segunda-feira, 30 de junho de 2014


30 de junho de 2014 | N° 17845
DAVID COIMBRA

POESIA MEXICANA

Noventa e dois minutos de jogo. Pênalti para a Holanda. O México vencia até os 88, levou o gol de empate e o árbitro deu seis minutos de prorrogação (os árbitros estão sendo generosos na prorrogação, nesta Copa, o que indica uma tendência para as próximas competições).

O pênalti para a Holanda aconteceu numa jogada de habilidade e velocidade de Robben, algo que tem se repetido no torneio. É espantoso. Esse cara passa o tempo todo correndo e, aos 90, 91, 92, ainda tem fôlego para fazer o que fez dentro da área mexicana: dominou a bola, enganou o zagueiro com o corpo, foi ao fundo, impediu que ela saísse, cortou para dentro a fim de ganhar ângulo e então o capitão do México, o bom zagueiro Rafa Marques, esticou a perna e o derrubou.

Pênalti.

O holandês se prepara para cobrar. O goleiro Ochoa abre os braços. O narrador mexicano da rede de TV americana grita:

– Ochoa! Ochoa! Braços abertos como o Cristo, pode sair daqui como salvador!

Poético. Mas não deu. Gol da Holanda. Ochoa bem que fez seus milagres nessa partida, repetindo o que havia cometido contra o Brasil, mas não houve como superar o preparo físico holandês, apesar do calor, e a categoria desse terrível Robben.

SUÁREZ NÃO É UM COITADINHO

Há três anos, Suárez foi suspenso por sete jogos, por ter mordido um adversário.

Há dois anos, Suárez foi suspenso por oito jogos, por racismo.

Há um ano, suárez foi suspenso por 10 jogos, por ter mordido outro adversário.

A pena de Suárez, por mais um desvario, desta feita cometido numa Copa, só poderia ser muitíssimo mais pesada. Suárez talvez seja o melhor centroavante do mundo, mas, em campo, se comporta como um bandido. Ele morde, chuta, cospe e dá socos. E, para mim o pior de tudo, não tem vergonha de manifestar seu racismo.

Suárez não é um coitadinho. Maradona, Mujica e o técnico do Uruguai passaram a mão na cabeça dele depois daquela irresponsabilidade contra a Itália, quando deveriam censurá-lo. A desclassificação do Uruguai está na conta de Suárez. Em vez de reclamar da dura (mas justa) punição, ele deveria se recolher, aprender e, pelo amor de Deus, se tratar.

JOGO BONITO

Porto Alegre vai assistir à melhor seleção do mundo. A Alemanha pode não ganhar a Copa, pode nem ganhar essa partida de hoje, coisas estranhas acontecem no futebol, mas, acredite, não tem time mais bem enjambrado no planeta. Observe, você que vai ao Beira-Rio: a Alemanha joga um futebol de aproximação parecido com aquele do Barcelona de Guardiola. Há sempre pelo menos quatro alemães perto da bola.

Quer dizer: há opção para o passe. É um jogo refinado, escorreito, semelhante ao antigo estilo do Brasil. Aquilo que os estrangeiros chamam de “jogo bonito”. Mas é claro que às vezes o jogo bonito não é suficiente para bater um adversário encanzinado. Então os alemães chamam Klose do banco. E aí o centroavante faz o que tem de fazer: gol