sexta-feira, 13 de junho de 2025

A nova África de Magatte Wade
Jaime Cimenti

Quase sempre quando se fala em economias frágeis, países subdesenvolvidos e populações vulneráveis do planeta questões como colonialismo, corrupção, má liderança, falta de habilidades ou educação são colocadas. Muitas vezes, as soluções apontadas para o desenvolvimento envolvem revisão do passado, ajuda, caridade ou educação.

Uma nova África - Como impulsionar o crescimento em economias frágeis superando a narrativa de inferioridade (Avis Rara - Faro Editorial, 192 páginas, R$ 54,90), de Magatte Wade, empreenderora senegalesa, diretora do Center for African Prosperity da Atlas Network, a principal organização de think tanks africanos do setor de livre mercado, traz uma das vozes que estão impulsionando a África para um futuro promissor.

Magatte foi reconhecida pela Forbes como umas 20 Mulheres Poderosas Mais Jovens da África, foi nomeada Jovem Líder Global pelo Forum Econômico Mundial e uma TED Global Africa Fellow. Ela já falou na ONU, MIT, Harvard, Yale, Stanford e UC Berkeley e jornais como o The New York Times, Wall Street e Guardian já ressaltaram sua trajetória.

Magatte nasceu em um pobre vilarejo e os avós a criaram. Aos 30 anos fundou a primeira empresa e não parou mais. Ela mostra que é preciso deixar o passado para trás e ter uma visão estratégica, criando empresas e oportunidades. Empresas geram empregos, e empregos permitem que as pessoas ganhem dinheiro. Os problemas da África são semelhantes aos de outras parte do mundo e as ideias de Magatte são uma inspiração para todos na luta contra burocracias estatais.

Wade faz parte de uma nova geração de empreendedores que constatou que a saída de qualquer povo da pobreza não está na revisão do passado, mas na melhora das condições para a realização de negócios no presente. Para eles, a única maneira de a África se tornar próspera não é por meio da caridade, ajuda ou educação. É por meio das empresas.

Sem dúvida, as visões de Magatte Wade merecem atenção e estão aí para o desenvolvimento da África e outros países. 

Livros

Faz uns 50 anos que eu escrevo sobre livros em vários jornais e revistas gaúchos, e faz uns 64 que eu me encantei pela primeira vez com a leitura silenciosa e incomparável de um livro impresso. Aqui no Jornal do Comércio são mais de 30 anos ininterruptos de colunas semanais sobre lançamentos de livros. Já passaram pelas minhas mãos uns 6 mil e não sei quantos volumes.

Fico feliz pensando que muitas pessoas seguem prestigiando os livros, impressos e digitais. A maioria acho que não lê livros inteiros. As pessoas ficam trecheando, lendo vários livros ao mesmo tempo, lendo sobre os livros e empilhando os volumes da mesa de cabeceira, até removê-los e criar outras pilhas de livros. Sim, ninguém precisa ler todos os livros que compra, que ganha ou pede emprestado. Ninguém precisa se forçar a ler livros que não goste.

Infelizmente somos um país de poucas livrarias, em torno de 3 mil, 60% das quais no Sudeste. Buenos Aires tem aproximadamente 734 livrarias e a Argentina 1.623. O brasileiro, atualmente, lê uns 4 livros por ano. Em 2019 lia quase cinco. Excluindo as obras escolares, a média fica em 2.73 livros ao ano. De 2020 para cá houve redução de 6.7 milhões de leitores. Os norte-americanos leem 17 livros por ano, os indianos 16 e os ingleses, 15.

No ano passado, as vendas de livros no Brasil aumentaram em 0.07% e o faturamento subiu 8.4%. De 2022 para 2023 houve queda de 7,1% no volume de vendas e 0.8% no faturamento. O faturamento de 2024 foi de R$ 2,8 bilhões. É um número até modesto perto de outros setores da economia. Tomara que no futuro o volume aumente.

Em 23 de maio passado, o jornal Valor publicou interessante entrevista com Marcus Teles, CEO da maior rede de livrarias do País, com 122 lojas e mais quatro por abrir. Apesar de viver num País com pouco hábito de leitura e muitas regiões carentes de livrarias, ou talvez por isso mesmo, ele acha que devemos renovar nossas disposições, formar novos leitores e expandir o conhecimento.

O certo é que a leitura silenciosa e solitária do livro impresso segue como uma experiência única, especialmente para crianças, no sentido de estimular a imaginação e a inteligência. Os computadores, tablets, celulares e outros dispositivos, com suas luzinhas, barulhinhos e recursos variados, encantam as crianças e os jovens, mas a leitura com eles é mais passiva e não desperta tanta criatividade e imaginação. Nada contra os dispositivos eletrônicos, mas tudo a favor dos livros. Mais book, menos Facebook, dizem alguns.

O livro é um paraíso de bolso. Com o livro estamos acompanhados e sozinhos ao mesmo tempo. Com os livros podemos viajar a muitos lugares e podemos viver muitas vidas e muitas sensações. Com os livros podemos superar limites, buscar entretenimento e aprender uma infinitude de coisas. Sem livros, não há humanidade digna deste nome.

a propósito...

Nesses tempos de tantas polarizações, fake news, tanta ditadura e intoxicação digital e tanta polêmica em termos de regulação e regulamentação de mídias, o mundo do livro segue com sua credibilidade e com seu incomparável design. Depois de quase 600 anos, o livro, em sua forma mais recente, segue como uma das maiores invenções da humanidade, e tomara siga como o território da criatividade, da democracia, da pluralidade e da liberdade. Muitos censuraram livros, mandaram queimar volumes e tentaram utilizá-los como meio de dominação e doutrinação, mas os livros seguem, na história da humanidade, como instrumentos de desenvolvimento humano. (Jaime Cimenti)

Ensaios Contemporâneos (AGE Editora, 216 páginas, R$ 40,00), do consagrado médico, escritor e ensaísta Franklin Cunha, traz ensaios apresentados por Ruy Gessinger, Fernando Neubarth e Paulo Flávio Ledur. Com criatividade, erudição, ironia e humor, Franklin fala de homens,mulheres, celebridades, economia, filosofia, politica e cultura, entre outros tópicos.

Água até aqui - histórias de luta, sobrevivência e recomeço na maior tragédia climática do Rio Grande do Sul (Arquipélago, R$ 67,00 , 136 páginas) traz quadrinhos em cores e textos do quadrinista Pablito Aguiar, acompanhados de textos de Eliane Brum e Jaqueline Sordi. A obra mostra como ainda somos solidários e humanos diante da adversidade.

Otelo de William Shakespeare (Elo Editora, 132 páginas, R$ 67,00), clássica tragédia, foi adaptada por Flávia Côrtes, escritora e roteirista, com belas e modernas ilustrações do artista plástico e escritor Rodrigo Mafra. Otelo, o general mouro, vai a Veneza a serviço e conhece a jovem Desdêmona, filha de um nobre. Mudam-se para Chipre e envolvem-se com o alferes Iago e sua mulher. Fidelidade e interesse acontecem.

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