sexta-feira, 8 de julho de 2022


 

A Semana de 22 por Luís Augusto Fischer
Jaime Cimenti

Estamos comemorando este ano os primeiros 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, de 1922, que, em verdade, foi realizada em cinco dias, de 13 a 17 de fevereiro. Apesar dos poucos dias, do caráter paulistano do evento e de outras questões, a Semana de cinco dias tornou-se um divisor de águas da cultura brasileira.

O consagrado professor, escritor, crítico literário, dicionarista e ensaísta Luís Augusto Fischer acaba de publicar A ideologia modernista: A Semana de 22 e sua consagração (Todavia, 448 páginas, R$ 99,90), um grande, provocativo e criativo ensaio sobre a ideologia modernista da Semana e sua consagração. Em síntese, o que propõe Fischer é uma releitura da entronização da Semana no imaginário artístico e ideológico do Brasil.

Com erudição e humor em altas doses, Fischer acrescenta agudeza interpretativa e fluência narrativa para desmontar alguns mitos mais caros em torno de Mário e Oswald de Andrade e demais ilustres participantes da Semana. Não se trata, no caso, de simplesmente ser contra ou a favor da Semana. O buraco é bem mais embaixo, e Fischer ainda oferece um passeio altamente informativo através da recepção historiográfica da Semana ao longo destes primeiros cem anos, em livros, filmes, peças teatrais e canções.

Claro que a Semana vai seguir dando o que falar e os desdobramentos vão acontecendo. A obra de Fischer, em termos quantitativos, qualitativos e criativos, certamente nasce referencial em termos de colocar por inteiro as entranhas de um movimento que se eterniza como se fosse um work in progress, um trabalho em constante construção e reconstrução. 

Lançamentos

  • A Construção da Maldade- Como Ocorreu a Destruição da Segurança Pública Brasileira (Avis Rara, 224 páginas, R$ 48,00), de Roberto Motta, engenheiro e ex-consultor do Banco Mundial e ex-Secretário da Segurança no Rio, explica as origens dos problemas de segurança no Brasil e aponta caminhos, sem ideologia, preconceito e interesses pessoais.
  • O Clube do Orgasmo - Uma cartografia do prazer (Intrínseca, 256 páginas, R$ 59,90), da francesa Jüne Plã, ilustradora e designer de personagens de videogames, é um guia prático sobre sexo para todos (ou todes) e rompe preconceitos com textos bem-humorados e ilustrações. Sexo não precisa ser tabu, diz ela.
  • Tia Gorda e Tia Magrinha na Guerra do Paraguai e outros contos de guerra, sonho e amores (Class, 114 páginas, R$ 42,00), do consagrado médico, poeta, escritor e tradutor José Eduardo Degrazia, traz narrativas envolventes sobre pessoas da fronteira, conflitos, propriedades, contrabandos e outras circunstâncias e geografias de nossos pagos.

Nova York agora

A vaidosa e imortal Nova York, depois da pandemia, vai retomando o papel de centro, espelho e tambor do mundo. Milhões de seres de muitas partes do planeta seguem para a meca da verticalidade platinada para morar, viver, trabalhar ou passear. Muita gente, muitas obras, muito movimento, novidades e antiguidades de sempre, museus do futuro, do presente e do passado, dinheiro circulando rápido, ao ritmo da famosa atitude da exibida big apple, que nunca teve muito tempo a perder.

Ares de liberdade geral, cheiro de maconha liberada, ambulâncias e carros de bombeiro mais iluminados e estridentes que trios elétricos baianos e bandeiras da diversidade tremulando, tremulando, enquanto seguem os centenários musicais da Broadway e da off-Broadway, com atores e plateias profissionais aplaudindo na hora certa, não deixam o samba morrer.

Jantares de 100, 200, 300 ou muito mais dólares por pessoa, ou hot dogs de quatro dólares do Papaya seguem alimentando corpos, sonhos e mentes de quem tem muita grana ou não.

O grande retrato da desigualdade mundial está na esquina da rua 59 com a Quinta Avenida. Enquanto alguns simplesmente sentam ou ficam em pé por ali, curtindo alguns hot dogs ou sorvetes de alguns dólares ou outros quitutes de rua dos veículos ou, ainda, comprando um boné ou outra peça do ambulante, a loja da Apple segue impávida, vinte e quatro horas ligada, na cidade que não dorme.

Quem pode compra os iPhones e demais gadgets, para que todo mundo se comunique consigo mesmo e com todo mundo, mesmo especialmente à distância e/ou solitário no meio de milhões. Antigamente, quem tinha boca ia a Roma. Hoje, quem tem dedos e dólares vai na Apple comprar o que ainda está, por enquanto, na moda.

Quem gosta de livros, especialmente os bons e velhos exemplares impressos, tem a Biblioteca Pública de NY, na 42 com a Quinta, com seus lindos prédio e sala de leitura, e livrarias como a Strand, em vários endereços, desde 1927 e até com quiosque no Central Park.

Nova York está correndo atrás do prejuízo da pandemia e milhões de turistas andam por lá, caminhando pelas largas avenidas, curtindo os inúmeros roof-tops e, especialmente o Edge, na Fulton Street 285, agora o prédio com o terraço mais alto do hemisfério ocidental. O Edge está no Hudson Yards, o bairro mais novo e um dos mais luxuosos da cidade.

Nova York tem pessoas de mais de 100 nacionalidades diferentes, acolhe e desacolhe, tem de tudo um pouco desse nosso mundo moderno, dividido, plural, barulhento e caótico. Mas Nova York tem também, no Zoo do Central Park, um urso panda vermelho, raríssimo, que não se estressa com nada. E há uns simpáticos e elegantes pinguins lá, que até acham bom entrar numa fria, especialmente quando tem a fina plateia assistindo.

Enfim, Nova York é passado, presente, futuro e pós-futuro. É a novidade que ainda vai acontecer, é tudo que é possível e impossível de contar, é grana e penúria. Alguém disse que NY é o que tem de mais próximo do paraíso.

A propósito...

Impossível falar de Nova York sem falar de jazz - como sabem muitos, a melhor contribuição americana para a humanidade. Democracia, universidades, liberdade, Marilyn Monroe, Coca-Cola e sopa Campbell são legados maiores e importantes, mas o melhor é o jazz. Nova York e o jazz estão casados há séculos e sempre estarão, como num filme de Woody Allen. Rhapsody in Blue de Gershwin é a signature song da cidade que tem tanto swing quanto o Tim Maia. Depois da gripe espanhola vieram os loucos anos 1920, e agora, depois da pandemia que durou menos que a gripe, as pessoas estão indo para ruas e espaços para recuperar o tempo e a vida. Muitas estão eufóricas com os hormônios do verão. The show must go on.

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