09
de fevereiro de 2015 | N° 18068
EDITORIAL
ZH
A INFLAÇÃO BATE NA
PORTA
No
contexto de desconfianças e de corrupção, o aumento de preços traz de volta uma
ameaça que o Brasil esperava ter superado.
Um
fator econômico sempre envolvido em graves crises, mas que parecia afastado do
cenário brasileiro, volta a preocupar a todos. A inflação apresenta-se como um
complicador para uma crise de confiança acumulada nos últimos anos, por conta
de erros em sequência na condução da economia, da estagnação e dos efeitos da
sucessão de escândalos de corrupção.
O
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 1,24% em janeiro, o mais
alto nível desde fevereiro de 2003, e fechou em 7,14% no acumulado de 12 meses.
Foi-se a meta oficial, junto com as expectativas de quem ainda esperava um refluxo
na tendência de alta de itens básicos, em especial dos alimentos. O número é
resultado de pressões exercidas também por reajustes nos aluguéis e nas tarifas
de energia elétrica e dos ônibus urbanos.
A
inflação é um desequilíbrio ameaçador, em especial em países como o Brasil, que
conviveu por décadas com o descontrole de preços. A estabilidade conquistada na
segunda metade dos anos 90 afastou dos brasileiros a corrosão de renda, a
imprevisibilidade e o tormento de viver sob a pressão de ter de comprar já o
que talvez não mais pudesse ser adquirido no dia seguinte.
O
risco de retorno desse tormento está presente, não só nos indicadores, mas no
dia a dia. São as donas de casa o melhor termômetro de um cenário que,
infelizmente, parecia ter se distanciado da vida dos assalariados. No
supermercado, na feira, no pagamento de contas compulsórias, como água, luz e
telefone, são elas que percebem que a renda da família compra e paga cada vez
menos.
O
efeito disso, além da perda da capacidade de consumir bens, lazer e cultura, é
o sentimento de que o país não se livrou completamente da inflação. Frustram-se
as expectativas criadas pelo próprio governo, que no ano passado esperava um
IPCA de 4,5% e viu o índice ficar em 6,41, perto do teto de 6,5%, o mesmo a ser
perseguido como o máximo tolerável em 2015. Para agravar, do conjunto de
situações desfavoráveis fazem parte também outras formas de subtração dos
ganhos da chamada classe média, como a não correção da tabela do Imposto de
Renda de acordo com a inflação, que não para de subir, e, para quem consegue
guardar parte do que recebe todo mês, o baixo rendimento da poupança.
O
momento é, por isso tudo, gerador de pessimismos que exigem atenção do governo.
Após os erros da omissão, decorrentes em boa parte dos adiamentos provocados
pela campanha eleitoral, cabe à nova equipe econômica ser rigorosa no
cumprimento das medidas anunciadas, como o ajuste inflexível das contas
públicas e a adoção de ações capazes de retomar crescimento, credibilidade e
estabilidade.