22
de julho de 2014 | N° 17867
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Tortura a dois
Nas
compras no shopping, quanto tempo leva para seu homem sentar-se no banquinho
dentro da loja?
5
segundos? 7 segundos?
Ele
despreza as araras, os cabides, a decoração da loja, caminha direto para aquele
banco, sonhando com aquele banco, que sempre fica perto dos caixas. Pode ser um
pufe, uma banqueta, um sofá, mas ele vai se estirar naquele canto durante
horas. Talvez mexa no celular, é certo que não levantará a cabeça para os
demais clientes. Teme ser identificado. Está visivelmente constrangido pelo
ambiente feminino. É um forasteiro num chá de fraldas. Em algum ponto remoto de
seu coração, ele regride a sua infância. É outra vez um menino aguardando sua
mãe fazer suas compras chatas em nome de uma recompensa (Sorvete? Chocolate?).
Não
é educado, não esconde seu desgosto por estar naquele lugar, não acompanha o
roteiro da curiosidade pelas novidades da coleção, chega e senta, chega e se
acomoda. Como um condenado subindo ao cadafalso.
Tem
horror de promoções, tem horror das conversas entre os vendedores, tem horror
da música ambiente, tem horror a que lhe ofereçam água, café ou espumante, pois
significa que vai demorar ainda mais, mas ele mente que deseja acompanhar sua
namorada nas mil e uma portas em busca de não sei o quê.
Ele
não contém sua fobia, a cadeirinha de dentro da loja é seu trono do tédio.
Todo
homem procura desesperadamente a cadeirinha. Mendiga pela cadeirinha.
Não
duvido que pagaria por ela se estivesse ocupada, compraria bilhete
superfaturado de cambista, como se fosse um disputado show de rock.
Não
decifro o motivo de os casais se maltratarem desse jeito – a saída contrariada
para as lojas é um dos mistérios da relação.
Desconheço
o que se passa pela cabeça do homem quando diz sim se detesta o circuito das
vitrines. Custa ser sincero? Ele quer provar que tem paciência, que é generoso,
que é a melhor companhia? Ou pretende garantir o sexo do fim de noite? É um
vale-prazer para ser descontado na semana?
Apesar
da intenção, não deveria tentar. Está na cara sua abominação. Está inscrito em
cada fio de sua barba. Nem se esforça para ser agradável.
Da
parte dela, é também incompreensível a insistência em levar seu parceiro.
Ele
só servirá para cuidar da bolsa enquanto usa o provador e para depois carregar
as sacolas.
Vale
a aporrinhação?
Seria
muito melhor passear com as amigas que podem fornecer dicas preciosas e jamais
pressionar seu retorno imediato.
Mulher
odeia compras com cronômetro. Por que levar o próprio alarme em pessoa?
Ele
deveria ficar em casa porque cobrará cada minuto de sua espera. O que era para
ser um passeio transforma-se num sacrifício.
Não
vem explicar que é para ouvir a opinião masculina. Aquilo não é opinião, é
resmungo.
Seu
namorado dirá que está linda para todas as peças conservadoras e repuxará o
rosto para as peças mínimas e sensuais. No fundo, sua opinião é o mesmo que
nada.
Confesse
que você não está se vestindo para ele. Nenhuma mulher se veste para o homem.
Ela
pode se despir para ele, mas se vestir é um ato solitário e egoísta. Sempre
foi.