terça-feira, 17 de junho de 2025


17 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA  Marta Sfredo

Esta coluna contém informação e opinião

Em meio a conflito, dólar abaixo de R$ 5,50. Apesar do risco representado pelo confronto entre Israel e Irã para a economia brasileira - mais focado em inflação e juro -, o mercado financeiro no Brasil se comportou, ontem, como se não existisse. E o principal motivo é o resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em abril. Isso que não é uma sinalização tão clara: se por um lado veio bem abaixo do mês anterior, por outro ficou acima da expectativa para o mês. 

Por isso o dólar caiu 1%, para R$ 5,486, e a bolsa subiu 1,5%. Como nada está definido no cenário que se aproxima de uma guerra no Oriente Médio - nem a posição da maior potência militar do planeta -, o mercado escolheu "adivinhar" que haverá um cessar-fogo e que a desaceleração do IBC-BR pode evitar nova alta no juro na decisão de amanhã do Comitê de Política Monetária (Copom).

Sócio e economista chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal avalia que, de um lado, há uma política monetária já muito contracionista (elevada com objetivo de reduzir o ritmo da atividade) e várias incertezas no cenário internacional e, de outro, o mercado de trabalho apertado e o governo empenhado em sustentar a demanda agregada:

- É difícil saber qual das forças prevalecerá, mas uma desaceleração gradual da economia brasileira é um bom "chute educado". Os primeiros dados de atividade do segundo trimestre apontam para um desempenho mais ambíguo da economia.

O "chute educado" é uma versão à brasileira do "informed guess", ou seja, um palpite dado com base em conhecimento e informação.

Um dos sinais de que o mercado escolheu acreditar em uma parada no juro é a valorização de ações de empresas dependentes do mercado interno, como Magazine Luiza, que decolou quase 7%, e Assaí, que disparou próximo a 4%.

Ainda não se trata de consenso. Sara Paixão, analista de macroeconomia da InvestSmart XP, está entre os que ainda veem possibilidade de alta na Selic:

- No último comunicado, o Copom sinalizou como risco baixista a preocupação com redução na atividade econômica mais forte. Porém, os últimos dados de atividade econômica e mercado de trabalho reduzem esse temor, o que leva à expectativa de mais um aumento de 0,25% essa quarta. _

E haddad?

Em meio à batalha do rombo fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tirou férias. A "gestão" do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ficou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem explicitou queixas sobre a demora do pagamento das emendas parlamentares. Ontem, Motta se reuniu ainda com os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

Enquanto ninguém sabe para onde vai o preço do petróleo, o Brasil faz hoje novo leilão de exploração, que inclui pela primeira vez áreas na Foz do Amazonas. A dúvida é se vai eclipsar ofertas na Bacia de Pelotas no litoral gaúcho.

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Brasil um pouco mais competitivo

Não é óbvio, mas aconteceu: entre os 69 países analisados no Anuário de Competitividade do IMD Business School, o Brasil subiu quatro posições neste ano. O país, que estava em 62º lugar em 2024, neste ano foi para o 58º. É o melhor resultado desde 2021 e reflete avanços em áreas como desempenho econômico e eficiência empresarial.

O topo das cinco primeiros colocações tem Suíça - que assumiu a liderança agora, subindo da segunda posição no ano passado - Singapura, Hong Kong, Dinamarca e Emirados Árabes Unidos. No último posto, está a Venezuela.

O que levou o Brasil a galgar quatro postos foi a melhora em aspectos como fluxo de investimento direto estrangeiro (5º no ranking geral), crescimento de longo prazo de emprego (7º), subsídios governamentais (6º), atividade empreendedora (8º) e energias renováveis (5º). Por outro lado, as exportações de serviços comerciais (67%), a mão de obra qualificada (68º), a educação primária e secundária (69º), as habilidades linguísticas (69º) e a dívida corporativa (68º) impediram desempenho ainda melhor.

O IMD World Competitiveness Index está na 37ª edição. No Brasil, é feito em parceria com o Núcleo de Inovação, IA e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC). Permite analisar e comparar esforços de competitividade, orientando governos e empresas na identificação de áreas estratégicas e no aporte de recursos e implementar melhores práticas. _

Ranking dos países

1º Suíça

2º Singapura

3º Hong Kong

4º Dinamarca

5º Emir. Árabes Unidos

6º Taiwan

7º Irlanda

8º Suécia

9º Qatar

10º Países Baixos

58º Brasil

59º Botswana

60º Peru

61º Gana

62º Argentina

Fonte: IMD World Competitiveness Ranking 2025

Israel não tem armamento para destruir o arsenal nuclear do Irã.

João Miragaya - Historiador e assessor do Instituto Brasil-Israel, sobre a ambição inalcançável de eliminar a ameaça atômica que foi pretexto para os ataques que começaram no dia 13.

Novo incentivo em debate

Representantes do setor químico vieram ontem a Porto Alegre para debater na Assembleia Legislativa do Estado projeto de lei que institui o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química. É prevista a concessão de créditos financeiros de até R$ 5 bilhões por ano entre 2027 e 2029 para aquisição de matéria-prima, ampliação de capacidade produtiva e modernização tecnológica. _

Um impacto que Trump busca evitar

Depois de quatro dias de conflito provocado pelo ataque de Israel ao Irã, o contrato para entrega em agosto recuou ontem 1,3%, para US$ 73,23. Entre a ameaça de Donald Trump de colocar os Estados Unidos na guerra e a informação de que teria vetado o assassinato do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, o mercado tenta crer na racionalidade do atual ocupante da Casa Branca. O que pode de fato frear Trump é a chegada do verão.

É que nos EUA, o período também é conhecido como "drive season", ou seja, a "estação de dirigir". É quando milhões de americanos pegam seus carros e percorrem o país nas férias de verão. Nos EUA, qualquer aumento no petróleo é repassado de forma imediata aos preços dos combustíveis. Já sob risco de aumento da inflação pelo tarifaço, a alta pode ocorrer de fato por outro tipo de impacto.

- O petróleo está entrando em pico de demanda nos EUA e buscarão sinais de estabilização. Por enquanto, o conflito parece estar contido. Vemos os preços do petróleo limitados abaixo de US$ 80 por barril - avalia Mukesh Sahdev, líder global do mercado de petróleo da consultoria Rystad Energy.

Um dos motivos da disparada do preço foi o temor de que o Irã fechasse o tráfego no Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do volume total de petróleo que circula no mundo.

- O fechamento de Ormuz embute risco de forte escassez de oferta, sustentando preços e a tensão. Dado o interesse em manter os preços perto de US$ 50, os EUA poderiam ter papel estabilizador - reforça Janiv Shah, vice-presidente de mercado de petróleo da Rystad. _

GPS DA ECONOMIA

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