07
de fevereiro de 2015 | N° 18066
CLÁUDIA
LAITANO
Vacinados
“A
ciência é clara: a Terra é redonda, o céu é azul e vacinas funcionam.” Parece
slogan do tempo da Revolta da Vacina, mas é um post da última segunda-feira no
Twitter da ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton. De olho nas
eleições presidenciais de 2016, Hillary não poderia deixar de entrar no debate
que tem mobilizado a opinião pública americana já há algum tempo e que
esquentou nas últimas semanas depois que um surto de sarampo, doença que estava
praticamente erradicada no país, atingiu mais de 30 pessoas que visitaram os
parques da Disney na Califórnia.
Como
os “céticos” do aquecimento global, os “céticos” da vacinação encontram pouco
ou nenhum respaldo científico. O estudo que ajudou a espalhar o medo de que a
vacina tríplice (sarampo, caxumba e rubéola) pudesse estar relacionada a casos
de autismo, publicado em 1998, foi rejeitado pela comunidade científica, e os
autores, condenados por fraude. Mas o estrago já estava feito.
Nos
EUA, os pais que têm se recusado a vacinar seus filhos dividem-se em três
grupos: os que ouviram falar na conexão entre vacina e autismo, os que
acreditam que tudo que não cresce em horta é, em princípio, suspeito, e os
radicais do não intervencionismo do Estado na vida privada.
Pode-se
questionar os interesses comerciais dos grandes laboratórios e mesmo colocar
por terra uma teoria a partir de novas pesquisas, mas tanto para uma coisa
quanto para outra é preciso apresentar evidências – e não palpites. Por trás de
debates como evolucionismo x criacionismo, mudanças climáticas causadas pelo
homem ou vacinação, parece haver uma perigosa tentativa de empurrar evidências
científicas para o pantanoso campo das convicções pessoais, o que é um triste
retrocesso.
Decidir
o que é melhor para os nossos filhos nunca é uma tarefa fácil. Muitas vezes,
fazemos escolhas sem ter acesso às mais completas informações e é impossível
acertar sempre, mesmo com as melhores intenções. Agir com base na chancela da
ciência, porém, sempre será mais seguro do que comprar como verdade aquilo que
não resiste ao teste da comprovação.