
Três séries, um final
Se Cate Blanchett (56), Nicole Kidman (perto dos 58) e Julianne Moore (64) tivessem a idade que têm em outra época, é provável que já estivessem recolhidas à galeria de atrizes com grandes serviços prestados ao cinema que se tornaram literalmente invisíveis com o passar dos anos. A geração delas, que é também a minha, está envelhecendo diante das câmeras em uma nova posição, sem precisar se contentar com personagens com o sex appeal de uma poltrona.
Coloque nessa lista Adriana Esteves (55), Fernanda Torres (59), Andrea Beltrão (61) e Déborah Bloch (62) e temos um timaço de atrizes maduras provando não apenas que mulheres com mais de 50 anos continuam fazendo sexo (quem diria), mas que existem boas histórias para serem contadas em todas as etapas da vida. Sorte delas, sorte nossa.
Nos últimos meses, Cate, Nicole e Julianne emprestaram o prestígio de seus quatro Oscar (a primeira tem dois) a três minisséries com tramas muito parecidas - o que pode ser entendido tanto como um sinal de crise de criatividade na indústria quanto como uma coincidência que aponta para o espírito da época. Você decide. É impossível argumentar que O Casal Perfeito (Netflix, 2024), Disclaimer (Apple, 2024) e Sereias (Netflix, 2025) contam a mesma história sem dar spoiler, portanto pare de ler aqui se ainda pretende assistir a alguma delas. (Spoiler antes do spoiler: nenhuma é uma obra-prima.)
As três séries se passam naquele 1% de casas em que vivem os muito muito ricos, o que permite que Catherine (Cate Blanchett) de Disclaimer, Greer (Nicole Kidman) de O Casal Perfeito e Michaela (Julianne Moore) de Sereias desfilem seus figurinos vaporosos em cenários estupendos - as duas últimas inclusive na mesma ilha, Nantucket, ao norte de Nova York. As três histórias envolvem algum suspense (quem matou? quem morreu? quem vai morrer?) e orbitam em torno das idiossincrasias de uma mulher admirada, bem-sucedida na profissão, bem casada - e aparentemente capaz de cometer as piores vilanias para permanecer onde está.
Ou assim somos levados a acreditar. No final, descobrimos que a protagonista que parece ambiciosa demais e maternal de menos nada mais é do que uma mulher mais ou menos normal (descontando os milhões de dólares) que chegou a uma posição de poder - e o verdadeiro salafrário é o marido charmoso com quem elas dividiam a mansão. Moral da história: mulheres poderosas são sempre suspeitas, enquanto homens são inocentes até que se prove, muito bem provado, o contrário. E olhe lá.
Uma última coincidência bem pouco surpreendente: as três histórias que deram origem às séries foram escritas por mulheres. _
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