quinta-feira, 5 de junho de 2025


05 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Aposta de acordo com UE e risco de "passar boiada"

A amizade-quase-amor refletida nas famosas fotos de março de 2024 entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente francês, Emmanuel Macron, pode ser desafiada na passagem do chefe do Executivo brasileiro na França. Lula tem expectativa de discutir, entre outros pontos, o avanço do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE).

E não é só porque Macron e os franceses em geral rejeitam a negociação: Brasil e UE seguem em frentes opostas na legislação ambiental, o que tende a dificultar o avanço do acordo, mesmo em sua versão focada apenas em trocas comerciais.

Enquanto o Senado brasileiro abria a porteira para a boiada, a UE apertava suas regras ambientais. Literalmente: foi publicada pela Comissão Europeia em 22 de maio - um dia depois de o Senado aprovar a "flexibilização" - uma nova lista que classifica países, para efeitos de comércio, conforme o risco para o desmatamento.

É mais um capítulo do Regulamento sobre Produtos Livres de Desmatamento (EUDR, na sigla em inglês), que proíbe a importação de madeira, soja, carne bovina, cacau, café, óleo de palma, borracha e derivados com origem em países que tenham desmatado, de forma ilegal ou mesmo legal. Sem novo adiamento, começa a valer em de 30 de dezembro de 2025.

Nessa classificação, o Brasil recebeu o selo de "risco padrão", o mesmo de países como Indonésia, Malásia, México e Argentina. As outras categorias são "risco baixo" e "risco alto" - nesse último, está enquadrada a Rússia, por exemplo.

Os importadores europeus que comprarem de países de "risco baixo" devem ter menos custos operacionais, porque as obrigações de compra serão simplificadas. Países "padrão" ou de "risco alto" estarão sujeitos a uma camada adicional de controle, com mais custos, portanto menor atratividade.

Presidência brasileira

Lula, que deseja avançar com o acordo durante a presidência do Brasil no Mercosul, a partir de julho, até teve oportunidade de mostrar maior aderência ao compromisso ambiental. Na mesma entrevista em que não fechou a porta para medidas fiscais estruturais que antes havia vetado, o presidente foi perguntado sobre eventuais vetos ao projeto do Senado. Preferiu se omitir, sem lançar pontes ao interlocutor de hoje:

Não conheço as regras ainda. Isso vai chegar para eu analisar. Deve ter chegado na Casa Civil, quando chegar a mim eu digo se concordo ou não com as regras.

Se é verdade que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está favorecendo até alianças heterodoxas com sua tática "America alone" em vez de "America First", é preciso desconfiar que será necessária uma paixão avassaladora para perdoar um candidato a parceiro que não tem afinidades ambientais. _

Empresa de cruzeiros assume controle de terminal

Pouco mais de sete meses depois de anunciar a venda de controle para a MSC por R$ 4,35 bilhões, a Wilson Sons informou ontem a finalização da operação. No Estado, a empresa operava o Terminal de Contêineres do Porto de Rio Grande (Tecon) e o Terminal Santa Clara, que funciona no polo petroquímico de Triunfo.

Com a mudança, a SAS Ship- ping, subsidiária do grupo suíço MSC, passa a deter 68,39% de participação na Wilson Sons. Conforme comunicado oficial, a "aquisição do controle da Wilson Sons está alinhada à estratégia de expansão e consolidação da presença da MSC na América Latina, em especial no Brasil".

Fundada em 1970 e com sede na Suíça, a MSC tem cerca de 900 navios e 200 mil funcionários. O grupo é conhecido pelos cruzeiros, com opções de viagens para Caribe, Alasca e Dubai. A subsidiária SAS Shipping tem sede em Luxemburgo.

Após a compra, a SAS Shipping vai apresentar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) oferta pública pelo restante das ações da Wilson Sons, para fechar o capital da empresa. _

Taxa de 50% no aço agrava "invasão"

A confirmação do até então ameaçado novo tarifaço de 50% sobre as importações de aço e alumínio nos EUA tende a agravar o que a indústria siderúrgica chama de "invasão chinesa" no Brasil. As medidas de defesa adotadas até agora são consideradas insuficientes e, por isso, há expectativa de medidas adicionais.

Poucas horas antes da oficialização da nova taxa, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) anunciou a decisão de investigar dumping (venda abaixo do preço de mercado) na venda de aço da China ao Brasil.

Sinaliza intenção de adotar mecanismos mais robustos de defesa comercial. Na semana anterior, havia sido renovado e ampliado, de 15 para 25 tipos de aço, o sistema de cotas e tarifas considerado insuficiente ou, nas palavras do CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, "totalmente ineficaz".

Embora a Gerdau seja a siderúrgica brasileira menos impactada pelo tarifaço, por ter unidades de produção nos EUA, tem sido a mais mobilizada na cobrança de medidas adicionais de defesa no Brasil. ArcelorMittal e Ternium são as consideradas mais vulneráveis, mas CSN e Usiminas também enfrentam impacto. 

Mudança de endereço após cheia

Um ano depois de ter sido invadida pela água, a multinacional francesa Sodexo muda de sede em Porto Alegre. A nova unidade começou a funcionar na terça-feira, no Carlos Gomes Square, novo empreendimento em avenida de mesmo nome. O antigo escritório ficava perto do aeroporto Salgado Filho e não era acessado pelos seus cerca de 380 funcionários desde a enchente.

O grupo francês teve faturamento de 23,8 bilhões de euros no ano fiscal de 2024, crescimento de 7,9% em relação ao período anterior. O Brasil é o quarto mercado mais importante para a empresa. No Rio Grande do Sul, a Sodexo atende 85 clientes. _

GPS DA ECONOMIA

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