27
de junho de 2014 | N° 17842
VERÍSSIMO
NA COPA
CLICHÊS
Nunca entendi muito bem o que quer dizer
reconhecimento do campo. Times vão ao estádio onde jogarão dali a pouco para o
que, exatamente? Serem apresentados à grama? Se acostumarem com a disposição
das arquibancadas? Sentirem o clima do estádio, seja isso o que for? Está
certo, os gramados são diferentes uns dos outros.
Há
melhores e piores, maiores e menores, mais ou menos esburacados etc. Mas a
ideia de que os jogadores decorarão as características do campo e se lembrarão,
durante o jogo, de onde a grama é mais fofa ou mais rala, não me parece
razoável. O reconhecimento do campo persiste na prática e no linguajar do
futebol apenas em respeito à tradição, que no caso vence a lógica. São daquelas
coisas que sobrevivem porque nunca ninguém se lembrou de questioná-las. Viram
clichês, e nada resiste mais a mudanças do que um clichê.
Um
jornal de Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul, tinha apenas uma foto do
centroavante de um time da cidade. Não me lembro do nome do jogador, digamos
que fosse Betão. E a foto era do Betão mordendo uma bola de futebol. Na falta
de outra, a foto do Betão mordendo a bola era publicada sempre que o jornal
dava uma notícia dele ou do seu time. Só mudava a legenda, o que era um desafio
para os redatores do jornal. A foto podia ser repetida, a legenda não. E
recorria-se a todos os clichês do futebol possíveis para variar a legenda:
“Betão
promete comer a bola”
“Betão
está com fome de bola”
“Betão
diz que vai estraçalhar”
Finalmente,
com os clichês se esgotando, optaram pelo mais sensato. Fizeram outra foto do
Betão.
Os
textos sobre futebol mudaram muito, mas clichês como o “reconhecimento do
campo” morrem devagar. E me ocorre que o desafio para quem escreve sobre
futebol continua sendo o mesmo que enfrentavam no jornal de Pelotas. O jogo,
como a foto do Betão, é sempre o mesmo. As legendas é que precisam sempre
mudar.
INÚTIL
Portugal
e Gana foi um bom jogo. Inútil, mas bom. Pena que o Cristiano Ronaldo tenha
resolvido jogar quando não valia mais nada. Mas Portugal e Gana caíram de
cabeça erguida. Olha aí, outro clichê.