sábado, 28 de junho de 2014


28 de junho de 2014 | N° 17843
VERISSIMO NA COPA | L.F VERISSIMO

VERISSIMO NA COPA COMO GARRINCHA EM 62

Onde você estava quando o Brasil derrotou o Chile na casa deles, na Copa de 62? Eu sei, você ainda não era nascido. Às vezes tenho a impressão de que ninguém era nascido naquela época, só eu.

O que mudou de então pra hoje? Começando pelo mais sério: hoje o Chile tem um time que não tinha em 62, que provavelmente nunca teve até agora. E não é só o Alexis Sánchez, tem mais gente boa. O Brasil era quase o mesmo que ganhara a Copa de 58. Mas não tinha o Pelé. O Pelé se machucou no começo da Copa. E o Garrincha decidiu que, sem o Pelé, seria tudo com ele. E foi.

Garrincha era o homem de uma jogada só. Mortal, mas uma só. Duvidavam que ele pudesse fazer outra coisa além de entortar seu marcador e mandar para a área, sempre pela direita. Me lembrei de uma história que contavam dos pianistas de jazz Ary Tatum e Bud Powell. Tatum era um virtuose do piano. Pianista de teclado inteiro.

Powell, um dos inventores do be-bop, tocava um piano mais linear, de longas frases com a mão direita. E Tatum espalhou que Powell não tinha a mão esquerda. Uma noite, no Birdland de Nova York, Powell ficou sabendo que Tatum estava na plateia e tocou o tempo inteiro só com a mão esquerda. No Chile, em 62, Garrincha fez coisa parecida. Jogou pelo meio, fez gol de falta, fez até gol de cabeça, talvez o único em toda a sua vida, e só não jogou mesmo pela direita.

O time brasileiro de 62 era melhor do que o time que joga hoje com o Chile? Essas comparações são sempre enganosas. O futebol era outro. Jogadores como Nilton Santos e o próprio Garrincha certamente estariam na Seleção hoje, mas outros talvez não aguentassem as exigências físicas de agora. De qualquer maneira, é bom imaginar que alguém se multiplicará em campo, hoje, como fez o Garrincha em 62. Pode ser o Neymar ou pode ser uma surpresa para todo o mundo, como também foi o Garrincha.

Onde é que eu estava quando o Brasil eliminou o Chile em 62? No apartamento de uma tia, no Leme (de passagem pelo Rio a caminho de Londres, onde estudaria cinema, me tornaria um diretor de sucesso e enriqueceria), ouvindo os jogos pelo rádio. É, isso também mudou. Não tinha transmissão pela TV e eu tinha 26 anos menos.