terça-feira, 26 de julho de 2022


26 DE JULHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

OS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

Divulgada pelo IBGE na sexta-feira, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua - Características Gerais dos Moradores deu novos números a um fenômeno que acontece em todo o Brasil, mas de forma mais acelerada no Rio Grande do Sul: o envelhecimento da população. Estimativas anteriores indicaram que, em 2019, o Estado foi a primeira unidade da federação a ter uma quantidade maior de pessoas com 60 anos ou mais do que crianças e adolescentes de zero a 14 anos. As causas dessa transição demográfica são conhecidas. De um lado está a diminuição da taxa de natalidade e, de outro, o aumento da expectativa de vida.

Conforme o IBGE, no ano passado existiam 2,1 milhões de rio-grandenses acima de 60 anos, 40% a mais do que há uma década. O grupo abaixo dos 30 anos, no sentido contrário, encolheu 8,9%. Essa transformação põe, diante do Rio Grande do Sul - e mesmo do país -, uma série de desafios. Exigirá políticas públicas adequadas a esse novo perfil etário, inclusive com novas prioridades orçamentárias. O crescimento do contingente populacional de pessoas mais velhas vai demandar maiores investimentos em saúde. Embora o público 60+ seja mais ativo e saudável do que décadas atrás, é um grupo que, ao longo dos anos, vivendo mais, vai requerer cuidados médicos adicionais.

A educação também será afetada. A tendência é o número de crianças diminuir. O ensino, no entanto, deverá ser mais eficiente. O país e o Estado não contarão mais com o efeito positivo na economia proporcionado pelo aumento da população, com a incorporação de mais gente no mercado de trabalho e na massa consumidora. Mais do que nunca, será essencial assegurar uma formação mais robusta aos alunos, para que sejam mais produtivos na vida adulta.

A questão previdenciária será outro nó a ser desatado. Afinal, existirão menos jovens que contribuirão para o sistema, que por sua vez terá mais idosos para manter. Nas últimas décadas, foram inúmeros os alertas de que o país deveria estar atento para não desperdiçar o chamado bônus demográfico, quando é maior a fatia de cidadãos que chegam à idade ativa em relação ao contingente de dependentes (como crianças e idosos). Idealmente, é um estágio que deve ser acompanhado pelo crescimento da produtividade do trabalho e da economia. Foi assim que muitas nações hoje desenvolvidas ficaram ricas antes de envelhecer. De crise em crise, o Brasil fica mais grisalho sem elevar o bem-estar da população.

O envelhecimento da população não vai acontecer amanhã. Está ocorrendo hoje. São necessárias adaptações no planejamento urbano, no mundo do trabalho, na previdência, na educação, na saúde, na tecnologia, no consumo e em diversas outras frentes. Os ajustes que dependem do mercado serão feitos de forma natural, conforme forem notadas novas demandas. A dúvida reside no planejamento e na execução sujeitos a iniciativas do poder público. Afinal, enquanto o país deveria estar formando consenso sobre as melhores formas de enfrentar essa transição demográfica, entre vários outros problemas prioritários que afligem os brasileiros, se desperdiça tempo e energia em disputas políticas destrutivas e pautas secundárias que não respondem aos desafios urgentes e estruturantes. 

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