terça-feira, 9 de agosto de 2022


09 DE AGOSTO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

ADESÃO À DEMOCRACIA

O Brasil democrático consolidou o costume do comparecimento pacífico às urnas a cada dois anos para escolher gestores públicos e legisladores. A campanha eleitoral é o momento em que os candidatos tentam renovar seus mandatos ou então se apresentar como opção para a saudável alternância de poder no Executivo e nos parlamentos. Trata-se de um jogo de convencimento dos eleitores, a partir do cotejo de propostas, ideias, biografias e avaliação do desempenho de quem tenta permanecer no posto em que está. Faz parte da democracia, ainda, a livre manifestação dos cidadãos sobre as suas preferências pessoais, partidárias ou ideológicas, respeitando-se os limites da legislação.

A eleição que se aproxima, no entanto, traz um componente novo. A divisão da sociedade vem se aprofundando, com reflexos até mesmo em relações pessoais e familiares, elevando a tensão a patamares que, há poucos anos, seriam inimagináveis. Divergências próprias das democracias se transformaram em intolerância. Dessa exacerbação emergiram inclusive impensáveis, mas reiteradas, ameaças de contestação ao resultado das eleições por parte do presidente Jair Bolsonaro e de apoiadores, com repetidas alegações sem sustentação em fatos.

Como a insistência, ao fim, põe em risco a própria democracia e o dever de obediência à Constituição, é natural e salutar que vozes de cidadãos e instituições se ergam para defender o sistema eleitoral e o Estado de direito. Afinal, o desejo da maioria, demonstrado pelo voto, é a forma mais legítima de uma nação escolher o seu destino. Enfraquecer os valores republicanos, por outro lado, abre portas para o desequilíbrio entre os poderes e para tentações autocráticas.

Nos últimos dias, vieram a público diversos manifestos em defesa da democracia, como os organizados pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em um mesmo texto, é possível encontrar a adesão de atores de diferentes partidos e com interesses distintos, como sindicatos patronais e de trabalhadores, mas que convergem na compreensão de que apenas com o respeito ao império da lei será possível construir uma sociedade mais estável, próspera e justa.

Ser signatário de uma carta em defesa da democracia significa apenas isso: repetir que as regras da disputa têm de ser respeitadas. Não representa preferência a um ou outro candidato ou sigla, mas subserviência à vontade popular expressada nas urnas em um processo conduzido com grande credibilidade - e reconhecimento internacional - pela Justiça Eleitoral brasileira. Assumir uma posição de proteção aos valores democráticos é tão somente um imperativo moral de todos os que não aceitam a mínima possibilidade de o país retroceder na marcha civilizatória.

Todo brasileiro, pessoa física ou entidade, tem o direito de exercer a sua cidadania e exteriorizar as suas opiniões. Existem limites, no entanto. Pontos de vista e convicções podem e devem ser manifestados, mas há de se ter respeito aos que pensam diferente. Discurso de ódio, execrações e incitação à violência, por outro lado, são daninhos à convivência pacífica que deveria prevalecer entre os concidadãos, especialmente após o resultado da eleição ser proclamado. São os líderes políticos que deveriam dar o exemplo aos seus apoiadores, reforçando a convicção de que a higidez da democracia, como já repetido neste espaço outras vezes, é inegociável.

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