, além de integrar o conselho diretor do Instituto Aço Brasil e da Associação Latino-americana do Aço (Alacero) e a diretoria da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs).

Com a mudança, Guilherme passa a ocupar a vice-presidência do conselho de administração da Gerdau. 

Venda de imóveis tokenizados no RS

Uma transação de R$ 435 mil abriu um caminho no Rio Grande do Sul. A Auxiliadora Predial, uma das mais tradicionais imobiliárias gaúchas, fez a venda do primeiro imóvel tokenizado do Estado. A tokenização é a base do Drex, moeda digital do Banco Central (BC).

A movimentação teve a parceria da Netspaces, plataforma para criação, transação e gestão de propriedades digitais.

Apesar de ter os direitos digitalizados, o bem segue existindo na vida real. O apartamento vendido via tokenização fica no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. É avaliado em R$ 435 mil e tem 59 metros quadrados. A Auxiliadora Predial pretende vender ao menos mais nove imóveis tokenizados na Capital nos próximos seis meses, com previsão de atingir R$ 5 milhões em negociações. _

GPS DA ECONOMIA

16 de Abril de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Leite dá sinais de que irá para o PSD

Uma foto publicada no Instagram pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), na segunda-feira, reforçou a percepção de que o governador Eduardo Leite está a caminho do partido comandado por Gilberto Kassab. Na semana anterior, já havia chamado atenção uma foto de Leite com o governador do Paraná, Ratinho Júnior, que também é do PSD. Leite definiu o dia 30 de abril como limite para uma definição partidária.

Diante da perda de musculatura do PSDB nas últimas eleições, o governador e outros líderes tucanos vêm negociando uma alternativa. Nos últimos dias, tudo caminhava para uma fusão com o Podemos, partido comandado por Renata Abreu, que garantiu a Leite a preferência como candidato a presidente em 2024.

Como o PSDB é dividido em grupos, a fusão esbarrou em divergências regionais. Leite foi mais uma vez procurado por Kassab, mas desse encontro nada vazou - até porque o pacto de silêncio envolve os principais líderes tucanos e o presidente do PSD é um craque da discrição, que age nos bastidores.

Leite foi ao Rio para conhecer em detalhes a operação do Museu do Amanhã, inspiração para o Museu do Futuro, que será montado no Instituto de Educação, e aproveitou para visitar o amigo Eduardo Paes entre um compromisso e outro (ele também gravou uma entrevista com Roberto D?Ávila para a Globo News).

A foto com o prefeito seria apenas a foto de dois amigos que se visitam. Não foi porque se sabe que Paes é um dos maiores entusiastas da possível ida de Leite para o PSD.

Desejo é ser protagonista da eleição

Em 2022, Kassab tentou levar Leite para o partido, depois que ele perdeu a prévia no PSDB para João Doria. O governador optou por seguir no PSDB. Agora, Leite está sendo pressionado pelo tempo.

Ele quer chegar a 2026 como protagonista da eleição. Seu desejo confesso é ser candidato a presidente com um discurso contra a polarização, mas ele sabe que tudo depende de quem estará na disputa. Se o governador Tarcísio de Freitas for candidato, não haverá espaço para ele nos corações e mentes que não querem alinhamento com o presidente Lula nem com o ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje inelegível. _

Aliás

Se o movimento de concorrer a presidente não der certo, Leite deverá ser candidato ao Senado, o que até pouco tempo ele descartava. Atualmente, nas conversas internas, não descarta mais. Aos 40 anos, Leite ainda tem muitas eleições pela frente, mas sabe que quem não é visto não é lembrado.

E para ser lembrado em 2030 precisará de um mandato ou o recall de uma campanha presidencial.

Lula volta às origens em fábrica da Nissan no Rio

Como faz sempre que visita uma montadora de automóveis, o presidente Lula fez a alegria dos operários e ganhou beijos e abraços ontem em Resende, no Rio, onde participou do lançamento da nova Nissan Kicks.

Lula fez fotos com os trabalhadores e voltou aos tempos de sindicalista no ABC Paulista, falando em um megafone oferecido pela empresa.

O lançamento do novo modelo da fábrica japonesa, que chega ao mercado em maio ou junho, faz parte de um ciclo de investimentos de cerca de R$ 2,8 bilhões, anunciado em novembro de 2023, e que deve incluir a produção de mais um utilitário esportivo.

No ato, o vice-presidente Geraldo Alckmin citou o bom desempenho da indústria automotiva brasileira, que cresceu 9,7% no ano passado, enquanto a evolução média no mundo foi de 2%. Lembrou ainda que o Brasil vendeu 14,1% a mais de veículos em 2024, evidenciando o ganho de renda da população. _

Juliana Brizola deve ser candidata a deputada federal

Se o que impede a nomeação do deputado Eduardo Loureiro para a Secretaria da Cultura é uma garantia do PDT de que estará na aliança que tem o vice-governador Gabriel Souza (MDB) como candidato ao Piratini em 2026, ela veio na palavra do presidente do partido, Romildo Bolzan. À coluna, Romildo disse que o lançamento da candidatura de Juliana Brizola a governadora, na sexta-feira passada, foi "um ato espontâneo da Juventude do PDT".

- É claro que a gente entende a empolgação da turma com as pesquisas em que a Juliana aparece em primeiro lugar, mas o que vale é o que nós conversamos entre paredes. Juliana deve ser candidata a deputada federal - disse. _

Direção do MDB discute saída de Osmar Terra

O MDB cansou do jogo de cena do deputado federal Osmar Terra, que mesmo fechado com o PL há meses finge para uma parte dos eleitores que ainda pretende continuar no partido. Hoje, a executiva terá reunião extraordinária para discutir o caso do deputado.

Terra foi convocado para a reunião, mas ainda não confirmou presença.

A tendência é o MDB liberar o deputado antes da janela de março de 2026, para que siga seu caminho no PL, como já acertou com os deputados Giovani Cherini e Luciano Zucco. Liberar significa dar garantias de que o partido não reivindicará sua cadeira de deputado na Justiça, alegando infidelidade partidária.

Desde a pandemia, quando aderiu ao bolsonarismo, Terra se mostra mais alinhado com o bloco de direita no Congresso do que com o MDB.

O que o MDB ganha facilitando a saída de Terra? Livra-se de um inimigo na trincheira, que, apesar de sua longa história na sigla, comporta-se como um adversário. Nos bastidores, o argumento é de que o partido não dará espaço para Terra sair como vítima de perseguição interna. _

A dois anos da aposentadoria compulsória como ministro do TCU, João Augusto Nardes figura na lista de pré-candidatos do PP ao governo do Estado ou ao Senado. As andanças de Nardes pelo Interior indicam que o movimento está mais avançado do que imaginam os futuros adversários.

Vereadora sofre ameaça de morte

A vereadora Natasha Ferreira (PT) registrou boletim de ocorrência ontem, após receber ameaças de morte na noite anterior. A intimidação aconteceu por telefone, em ligação para o gabinete da parlamentar, com ataques de cunho transfóbico e político. Na chamada, um homem afirmou que mataria a vereadora e seus assessores. A vereadora avalia adotar medidas para reforçar a segurança de sua equipe e do gabinete. _

POLÍTICA E PODER

16 de Abril de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Cuidado, Trump! Até os impérios têm limites

Há um mundo antes e outro depois de 2008. A arquitetura que os Estados Unidos moldaram a sua imagem e semelhança pós-Segunda Guerra Mundial era assim: o sistema ONU era guarda-chuva institucional das relações internacionais, o Consenso de Washington servia como cartilha econômica liberal e o dólar garantia o lastro comercial.

Esse arcabouço normativo, especialmente após a derrocada do bloco soviético, serviu de alavanca para a globalização que levou Thomas Friedman a definir o mundo como plano, sem qualquer relação com terraplanismo, e fez Francis Fukuyama declarar o "fim da história".

Enquanto isso, a China hibernava. Entrou na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, mas permaneceu em baixo perfil à medida que acumulava capacidades intelectuais, econômicas e militares. Em 2008, quando a catástrofe financeira chegou - e boa parte do Ocidente colapsou -, o dragão saiu da caverna.

A China reapresentou-se ao mundo não só como modelo resiliente, mas como uma alternativa viável ao capitalismo tal qual o conhecemos, o tal "socialismo de mercado" ou "capitalismo de Estado", contendo todas as contradições que palavras como essa abarcam quando usadas juntas.

Corta para os EUA: colhendo os problemas do envolvimento em duas guerras simultâneas (Afeganistão e Iraque), vendo empresas migrarem para o Oriente em busca de mão de obra barata e inaugurando cemitérios industriais em antigas capitais dos tempos de pujança, o país elegeu Donald Trump em 2016, um empresário presidente que prometeu tornar a América grande de novo.

Não chega a ser novidade os EUA terem na Casa Branca um presidente mais isolacionista - ao contrário, são comuns ciclos de administrações mais fechadas, que minimizam a participação americana no cenário global, e outras expansionistas, fiéis ao mito de exportador da democracia. O que muda, no caso atual de Trump, é o método.

Espaço é preenchido

A Casa Branca trumpiana lança mão das tarifas em um momento em que rompe com aliados na Europa e na Ásia. Isso não só retrai a globalização como leva o mundo a olhar para os EUA com desconfiança.

Como em política não há vácuo de poder, os chineses buscam ocupar o espaço abandonado pelos americanos: exploram divisões e reforçam acordos com ex-aliados dos EUA. Fazem aquilo que se esperava dos EUA: o reforço da ordem que ajudou a erigir.

Assim, o autoritarismo se combate com democracia, a saída para crises comerciais deveria ser mais comércio. Os EUA deveriam fortalecer vínculos com parceiros comerciais, e não atrair a antipatia global. Afinal, até os impérios têm seus limites. _

COP30 cria grupos para debates

A organização da COP30 - Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima anunciou na sexta-feira a criação de quatro círculos de liderança voltados a alavancar temas-chave e apoiar assuntos centrais do evento, que ocorrerá em novembro em Belém (PA).

Balanço Ético Global - Será liderado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e pelo presidente Lula, com apoio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O grupo fará diálogos em diferentes regiões, reunindo lideranças políticas, culturais, indígenas, afrodescendentes, de comunidades tradicionais, empresários, religiosos, entre outros.

Círculo de Ministros de Finanças - Liderado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reunirá ministros e especialistas, além do setor privado e da sociedade civil, para discussões sobre financiamento climático. Ajudará na elaboração do Mapa do Caminho, com diretrizes para mobilizar US$ 1,3 trilhão anuais até 2035 para financiamento climático em países em desenvolvimento.

Círculo de Povos - Sob responsabilidade da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, tem por objetivo aumentar a representação de povos indígenas, comunidades tradicionais e afrodescendentes junto à presidência da COP30, além de garantir que conhecimentos tradicionais sejam integrados ao debate.

Círculo de Presidentes - Reunirá presidentes das COPs anteriores, a partir da 21ª edição, para fortalecer a governança climática global e acelerar a implementação do Acordo de Paris, adotado em 2015. Será comandado pelo ex-ministro de Relações Exteriores da França (2012-2016) Laurent Fabius. _

Jantar de 125 anos do Direito da UFRGS

Com presença de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), um jantar marcará mais uma etapa das comemorações de 125 anos da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Marcado para o dia 25 de abril no salão principal do Leopoldina Juvenil, o evento reunirá docentes, ex-alunos e personalidades jurídicas de destaque.

A comissão das festividades também propôs homenagear figuras de grande importância para a história e o desenvolvimento da faculdade.

Entre os homenageados que receberão a medalha dos 125 anos, estão professores, ex-docentes, desembargadores, ex- alunos e autoridades, como os ex-presidentes do STF, Ellen Gracie Northfleet, Rosa Maria Weber e Nelson Jobim. _

Entrevista - David Jacome-Polit

Head do programa de Desenvolvimento Resiliente no Secretariado Mundial do Iclei.

"Temos de pensar em soluções com o setor privado"

Em tempos de resiliência e busca por sociedades mais focadas nas pautas ambientais, o Iclei se destaca pelo trabalho em todo o mundo. David Jacome-Polit, head do programa de Desenvolvimento Resiliente no secretariado mundial da instituição, esteve no South Summit Brazil e conversou com a coluna.

A qual ponto administradores públicos devem se atentar na agenda ambiental?

Estamos vivendo em tempos sem precedentes. Temos alertas vermelhos em todos os lugares, mudanças climáticas e estamos quebrando ecossistemas. Quebrando o ciclo de água do planeta, e isso está colocando em perigo os sistemas fundamentais que permitem que a sociedade global cresça, seja segura e confortável. Estamos interrompendo tudo o que nos apoia como sociedade global para ter a qualidade de vida que temos. Você pode ver a mudança climática, o planeta sendo aquecido, os glaciares nos Andes se perdendo, o nível do mar subindo, basicamente colocando em perigo 60% das cidades do mundo. 

Isso tem consequências massivas na população mundial, mas também nas vidas das pessoas nas cidades. Isso coloca os governos locais em uma posição particular, porque são os que devem estar fazendo com que estejamos mais seguros. O segundo ponto é que não podemos esquecer os desafios atuais nas cidades. Temos de erradicar a pobreza, nos livrarmos da insegurança alimentar, e ter certeza de que todos têm acesso à educação, aos serviços de saúde e a cidades que não contaminam mais.

Há cidades que têm dificuldade de compreender essa agenda. Como mudar esse pensamento?

O que deve ser feito é usar o tipo de linguagem com a qual todos possam se relacionar. Se você vai lá e diz que o clima está ameaçando a todos nós, soa como algo muito distante, mas se mudarmos a linguagem e dissermos que temos de ter certeza de que precisamos estar mais seguros, viver em casas com qualidade, em espaços mais seguros, que precisamos ter acesso a sistemas de mobilidade, à educação, e que precisamos ter certeza de que estamos preparados para enfrentar eventos disruptivos, então você pode relacionar (o discurso) com o que está acontecendo. É sobre usar a linguagem certa.

Como o Iclei se relaciona com instituições, empreendedores e investidores?

Os tempos desafiadores que estamos vivendo exigem abordagem de toda a sociedade. Não é só o governo local ou o setor público. Você precisa de um setor privado engajado. A tecnologia, a inovação e a capacidade de pensar em soluções diferentes que o setor privado possui devem ser usadas para alcançar esses objetivos, de proporcionar soluções usando a tecnologia do jeito certo para facilitar os processos. Ou trabalhamos juntos, ou vamos continuar interrompendo os mesmos sistemas que suportam a nossa vida como uma sociedade global e vamos nos arrepender muito. _

INFORME ESPECIAL

terça-feira, 15 de abril de 2025


15 de Abril de 2025
CARPINEJAR

Pátria de chuteiras e costelão

Tenho saudade das churrascarias em nossos estádios, um diferencial de fidalguia e confraternização que reinou durante quatro décadas, dos anos 1960 aos 1990. No lado colorado, a Saci. No lado gremista, a Mosqueteiro. Ambas homenageavam os mascotes da dupla Gre-Nal. Vivia-se um duelo de espetos.

Clássicos do futebol cheiravam a assado. Os jogadores, naquela época, certamente atuavam com mais apetite e fome de gol - pois as chaminés espirravam fumaça, criando súbitas neblinas em campo.

Os torcedores chegavam cedo com a família para o almoço, e depois subiam para as arquibancadas. Já estavam fardados para a ocasião, jamais se atrasavam. A Saci foi um dos primeiros restaurantes do Brasil a oferecer espaço kids - isso nos anos 1960, com brinquedos e monitoria. Vingou como uma tradição familiar, um jeito de garantir que os pais comessem tranquilamente e acompanhassem a rodada em seguida.

Encontrávamo-nos com os ídolos humanizados em suas folgas, longe do uniforme esportivo e da postura de atleta. Apareciam palitando os dentes, gente como a gente, com o cinto aberto disfarçado pela camisa para fora: Falcão, Figueroa, Valdomiro, Caçapava, Dadá Maravilha.

A livre interação a partir do lazer também servia como pretexto para fisgar novos sócios, com tudo acontecendo nas redondezas. A gurizada tinha a possibilidade de frequentar o centro de treinamento, catando autógrafos e testemunhando as jogadas ensaiadas antes dos confrontos.

Capaz de atender 2 mil pessoas simultaneamente, a Saci agrupava não só colorados, mas também políticos, artistas, cronistas, adversários. Era uma espécie de senadinho, onde se colhiam notícias e fofocas dos bastidores.

Em seu salão, exibiam-se troféus recém-conquistados, assinavam-se contratos, renovavam-se passes - movimentos sempre regados à alegria da picanha sangrando.

Inaugurada como uma iniciativa do clube para arrecadar fundos destinados à conclusão do Beira-Rio, a Saci guarda histórias folclóricas. Para comemorar um título no torneio de base no início dos anos 1970 (o campeonato de juniores em São Paulo), a delegação colorada trouxe no avião um boi inteiro, acondicionado em um isopor gigante, para ser preparado no restaurante.

A Mosqueteiro não ficava atrás em importância e influência. Junto ao estádio Olímpico, contava com pista de dança, música ao vivo e agitação fervilhante dia e noite. O deus dos argentinos, Diego Armando Maradona, foi um de seus clientes mais ilustres. Em 1980, após um amistoso entre Grêmio e Argentinos Juniors, engordou alguns quilinhos por ali, abusando da localização privilegiada - vizinha ao vestiário do time visitante.

O mítico goleiro Danrlei realizou seu casamento no estabelecimento, aproveitando a infraestrutura que podia ser reservada para festas especiais e os serviços com bufê de frutos do mar.

Rumores sugerem que Ronaldinho fechou a conta de sua passagem tricolor naquele ambiente, numa tensa reunião entre a família Assis Moreira, empresários franceses e dirigentes do Grêmio, na qual se decretou sua despedida rumo ao Paris Saint-Germain, em 2001.

Suas paredes ouviam segredos e confidências. Suas paredes falavam de triunfos e façanhas.

Os corredores do local funcionavam como primeira calçada da fama para heróis gremistas. Antes de virar estátua, Renato Portaluppi cantou e dançou como nunca na vida, em cima das mesas, celebrando a vitória na Libertadores de 1983 contra o Peñarol.

Não deveríamos ter perdido esse charme, essa dobradinha imbatível entre coraçãozinho e coração, toalha de mesa e bandeira. Era a nossa pátria de chuteiras e costelão, nosso pago de rivalidade, flauta e brasa. 

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15 de Abril de 2025
OPINIÃO RBS

Desleixo com as ferrovias

A infraestrutura de transportes do Estado foi duramente atingida pela enchente de quase um ano atrás. Em diferentes ritmos, de forma mais célere ou demorada, os modais aéreo, rodoviário e hidroviário se recuperam. É bem diferente do que ocorre com as ferrovias. O cenário, que já era de desleixo, com o aumento paulatino de trechos em desuso, é de paralisia. A ligação por trilhos com o restante do país foi interrompida pela tragédia climática, e desde então a situação prossegue a mesma, sem providência da concessionária Rumo. Não é aceitável que o quadro de isolamento persista até o fim da concessão da malha à empresa, em 2027.

Um estudo encomendado pela estatal gaúcha Portos RS e divulgado neste mês mostra a queda gritante do volume transportado, os prejuízos à economia e a extensão cada vez maior de quilômetros negligenciados. Conforme o levantamento, a movimentação de carga caiu pela metade entre 2006 e 2023. No início da concessão, em 1997, a operadora (à época ALL) recebeu 3,8 mil quilômetros de ferrovias. No início do ano passado, somente 1,68 mil quilômetros estavam em operação. Após a tragédia climática, apenas 921 quilômetros, basicamente de Cruz Alta até o Porto de Rio Grande.

Até o volume de soja levado ao porto foi reduzido, na contramão do crescimento da produção agrícola. Caíram também as cargas de fertilizantes, que aproveitavam a viagem de volta dos trens para o Interior. Contêineres e produtos siderúrgicos não são mais movimentados. O transporte de combustíveis parou após as enchentes. O uso de rodovias encarece os produtos e, ao final, o consumidor paga mais nas bombas. Se existisse um investimento adequado na ferrovia, o custo do frete de grãos até Rio Grande, que recai sobre os produtores, poderia ser 22% inferior ao atual, sobre caminhões. Mais caminhões nas estradas tornam as vias mais perigosas. Há ainda o revés sofrido pelo setor de turismo, que ganhava força no Vale do Taquari com os passeios de trem.

As queixas em relação à concessionária são antigas, mas nada força a empresa a cumprir as suas obrigações. Na reunião em que o estudo foi apresentado, o representante da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) revelou que o órgão regulador já emitiu mais de 600 autos de infração devido à situação da malha sul - que, além do Estado, também engloba Santa Catarina, Paraná e partes de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

O Rio Grande do Sul tem, como um dos principais desafios, que elevar a competitividade da economia. A logística é fator crucial devido à distância dos principais centros consumidores do país. E as ferrovias, neste contexto, são essenciais para diminuir custos de transportes em distâncias maiores. Mas o cenário é de total desalento, apesar das reclamações de entidades empresariais e do governo gaúcho, que capitaneia uma tentativa de reverter esse quadro. Há previsão legal para que a concessionária devolva trechos ociosos e indenize a União por isso. Deve-se acelerar a pressão por esse caminho e outros que garantam investimentos e eficiência operacional para as ferrovias no Estado, sem precisar esperar o fim da concessão. 


15 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Sob Trump, EUA viraram mercado de risco?

Um artigo de opinião no Financial Times, a principal publicação econômica europeia, afirma: "Os Estados Unidos, sob Donald Trump, são um mercado emergente". Quem faz a afirmação é Rana Foroohar, americana que atua como editora associada do jornal britânico e também analista de economia da CNN.

Um texto editorial em The Wall Street Journal, referência americana em finanças, repete a formulação em forma de pergunta: "Existe um novo prêmio de risco para os EUA?". Como as nações obrigadas a pagar "prêmio de risco" para vender seus papéis são as emergentes, é outra versão da tese de Foroohar. A coluna sempre gosta de lembrar que o WSJ é do grupo de Rupert Murdoch, aliado de Trump. Hoje, é uma observação necessária.

As avaliações são baseadas nas dificuldades observadas na negociação de títulos do Tesouro americano, que até há poucos dias representavam o porto seguro dos portos seguros. Os papéis de longo prazo (T-Bonds de 30 anos) decolaram, indicando não só baixa procura como necessidade de remunerar melhor para captar - como fazem países como Brasil e México.

Taxas altas nos títulos do Tesouro significam que o governo americano está precisando pagar mais para que o investidor aceite comprar, o que é um sinal de desconfiança em relação à gigantesca dívida americana: US$ 36,7 trilhões, ou 122,6% do PIB. Ao precisar desembolsar mais para rolar o endividamento, ocorre com os EUA o mesmo que afeta Brasil (e a grande maioria dos emergentes): o débito também aumenta.

No foco das avaliações, também aparece o dólar. Para brasileiros, é mais desafiador ver a moeda americana sob questionamento porque, aqui, um dos efeitos do vaivém tarifário de Trump foi elevar a cotação. Ante moedas fortes, como euro, iene e franco suíço, porém, as "verdinhas" se enfraqueceram durante o vaivém de alíquotas e de produtos taxados. Ontem, porém, a cotação voltou a desinflar discretamente (-0,34%), para R$ 5,851 - ainda acima do patamar em que estava antes do tarifaço.

Não faltou quem tivesse visto intenção nesse efeito: seria desejo de Trump desvalorizar o dólar, mecanismo usado por emergentes para tornar suas exportações mais baratas. Se o objetivo era esse, o maior risco é de que seja atingido.

Sem a ancoragem do "porto seguro dos portos seguros", o dólar se deprecia ante moedas fortes e o mercado perde a referência de preços - de ações a derivativos, passando por títulos. O risco embutido é ainda maior do que a já tremenda ameaça de desaceleração global provocada por um tarifaço sem bases fáticas: uma impensável fuga de capitais dos EUA.

No meio desse debate, existe a especulação de que a segunda maior detentora de Treasuries no mundo - a China (o primeiro é o Japão) - esteja reforçando a desvalorização dos títulos que costumavam ser sinônimo de segurança.

- A China pode estar vendendo como retaliação às tarifas - disse à Bloomberg Kenichiro Kitamura, gerente-geral do departamento de planejamento e pesquisa de investimentos da Meiji Yasuda, de Tóquio.

Não é impossível, mas uma eventual venda maciça de Treasuries teria um custo alto para a China: a perda de reservas. _

Menor crescimento em empregos formais

O número de empregos formais ativos no setor privado no Rio Grande do Sul teve crescimento de 2,4% em 2024, o menor de todo o país. Segundo dados parciais da Rais 2024, do Ministério do Trabalho e Emprego, na média nacional, houve alta de 4%.

Todos os Estados tiveram mais vagas de emprego criadas do que fechadas no setor privado em 2024, movimento puxado sobretudo pelo crescimento da economia brasileira no ano, de 3,4%.

Especialistas afirmam que a enchente ajuda a explicar em parte a menor variação observada no RS, mas também há causas estruturais, como envelhecimento populacional, expansão menor da atividade econômica, endividamento do Estado e abalo da mudança climática no setor produtivo.

Conforme Kellen Fraga, professora da Escola de Negócios da PUCRS, há necessidade de relativizar o efeito da enchente. A cheia teve contribuição para setores crescerem menos em empregos formais, como indústria (0,5%) e agropecuária (0,8%). Por outro lado, em construção (6,5%) e serviços (3,6%), houve impacto positivo da reconstrução do Estado.

Adelar Fochezatto, também professor da Escola de Negócios da PUCRS, acrescenta que a maior vulnerabilidade do Estado a eventos extremos tem efeito migratório:

- A população tende a sair. E à medida que a população envelhece, diminui o empreendedorismo e muda o consumo. _

ANP vê "interesse" em petróleo gaúcho

As empresas inscritas para o leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) de 17 de junho sinalizaram interesse para todos os setores em oferta na costa gaúcha. Os 34 blocos disponíveis estarão na sessão pública do 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão. Ao todo, são cerca de 22 mil metros quadrados com possibilidade de exploração.

Em nota publicada ontem, a ANP afirma que há "interesse da indústria na continuidade do investimento exploratório" na Bacia de Pelotas. No leilão de dezembro de 2023, já haviam sido arrematados 44 blocos na região, e os vencedores foram obrigados a aportar ao menos R$ 1,56 bilhão.

Desta vez, 31 empresas estão inscritas para a sessão, entre as quais as quatro que já adquiriram blocos Bacia de Pelotas - Petrobras, Shell, CNOOC e Chevron. O leilão de 17 de junho também terá áreas da Margem Equatorial, que devem despertar maior interesse. Ao todo, serão ofertados 47 blocos da estreante e polêmica Foz do Amazonas, uma das bacias da Margem Equatorial, e 16 da Bacia de Potiguar. _

Dólar na Argentina sob "bandas cambiais". E agora?

A disparada é o efeito líquido, até agora, do acordo anunciado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que emprestou mais US$ 20 bilhões à Argentina com a condição de retirada do instrumento que amarrava operações internacionais. O acordo prevê que, nesta primeira fase, o dólar flutue entre o mínimo de 1 mil e o máximo de 1,4 mil. O plano é que, a cada mês, esse intervalo suba 1% - ou seja, em maio, o mínimo será de 1.010 e o máximo, de 1.414 pesos, e assim sucessivamente.

É uma tentativa de fazer uma saída ordenada do sistema que vigorava anteriormente, chamado "crawling peg", que prevê desvalorizações mais graduais. Vai dar certo? O sistema de bandas cambiais não tem bom retrospecto - também foi usado pela então Comunidade Econômica Europeia, embrião da União Europeia, entre 1972 e 1979. Se durar ao menos três anos, como no Brasil, ou até cinco, como na Europa, será boa notícia. _

Seleção para projetos de inovação

Além do investimento, os participantes selecionados vão receber mentorias e apoio para acesso ao mercado. A Imply oferece a infraestrutura de seu centro de inovação para desenvolvimento do projeto.

Os empreendedores e as startups selecionados serão anunciadas na próxima segunda-feira. Haverá outras três etapas até a decisão final de investimento. _

GPS DA ECONOMIA


15 de Abril de 2025
POLÍTICA E PODER  - Rosane de Oliveira

Melo avisou que privatizaria o Dmae

Ninguém pode dizer que foi enganado pelo prefeito Sebastião Melo em relação à concessão do Dmae. Todas as vezes em que foi questionado sobre, deixou claro que não via como manter o Dmae 100% público. Que sem dinheiro privado seria impossível cumprir o marco do saneamento, que prevê chegar a 2033 com 99% da população com acesso a água potável e 90% com tratamento de esgoto.

Melo usava um eufemismo, a palavra "parceirização", mas o vocábulo correto é concessão. A decisão agora é por uma concessão parcial - o Dmae segue captando e tratando a água e a empresa que vencer a licitação distribui a água e se encarrega do tratamento do esgoto, que hoje não chega a 50% em Porto Alegre.

Água e esgoto são serviços públicos, que os municípios podem explorar diretamente ou podem conceder a uma empresa pública ou privada. Por muitos anos, a maioria dos municípios concedeu à Corsan o direito de explorar a captação, tratamento e distribuição de água. O esgoto ficou para trás.

Com as exigências do marco de saneamento, o governo de Eduardo Leite vendeu a Corsan para a Aegea. A empresa é forte candidata a arrematar o Dmae, por conhecer o território, já atuar na Região Metropolitana e ter a expertise de operar serviços de saneamento em cidades grandes e complexas, como o Rio de Janeiro.

Nomeação de Vanuzzi era forte sinal

Quando Melo trouxe o procurador Bruno Vanuzzi para ser o diretor-geral do Dmae, ficou ainda mais claro que seu papel seria o de preparar a concessão. Vanuzzi é especialista em parcerias público-privadas. Foi secretário da área na gestão de Nelson Marchezan em Porto Alegre e do governo do Estado até receber um convite para trabalhar na Multiplan, empresa de shopping centers e construção civil.

Do outro lado do balcão, Vanuzzi era o interlocutor da Metroplan com a prefeitura no cumprimento das contrapartidas exigidas nos empreendimentos imobiliários. Conhece, portanto, os dois lados da moeda. 

Aliás

Ao cidadão não importa se a distribuição de água e o tratamento de esgoto são públicos ou privados. O que ele quer é água na torneira, com o mínimo de interrupções, e esgoto tratado, a preço justo.

Esse, por sinal, é um ponto de interrogação: quanto vai se pagar pelo serviço privado, se com o que arrecada hoje o Dmae não consegue fazer as obras que são necessárias?

Assembleia gaúcha adere à campanha Feminicídio Zero

O Salão Júlio de Castilhos ficou lotado, ontem, para acompanhar a adesão da Assembleia Legislativa à campanha Feminicídio Zero, do Ministério das Mulheres.

A ministra Cida Gonçalves falou para uma plateia majoritariamente feminina sobre o desafio de reduzir os feminicídios. A Assembleia gaúcha é a primeira do Brasil a aderir.

Com quatro feminicídios por dia, o Brasil ocupa a quinta colocação no ranking dos países que mais matam mulheres, apesar de todos os avanços dos últimos anos. _

Aposta em Juliana ameaça indicação de Loureiro para a Cultura

Estava tudo encaminhado para o governador Eduardo Leite formalizar a indicação de Eduardo Loureiro (PDT) para a Secretaria da Cultura. Na sexta-feira, porém, durante encontro regional em São Leopoldo, as bases do PDT, empolgadas com os resultados de pesquisas, lançaram a candidatura de Juliana Brizola ao Palácio Piratini.

- O PDT precisa se decidir se quer entrar em um projeto conosco ou prefere fazer carreira solo - diz um tucano próximo de Leite.

Leite está disposto a sacrificar a secretária Beatriz Araujo para levar Loureiro ao governo e, a partir daí, costurar aliança com Gabriel Souza (MDB) como candidato da situação. _

Novos cargos de desembargador

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) está preparando a apresentação de projeto de lei à Assembleia Legislativa pleiteando a criação de 30 cargos de desembargador. A mesma proposta extingue 45 cargos de juiz substituto de entrância inicial.

O parecer para que o projeto seja submetido ao Legislativo foi aprovado na quarta- feira pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O posicionamento é do corregedor nacional de Justiça, ministro Mauro Campbell Marques, que considerou o aumento no número de processos de 2º grau verificado nos últimos anos. Conforme o TJ, o crescimento foi de 132% entre 2020 e 2024, superior ao crescimento observado em outros grandes Tribunais do país.

De acordo com o TJ, a proposta não vai causar prejuízos ao 1º grau, visto que os cargos extintos não são utilizados. O projeto ainda não tem data para ser protocolado, mas não deve demorar.

Segundo o TJ, caso os 30 cargos sejam criados, o impacto financeiro será de R$ 19,2 milhões por exercício. _

Zucco tenta se aproximar do PP

Interessado em formar uma frente ampla de partidos da direita para a campanha de 2026 no Estado, o deputado federal Luciano Zucco (PL- RS) reuniu-se ontem com o presidente estadual do PP, Covatti Filho.

- PP e PL têm alinhamento nacional, seria muito positivo ter no Estado também - alegou.

Nos próximos dias, Zucco deve conversar com o presidente de honra dos progressistas, Celso Bernardi, e com o ex-governador Jair Soares. _

A primeira edição do Fórum Democrático na gestão de Pepe Vargas (PT) como presidente da Assembleia Legislativa trará a Porto Alegre o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, no dia 28 de abril. Será no salão nobre da Universidade Federal de Ciências da Saúde (UFCSPA).

POLÍTICA E PODER

15 de Abril de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Começou a batalha do Dmae

Ninguém deveria se surpreender com o processo de concessão do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), na Capital. Essa era a promessa de campanha do prefeito Sebastião Melo, e Bruno Vanuzzi foi alçado a diretor-geral da autarquia justamente com essa missão.

Esse processo, que promete ser uma queda de braço entre governo e oposição, começou oficialmente ontem, às 11h30min, quando Melo apresentou um esboço do projeto à base aliada.

A concessão do Dmae sem passar pelo Legislativo tem base legal - e possivelmente evitaria judicialização. Mas, diante de um assunto tão importante para uma comunidade, é melhor que seja submetido ao escrutínio do parlamento. Não se espera que a oposição facilite. Uma amostra da disputa ocorreu em fevereiro, quando adversários do governo conseguiram, por algum tempo, postergar a aprovação do projeto que alterou diretorias e retirou poder do conselho deliberativo, que passou a ser apenas consultivo.

Discussão com maturidade

O mínimo que se espera é que esse seja um diálogo maduro. Estamos falando da água que bebemos - e da qual reclamamos do gosto e do cheiro ruins a cada verão. Estamos debatendo captação e destinação de esgoto, um tema de saúde pública e fundamental para a proteção do ambiente. E estamos discutindo drenagem urbana, assunto que tem tudo a ver com evitar enchentes e alagamentos.

Pelo esboço de projeto apresentado pelo Executivo, será uma concessão parcial. A prefeitura fica responsável por captar e tratar a água potável, enquanto a distribuição fica a cargo do parceiro privado, que irá ampliar a rede e entregar ao cliente final. A concessionária também ficaria responsável pela coleta e tratamento de esgoto. O poder público manteria o controle do sistema de drenagem urbana. A perspectiva é de que o valor de outorga recebido do parceiro privado seja integralmente investido em obras de drenagem.

Pela relevância e alto interesse público do tema, precisa ser uma discussão técnica, desprovida de ideologias. Um serviço ser prestado pelo setor privado não é garantia de excelência - os exemplos de péssima qualidade após privatizações, como se sabe, são muitos. A população deseja água de qualidade, saneamento básico como direito e a certeza de que sua cidade não irá submergir novamente. Quem garantirá isso, se o poder público ou uma empresa parceira, é indiferente. Desde que a taxa não seja exorbitante, o dinheiro não escorra pelo ralo e haja fiscalização. _

Deportar "o maior número possível de imigrantes"

Em encontro, ontem, entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e de El Salvador, Nayib Bukele, o líder americano disse que pretende deportar "o maior número possível de imigrantes" para o país da América Central.

O republicano sugeriu que seu governo poderia auxiliar El Salvador na construção de novos megapresídios e referiu-se a Bukele como "um baita presidente", em tom de elogio.

Desde março, El Salvador já aceitou mais de 200 imigrantes venezuelanos. Eles são levados a um presídio destinado a terroristas. _

Esquerda perde de novo no Equador

O resultado das eleições deste domingo no Equador manteve o atual presidente, Daniel Noboa, à frente do país pelos próximos quatro anos. Com 56% dos votos, o candidato de direita derrotou Luisa González, de esquerda, que obteve 44% no pleito. O resultado marca a terceira derrota consecutiva do correísmo no país.

Apesar de não ser candidato, o ex-presidente Rafael Correa foi uma figura onipresente na campanha. Ele governou o Equador por uma década, entre 2007 e 2017. Contudo, foi condenado a oito anos de prisão por corrupção e, atualmente, é considerado foragido da Justiça, vivendo exilado na Bélgica desde 2020.

A primeira derrota do correísmo ocorreu ainda em 2021, quando o ex-banqueiro Guillermo Lasso foi eleito presidente. O representante da direita conservadora derrotou o economista de esquerda Andrés Arauz, então visto como o herdeiro político de Correa.

Em 2023, após Lasso dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições antecipadas para evitar um impeachment por acusações de corrupção, o correísmo sofreu sua segunda derrota. Naquela ocasião, Noboa e González se enfrentaram pela primeira vez, com o pleito terminando em 51,83% contra 48,17% para a candidata de oposição. Noboa tornou-se então o presidente mais jovem da história do país.

Agora, em 2025, os dois adversários se enfrentaram novamente, consolidando a terceira derrota da linha política de Rafael Correa. _

Xadrez político inalterado na América do Sul

Com o resultado do pleito no Equador, mantém-se o xadrez dos polos políticos dos presidentes na América do Sul.

A esquerda lidera oito nações na região, ante quatro países comandados por presidentes de direita. _

Áreas de mineração abandonadas no RS

Um estudo realizado pelo Instituto Escolhas - que desenvolve análises sobre temas para o desenvolvimento sustentável - sobre a recuperação de áreas de mineração apontou que, das 36.337 minas autorizadas no país, aproximadamente 3.943 (11%) podem estar abandonadas.

Estimativas

Desse total, 473 (12%) estão localizadas no território do Rio Grande do Sul.

A pesquisa, que utilizou dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), ressalta que os números são estimativas, uma vez que a própria ANM reconhece a falta de monitoramento adequado dessas áreas, que, na avaliação do instituto, deveriam passar por processos de recuperação.

O documento também traz propostas para recuperação de áreas degradadas. _

INFORME ESPECIAL

segunda-feira, 14 de abril de 2025



14 de Abril de 2025
CARPINEJAR

A quinta pergunta

Mal tenho tempo de ser marido: é Libertadores, é Brasileirão, é Copa do Brasil. É torcer pelo meu time em três competições e secar os rivais. Ou seja, minha média de jogos assistidos por semana tem sido oito. São duas horas na frente da televisão por partida - venho consumindo 16 horas semanais, ocupando a maior parte das noites de casa. Sobram apenas segunda e sexta-feira sem nada.

Para agradar à esposa, intoxicada pelo excesso de futebol - ela que não é fã do esporte e não possui um clube de estimação -, acabei me entregando a uma comédia romântica.

Simulei que era um favor, para ganhar alguns pontos. Nem isso era verdade. Corresponde a uma mentira social. Os homens põem a culpa nas mulheres, mas são apaixonados por um romance bem melado. Bem água com açúcar. Tanto que eles aguentam sempre até o fim. Nunca dormem. As mulheres dormem no meio do filme. Eles, não. Só não assumem. Alegam preferir aventura e pancadaria. Ah, tá. Vou fingir que acredito.

Mas como eu estava dizendo: vimos A Lista da Minha Vida, na Netflix.

Há algo muito interessante no enredo. A protagonista, para decidir quem é o seu amor definitivo, recebe quatro perguntas da mãe.

É um teste didático para determinar se anda de mãos dadas no caminho certo, se a intimidade é capaz de virar longevidade. Antes do altar, essas questões existenciais deveriam ser retomadas pelo padre, pastor ou oficiante.

A primeira pergunta: A pessoa é gentil? Não unicamente educada, mas gentil. Não só com você - mas com o mundo. Ela é acolhedora de modo geral? Como reage aos moradores de rua, aos trabalhadores do cotidiano, aos mais simples? Ela se mostra arrogante? Fura fila? Pensa exclusivamente em si? Quer obter vantagem em tudo?

Repare nas red flags, nos sinais de alerta. Não fique com quem se vangloria da violência na infância, com quem batia nos colegas, cometia bullying, machucava os gatos dos vizinhos sob o pretexto de que invadiam o pátio.

A segunda pergunta: Você consegue contar tudo para ela? Ela inspira confiança? Ou você seleciona o assunto com medo do ciúme ou da inveja?

O poder da confidência - de ouvir segredos e zelar por eles com o silêncio - é o que consolida a privacidade. Cuidado com quem repassa aos outros o que você falou reservadamente. Fofoca não deixa de ser pouco caso, pilhéria. Ela pode estar rindo publicamente de você, aumentando a sua vulnerabilidade - jamais protegendo as suas dores e mágoas.

A terceira pergunta: Ela desperta sua melhor versão?

Você se torna melhor para todos e para si mesmo a partir dela? Vem tocando projetos e sonhos, crescendo profissionalmente, encontrando-se com amigos e com familiares? Ou anda isolado, fugindo do contato? Relação que não dá espaço para os demais é indício de dependência.

A quarta pergunta: Você teria filhos com ela, formaria uma família?

Ainda que já tenha filhos ou que não deseje tê-los, trata-se de imaginar: essa companhia é compatível para dividir criação e responsabilidades? É possível recorrer a ela nas adversidades e nas alternâncias de humor da rotina?

No fim da enquete, Beatriz me analisava demoradamente. Na sala. Na cozinha. No quarto. Aquele olhar de lupa. Acho que eu passei raspando. Agradeci aos céus e aos cupidos que o futebol não é a quinta pergunta. _

CARPINEJAR