FERREIRA
GULLAR
Da vaia ao papo furado
Que
Dilma Rousseff, indo ao jogo de estreia da Copa, seria vaiada, ninguém
duvidava, nem nós nem ela
Insultar
quem quer que seja é coisa que não se pode aceitar, muito menos quando se trata
de uma senhora e senhora essa que exerce o cargo de presidente da República. Quem
fez isso, qualquer que tenha sido o motivo, cometeu um ato indefensável.
É indiscutível.
O outro lado dessa tolice é oferecer argumento aos partidários da ofendida, que
é também candidata a novo mandato presidencial. Quem age sem pensar ajuda o
adversário, como ocorreu agora neste episódio que envolveu Dilma Rousseff. Que
ela, indo ao jogo de estreia da Copa do Mundo, seria vaiada, ninguém duvidava,
nem nós nem ela.
Tínhamos
certeza de que ela jamais apareceria ali, depois das vaias que já havia tomado,
ao mostrar-se em público. Mas desta vez estava obrigada a ir ao Itaquerão, uma
vez que vários chefes de governo de países que participam da Copa estariam
presentes ali.
Mesmo
temendo ser vaiada, na qualidade de anfitriã, não poderia estar ausente. Por
isso foi e, como temia a reação do público, ficou quietinha no seu canto, não
discursou, não saudou o público das arquibancadas. Sucede que a televisão
revelou a sua presença e a projetou no telão: a vaia inevitável aconteceu e,
infelizmente, os insultos também.
Vaia
é uma manifestação pertinente com que a massa popular costuma expressar sua desaprovação,
por exemplo, ao modo como um governante governa. A legitimidade da vaia apoia-se
no fato de que ela expressa o descontentamento da maioria, o que não significa
que seja sempre justa.
Por
exemplo, a vaia contra Diego Costa, o brasileiro que integra a seleção
espanhola, foi simplesmente idiota. A verdade é que, se a maioria não apoia a
vaia, ela não ocorre e, se ocorrer, mixa. Aliás, isso raramente acontece,
porque, ao que tudo indica, quem vaia acredita que expressa o sentimento de
todos. Quem vaia não duvida.
Daí por
que a vaia, quando se trata de um (ou uma) governante, é um fato político
importante, pois demonstra que o descontentamento dos governados chegou ao
limite. E frequentemente expressa também certa impotência dos descontentes em
face do governante que tanto lhes desagrada.
É como
se gritassem: "Chega! Vai embora!". Mas, para que esse desejo se
realize, é necessário derrotá-lo nas urnas. Não basta vaiar, nem muito menos
insultar.
De
qualquer modo, no caso da presidente Dilma, a vaia é sinal de uma crescente
impopularidade, que se expressa também nas pesquisas de opinião.
É igualmente
significativo que, sendo ela, dentre os candidatos à presidência de República,
quem está permanentemente na televisão, discursando, prometendo benesses ao
setor mais carente do eleitorado, inaugurando obras realizadas ou por realizar,
a verdade é que, apesar disso, a cada dia que passa, ela cai nas pesquisas.
Embora
isso não signifique que já tenha perdido as eleições, trata-se, sem dúvida, de
um fato preocupante, que assusta também Lula e a direção do PT.
Lula,
que afirmara, faz pouco tempo, que não permitiria a volta do PSDB ao governo do
país, sabe muito bem que, mesmo sem sua permissão, isso pode ocorrer. Por isso
mesmo, saiu da sombra em que se mantinha para assumir a defesa de sua candidata
e indicar o rumo da sua campanha pela presidência da República, que se encontra
em plena marcha, mesmo desrespeitando a lei eleitoral.
"Se
em 2002, fizemos uma campanha da esperança contra o medo, agora é da esperança
contra o ódio", afirmou ele, deixando claro, descaradamente, que vai
repetir o mesmo truque de antes: fazer-se de vítima de um inimigo que odeia o
lulismo por este defender os desamparados; como nas histórias em quadrinhos,
trata-se do mal contra o bem, do ódio contra a esperança.
Sucede
que nenhum político pregou tanto o ódio contra seus adversários quanto Lula
que, ao ver que assim nunca se elegeria presidente da República, mudou o
discurso para se tornar o "Lulinha paz e amor".
O ódio
contra a esperança? Parece piada. Que esperança pode representar um partido
que, após doze anos de governo, levou o país à inflação e paralisou o
crescimento econômico?
A
esperança não pode estar em reeleger quem fracassou e, sim, em mudar o que não
deu certo.