quinta-feira, 28 de julho de 2022


28 DE JULHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

REAÇÃO TEMPESTIVA

A sociedade civil vem reagindo de forma tempestiva a investidas retóricas que tentam colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral brasileiro e mesmo a realização do pleito de 2022. Não deixa de ser surpreendente que, em plena terceira década do século 21, quase 40 anos após o fim do último regime de exceção, seja preciso reafirmar o óbvio no país. Os tempos estranhos, no entanto, exigem vigilância e a ratificação de que o Brasil vive em um Estado democrático de direito e em suas balizas permanecerá. Assim sendo, os eleitores irão normalmente às urnas em outubro para escolher os seus representantes, que serão empossados no início de 2023.

Na terça-feira foi apresentado o texto que é uma espécie de reedição da Carta aos Brasileiros de 1977, que à época, durante a ditadura militar, clamava pela reabertura política. Assinado por professores universitários, economistas, empresários, banqueiros, intelectuais, artistas, ente outros, o manifesto de agora deixa claro que não serão aceitos retrocessos institucionais e reivindica respeito à vontade popular expressada de maneira límpida pelos eleitores nas urnas eletrônicas há 26 anos. Articula-se, ao mesmo tempo, outra declaração capitaneada pela poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com o mesmo sentido de reclamar obediência à democracia e apreço à Justiça Eleitoral. O documento será endossado por outras entidades empresariais de peso, como a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

A confiança nas instituições brasileiras e na integridade do sistema eleitoral também foi manifestada, nos últimos dias, pelos governos dos EUA e do Reino Unido. É ainda feliz a coincidência da realização, em Brasília, da 15ª Conferência de Ministros da Defesa das Américas. No encontro, fortalece-se o compromisso de respeito dos militares dos países participantes às autoridades civis e aos processos democráticos. O recado foi reiterado por autoridades como o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin. O comprometimento, no caso brasileiro, é particularmente importante em um momento em que as Forças Armadas são indevidamente usadas nas bravatas do presidente da República e, recentemente, o próprio Ministério da Defesa deu sinais de que poderia ultrapassar linhas constitucionais ao se arvorar o direito de ser uma espécie de entidade certificadora do resultado eleitoral.

O esperado pela esmagadora maioria dos brasileiros é que a reação da sociedade - firme, mas sem adicionar tensão - sirva para desestimular novos arroubos. Os eleitores aguardam dos candidatos propostas para solucionar os entraves nacionais, como qualificar a educação, oferecer melhores serviços de saúde, proteção ao ambiente, diminuição da vergonhosa desigualdade de renda e um programa consistente para o Brasil encontrar o caminho de um crescimento robusto e sustentado.

O inequívoco, como mostraram os anos recentes, é que a instabilidade política e institucional é uma adversária do desenvolvimento. O Brasil necessita de reconciliação e formação de consensos mínimos para realizar reformas estruturantes há muito atrasadas e resolver os problemas mais urgentes que afligem os seus cidadãos, como a inflação e a insegurança alimentar. Ameaçar com rupturas e cindir ainda mais a coletividade por divergências ideológicas é prejudicial aos negócios, ao progresso e alimenta a discórdia social. O país tem de sair do atoleiro, e não afundar ainda mais no pântano das disputas fratricidas.

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