08
de fevereiro de 2015 | N° 18067
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Supermercado das paixões
Não
reconheço como grande obstáculo mudar por alguém. É uma bobagem resistir, uma
tolice se esconder no orgulho e encher a boca para dizer que precisa me aceitar
como sou. A soberba é inimiga da evolução.
Ao
se separar vai terminar mudando, então por que não mudar dentro da relação? O
resultado será igual. Até porque, depois da distância, fará tudo o que ela
queria por birra.
Casais
desfeitos mergulham numa guerra de reformas e de lista de intenções. Tropas de
carentes procurando chamar atenção a todo instante na web, obcecados em provar
que estão melhores, sadios e irresistíveis e sinalizar o quanto o ex ainda se
arrependerá da decisão.
Se
ela reclamava de sua barriga e de sua flacidez, começará academia imediatamente
e assumirá a condição de marombado. Se ela xingava sua pouca insistência com os
livros, estará matriculado num curso de leitura dinâmica. Se ela zombava de seu
inglês, entrará em aulas de conversação. Se ela morria de ciúme, passará a
explicar a rotina aos amigos e evitará respostas genéricas e evasivas. Se ela
reclamava de sua preguiça, acordará às 6h da manhã para correr.
Por
vingança realizamos mais melhorias de nosso temperamento do que por amor. Só para
jogar na cara. Só para provocar inveja e ressentimento.
Divorciados,
acabamos nos tornando curiosamente o que o outro desejava, o que o outro tanto
reivindicava. A ironia é que, tomando tal atitude durante a convivência, a
separação não teria acontecido. A metamorfose surge quando não há laços para
consertar. É o equivalente a aumentar o salário e promover quem já demitimos.
Ninguém
é o mesmo por muito tempo, não vejo sentido em espernear no supermercado das
paixões.
Eu
sou influenciável, maleável, não permaneço com a personalidade imutável. Águas
paradas não são profundas, apenas têm o maior risco de dengue.
Eu
mudo com gosto, com vontade. Por curiosidade ou para oferecer uma nova chance
ao casamento. Nem sempre alcanço resultados esperados ou atendo às expectativas,
mas não nego a experiência de me aperfeiçoar e me aventurar em diferentes hábitos.
Vá que funcione! E todo mundo ainda pode recuar e retomar velhas escolhas.
Não
tentar que é difícil de explicar.