25
de junho de 2014 | N° 17840
VERISSIMO
NA COPA | L.F.VERISSIMO
Roedor
Quase vimos a primeira cena de canibalismo numa Copa
do Mundo, ontem. O Suárez começou dando uma dentada no ombro de um italiano e
ninguém sabe onde ele iria parar. A Fifa deve punir o jogador uruguaio
principalmente para que não se crie um precedente e comece todo o mundo a
tentar comer o adversário. Como tem uma cara de roedor, o Suárez talvez tenha
sucumbido a um impulso atávico, mas isto não o desculpa.
Mistério
Mistério:
para onde vai o futebol quando deixa um jogador? Às vezes, a perda é
explicável. Uma contusão mal curada, um drama familiar, um amor perdido, uma
súbita angustia existencial, ou simplesmente velhice. Mas nenhum destes parece
ser o caso dos dois maiores exemplos atuais de jogadores cujo futebol
desapareceu: Paulinho, da Seleção Brasileira, e Forlán, da seleção uruguaia.
Paulinho,
dizem todos, foi o melhor jogador da Seleção que venceu a Copa das
Confederações no ano passado. De grande presença num campeonato passou a grande
ausência em outro. Que se saiba, não houve nenhum trauma na vida do Paulinho,
de lá para cá. Nada que justificasse a sua queda. Qual é a explicação? Dizem
que futebol não se desaprende. Que é como andar de bicicleta – quem aprendeu
nunca esquece.
É
verdade que se eu montasse numa bicicleta, hoje, saberia o que fazer em tese,
mas não conseguiria dar uma pedalada sem a ajuda de familiares, amigos e talvez
do Corpo de Bombeiros. Mas o Paulinho é um jovem. Está em perfeitas condições
físicas. Que fim levou seu futebol?
O
Forlán é um exemplo ainda mais intrigante. Há quatro anos, na África do Sul,
ele foi o melhor jogador da Copa. Liderou o time do Uruguai até quase a final e
fez de tudo em campo, com garra e elegância. Quando o Internacional de Porto
Alegre o comprou da Internazionale da Milão foi pensando que ele ainda era
aquele. Por alguma razão, não era mais.
Na
própria Internazionale, ele tinha ficado mais tempo no banco do que no campo.
Com 35 anos, Forlán tem a desculpa da idade que Paulinho não tem, mas já faz
alguns anos que seu futebol desapareceu por completo. Pode ser que ele ainda
volte ao time do Uruguai nesta Copa, e pode ser que ainda brilhe. Seria uma
espécie de ressureição, mas pouco provável. Mistério.