10
de fevereiro de 2015 | N° 18069
ECONOMIA
NO BOLSO DO CONSUMIDOR
ENERGIA FICARÁ ATÉ 66% MAIS
CARA
REAJUSTES
ANUAL E EXTRAORDINÁRIO, fim de ajuda do Tesouro e alta na bandeira tarifária
vermelha compõemo leque que vai gerar aumento na conta em três etapas
Quem
recebeu a conta de luz em janeiro já percebeu: o preço da energia elétrica é de
deixar o cabelo em pé. E é bom preparar o bolso, foi só o primeiro de três
aumentos que devem ocorrer ainda em 2015. Para clientes da AES Sul, empresa que
atende 118 municípios da região centro-oeste do Estado, a alta deve chegar a
66% este ano.
Consumidores
da RGE e CEEE também terão reajustes expressivos, 50% e 37%, conforme
estimativa de Paulo Steele, analista que atuou por cerca de cinco anos na Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no desenvolvimento do cálculo dos custos
para concessionárias e hoje atua na consultoria TR Soluções.
–
Esses percentuais já levam em conta a bandeira tarifária mais cara a partir de
março. A Aneel ainda precisa realizar audiência pública antes de aumentar a
cobrança de R$ 3 para R$ 5,50 a
cada 100 kWh consumidos, na bandeira vermelha, mas o setor já dá como certa
essa alta – afirma Steele.
Nas
projeções do presidente da CEEE, Paulo de Tarso Pinheiro Machado, os reajustes
acumulados em 2015 podem ser maiores. A estimativa dele é de 45%, considerando
a alta da bandeira, a correção extraordinária de março e o reajuste anual de
outubro.
O
principal fator de aumento da luz será o fim do aporte do Tesouro Nacional à Conta
de Desenvolvimento Energético (CDE), encargo embutido na conta. Até o ano
passado, era pago pelo governo, evitando que fosse repassado aos consumidores.
Agora, essa cobrança volta para tarifa.
É da
CDE que sai o dinheiro para pagamento de indenizações às companhias geradoras e
transmissoras de energia que aceitaram renovar as concessões em 2012, em uma
tentativa do Planalto de reduzir a conta em 20%.
Cada
companhia de energia tem um reajuste específico porque o cálculo para aumento
de tarifa leva em consideração, entre outras coisas, a situação financeira de
cada uma e os prazos dos contratos de compra de energia.
Também
vai pesar no bolso o reajuste extraordinário que será aplicado a partir de
março. O objetivo é que as distribuidoras, com o caixa pressionado, antecipem
receita que só viria com o reajuste tarifário tradicional do ano. No Sul, no
Sudeste e no Centro-Oeste, o aumento médio deve ser de 26%. No Norte e
Nordeste, a alta deve ser de 4% porque as duas regiões não compram energia de
Itaipu e, portanto, estão livres da variação do dólar, moeda em que é negociada
a energia da usina binacional.
RACIONAMENTO
NÃO ESTÁ DESCARTADO
Os
tarifaços ajudam a reduzir o consumo, mas não afastam o risco de racionamento,
afirma o professor Sergio Valdir Bajay, da Unicamp. O engenheiro – que foi
membro do conselho consultivo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal
responsável por estudos de planejamento para o setor, de 2008 a 2010, e atualmente participa do
conselho estadual de Política Energética de São Paulo – é taxativo: medidas
para estimular a economia de energia deveriam ter sido aplicadas desde 2013.
–É
muito difícil prever com precisão como será o regime de chuva. Desde o ano
retrasado, já sabíamos que haveria escassez, e nada foi feito. Prevaleceu o
interesse eleitoral. Se tivéssemos nos precavido antes, os aumentos seriam
menos drásticos – afirma Bajay.
O
especialista explica que, no curto prazo, não existe solução para aumentar a
oferta de energia, única alternativa viável para afastar o fantasma do
racionamento.
cadu.caldas@zerohora.com.br
E o
seu salário quanto por cento irá subir, você sabe por acaso?