sábado, 28 de junho de 2014


29 de junho de 2014 | N° 17844
CÓDIGO DAVID | David Coimbra

A franja da Farrah Fawcett

Se tem algo de que os brasileiros deveriam se orgulhar são as novelas da Globo. Estão empoleiradas em um nível muito superior a quaisquer outras, de qualquer outro lugar. As redes de TV americanas com programação em espanhol passam novelas da Globo e, é claro, novelas mexicanas. A diferença entre umas e outras é do tamanho do Atlântico.

Fico pensando. Será que os mexicanos não se sentem empulhados por quem faz as novelas deles? Aqueles atores mexicanos. Eles não são verossímeis. O jeito que se comportam, o jeito que falam. Os gestos afetados. E as roupas! Todas aquelas joias, todos aqueles lenços e echarpes e saltos altos e camisas abertas ao peito e, Jesus Cristo!, todo aquele cabelo. É muito cabelo. As atrizes mexicanas parecem a Farrah Fawcett.

Você se lembra do cabelo da Farrah Fawcett? Da franja dela? Só que a Farrah Fawcett usava aquele cabelo nos anos 80, quando nós nos vestíamos de uma forma estranha. Havia calças baggy nos anos 80. Nós, homens, também usávamos calças baggy pregueadas, com a cintura aqui em cima. Eu não me lembro de ter usado, por Deus Nosso Senhor que acho que não usei. Mas também não garanto, vai que alguém encontre uma foto minha aí no Google, eu de calça baggy pregueada com a cintura aqui em cima.

Maldito Google.

Falando em cabelo, você se lembra do cabelo do cara do Ghost? Digo o herói, aquele que virou fantasma. Um loiro, lembra?

Aquele cara era o galã do filme, e olha o cabelo dele. Tinha mullet.

Como podíamos ser daquele jeito nos anos 80?

O Roberto Carlos, por exemplo, usou uma pena no cabelo nos anos 80, quando ele ainda não comia carne. Imagina um sujeito andando por aí com uma pena no cabelo. E houve um tempo em que homens e mulheres calçavam tamancos de madeira. Eu nunca caminhei em cima de um tamanco de madeira e não tem Google que possa provar o contrário.

Mas o que queria dizer é que os mexicanos ainda vivem nos anos 80. Talvez seja bom para eles, os anos 80 tiveram seus méritos. Nós, da América do Sul, nós com nossas atuais discussões ideológicas parecemos viver nos anos 60. A Coreia do Norte ainda não saiu dos 40. Quem vive no século 21? Possivelmente só alemães e canadenses. Um dia ainda chegaremos aonde estão alemães e canadenses. Como serão as novelas deles?

BRASIL BUNDA LEVANTADA

Aqui no Grande Irmão do Norte tem um brasileiro que é conhecido como “O Mago dos Glúteos”. Por Deus. O cara é um personal trainer que inventou um método de exercícios chamado “Brazil Butt Lift”, que, em tradução livre, pode ser algo como “Brasil Bunda Levantada”.

Numa propaganda de TV, uma TV com programação em espanhol, obviamente, ele promete que, com o método dele, qualquer mulher pode ficar com “a famosa bunda brasileira”, e aparece junto com a Alessandra Ambrosio e a Ana Beatriz Barros. Segundo a propaganda, essas duas devem suas respectivas bundas ao “Mago dos Glúteos”. Será? Vou dar uma reparada melhor nas bundas da Aninha e da Ale para ver se o mago é bom mesmo.

PRÊMIOS NOBEL

Confesso que isso de “as famosas bundas brasileiras” me desagradou um pouco. Não que não sinta orgulho das nossas bundas, não se trata disso, mas, sei lá, acho desconfortável você dizer que é brasileiro e a outra pessoa comentar:

– Ah, lá tem ótimas bundas.

Não, não. Preferia que tivéssemos Prêmios Nobel. Não temos? Bem, que falem das nossas novelas, então. As bundas deixemos para a intimidade.

SANDUÍCHE DE ATUM

Os americanos precisam muito exercícios para as bundas deles porque eles são gordos. Não todos os americanos, é evidente. Tem de tudo por aqui. Mas esse é, definitivamente, um país de gordos. Pudera: todo aquele bacon no café da manhã. E os hambúrgueres gigantescos, recheados com tudo que você pode imaginar.

Os americanos são exagerados. Eles gostam de consumir em grandes quantidades. Outro dia, entrei num café e vi que a estrela do cardápio era o sanduíche de atum. Ora, sanduíche de atum é um clássico da América. Estou aqui também para conhecer os clássicos e contar para você, não é?

Pedi o sanduíche de atum.

Vieram duas fatias de pão separadas por uma pasta de quatro dedos de atum. Cristo, pra que tanto atum num sanduíche? Devia ter umas duas latas de atum ali, dava para alimentar uma família inteira. E nem ficou bom. Ao contrário, enjoei de comer tanto atum e deixei o sanduíche pela metade.

Por isso é que eles são gordos. Tudo é em grande quantidade. Você come e come e pode repetir e come mais. Aí o que eles fazem? Apelam para o Mago dos Glúteos. Chamem o Mago dos Glúteos! Onde está o Mago dos Glúteos? Precisamos do Mago dos Glúteos!


Francamente, os americanos precisam escolher: ou o bacon ou a famosa bunda brasileira.