07 DE JULHO DE 2022
TULIO MILMAN
Envelhecer
Minha filha Maya, nove meses, não consegue, ainda, segurar um talher com a firmeza de um adulto. Nenhum problema. Sua motricidade é absolutamente compatível com a idade. Quando ela pega a colher e deixa cair a comida, todos em volta sorriem, compreensivos e cheios de carinho. É fofinho.
Mas o mesmo não acontece com alguém mais velho. As reações são outras. Nem todas as pessoas com 80 ou 90 anos enfrentam dificuldades para levar um garfo à boca. Mas muitas têm. É normal, assim como é com os bebês, que a motricidade vá se adaptando às circunstâncias da vida. Nada do que acompanha o processo natural de envelhecimento deveria causar vergonha ou reprovação. No decorrer dos anos, os sentidos e as aptidões mudam constantemente. Isso não é doença. O velho é o jovem que deu certo, ouvi certa vez.
No final de semana passado, encontrei Otelio Drebes, 87 anos, fundador das Lojas Lebes. Quando se contar a história do empreendedorismo no Rio Grande do Sul, ele estará lá, por tudo o que fez e faz, para sua empresa e para a comunidade em geral. No meio da festa, Seu Otelio me puxou num canto e disse: "Vivo hoje o melhor momento da minha vida, porque as pequenas coisas que me incomodavam, agora não me incomodam mais".
Não é lindo? As perspectivas que o tempo oferece encolhem os problemas e mostram que o essencial está mais perto do que imaginamos e, em geral, custa pouco: os afetos, os gestos e a família. Vejo meu pai, 90 anos, escrevendo suas memórias. Sentado ao computador, digita reflexões e passagens oferecidas pela memória generosa e exemplar. Minha mãe, 77, abriu, não faz muito, um novo negócio ao qual se dedica com absoluto afinco e entusiasmo.
A ciência vem derrubando alguns mitos. Um deles associa, genericamente, o envelhecimento a uma perda de capacidade cerebral, porque depois de uma certa idade, paramos de produzir novos neurônios. Entra aí uma verdade que, felizmente, começamos a entender cada vez mais. Não se mede a sabedoria pela quantidade de neurônios, mas pelas conexões entre eles.
Para isso, o tempo é fator único e insubstituível. E azar que a mão treme um pouco e que, às vezes, as palavras fogem. Os dados demográficos mostram que o Rio Grande do Sul e o Brasil estão envelhecendo. O novo 60+ é diferente. Tem apetite para novas experiências, poder de consumo e vontade de independência. O próximo passo é passar a enxergá-los como eles realmente são. Estamos no caminho. A velhice pode não ser um mar de rosas. Mas é muito diferente do que era antes. Ainda bem.
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