30
de junho de 2014 | N° 17845
NILSON
SOUZA
Mentalidade
monarquista
Por
coincidência, terminei de ler ontem as 415 páginas de 1889, exatamente no dia
em que este jornal publicou uma bela entrevista com o autor do livro,
Laurentino Gomes. O jornalista paranaense que virou escritor de sucesso, e que
vem recontando de maneira deliciosa a história do Brasil, disse ao repórter
Alexandre Lucchese que a herança monárquica é mais forte do que a republicana
na formação do caráter do brasileiro.
O
que isso significa? Segundo o escritor, que parcela expressiva da população
prefere acreditar que o soberano, o monarca, agora representado pelo Estado,
lhe dará tudo o que necessita, sem que precise se envolver e participar da vida
do país. Do mesmo teor é o pensamento mágico de que todos os políticos são
corruptos e que é preciso entregar a um ditador (imperador?) a tarefa de
moralizar a nação.
Seríamos,
portanto, uma República com mentalidade monarquista. Realmente, o próprio
Laurentino conta em seu livro que os brasileiros nunca tiveram muito apreço
pela República, na verdade um golpe militar na carcomida monarquia de Dom Pedro
II, ele mesmo um simpatizante do regime republicano. Outra assustadora
constatação, essa atribuída ao abolicionista Joaquim Nabuco, é a de que a
escravidão prolongada fez com que os brasileiros desprezassem o trabalho, pois
quem trabalhava era o escravo.
Corta
para esta segunda-feira que assinala a metade do ano. Neste momento, avança no
Congresso um projeto do deputado mineiro Newton Cardoso que pretende extinguir
exatamente o feriado da Proclamação da República, o 15 de Novembro, sob o
argumento de que o movimento comandado por Deodoro da Fonseca não teve
participação popular.
Não
teve mesmo. O projeto de Newtão é absurdo, mas pode ter um efeito positivo para
a economia do país. Caso seja aprovado, neste ano só voltaremos a ter feriado
no Natal. Julho e agosto não têm feriados, o 7 de Setembro cai num domingo,
como também 12 de outubro (Nossa Senhora Aparecida) e 2 de novembro (Finados).
Nada
mais republicano – para usar a linguagem da moda – do que trabalhar, não é
verdade?