
18 de Junho de 2025
Mais uma guerra
Vivemos conflitos simultâneos: enquanto a guerra na Ucrânia torna-se crônica, o Oriente Médio afunda em nova escalada de violência. As outras guerras - como as da África (Iêmen, Sudão, Sahel, Congo) - seguem ignoradas pelo Ocidente, possivelmente por um racismo velado, que determina qual sangue merece ser noticiado.
Em paralelo, China trama invadir Taiwan, Índia e Paquistão trocam provocações bélicas, Armênia e Azerbaijão disputam territórios. Enfim, não parece um bom momento para a humanidade. Mas quando é que foi melhor?
Há uma contradição dolorosa no modo como nos encaramos. Criamos narrativas de um possível mundo pacificado, como se fôssemos anjos em vez de animais políticos. Basta uma crise geopolítica, um recurso escasso, uma fronteira contestada, para que a máscara da ilusão civilizatória caia.
A história, implacável, nos lembra que a violência organizada é uma constante. Preferimos nos ver como espectadores, não como agente. Acreditamos que a violência é algo que "os outros" praticam. Essa autoimagem tranquilizadora ignora que democracias financiaram ditaduras, venderam armas, traçaram fronteiras arbitrárias e apoiam golpes contra outras democracias.
A recusa em aceitar a guerra como parte da condição humana vem de um desejo profundo de transcendência. Queremos acreditar que somos melhores que nossos ancestrais, que a era das carnificinas acabou. O século 20 - com suas guerras mundiais, genocídios e bombas atômicas - já deveria ter nos curado dessa ilusão.
A sabedoria possível é encarar nossa natureza contraditória: somos capazes de compaixão e crueldade, de construir e destruir. A guerra não é um "erro" da humanidade, é um dos seus possíveis caminhos. Reconhecer isso não significa justificá-la, mas sim abandonar a infantilidade de quem acha que o paraíso terrestre é uma meta alcançável.
Desculpem o mau humor, mas é um desabafo de um psicanalista que assiste a ridicularização da psicanálise quando ela fala de pulsão de morte, pulsão destrutiva e autodestrutividade. Nos punem por insistirmos em nos olhar no espelho e encarar o que somos: não um ser angelical, mas um animal complicado, tentando sobreviver à própria capacidade de destruição.
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