23
de julho de 2014 | N° 17868
EDITORIAL
ZH
MOMENTO DE
APREENSÃO
Erra
quem continua negando, diante de sinais cada vez mais evidentes de recessão,
que a política econômica já não produz os efeitos esperados.
Foram
reforçadas nesta semana as projeções negativas para a performance da economia
brasileira neste ano, o que significa a manutenção de uma preocupante
tendência. As previsões de analistas de instituições financeiras, ouvidos pelo
Banco Central, reduziram pela oitava semana seguida a estimativa de crescimento
do PIB, que fica agora em 0,97%. Considerando-se que o país acumula baixos
desempenhos desde 2011, não há mais como desconsiderar os alertas de que as
bases da atual política econômica se exauriram. São os números, expressos pela realidade,
e não apenas os pontos de vista de eventuais críticos da orientação
governamental, que atestam o declínio da atividade produtiva.
Para
um país com as potencialidades do Brasil, crescer 0,97% significa estagnação. O
cenário desfavorável está exposto num conjunto de estatísticas. Há retração no
desempenho da indústria, a criação de vagas de empregos, de janeiro a junho,
teve o pior semestre desde 2008, o nível de consumo começa a indicar sinais de
queda, e a inflação ainda se mantém fora do patamar que o próprio governo
considera razoável. Os economistas contabilizam ainda, para análise das
projeções, o fato de que o humor do empresariado está em baixa. Não surpreende,
nesse contexto, que o nível de confiança chegou ao menor patamar dos últimos 15
anos, conforme a Confederação Nacional da Indústria.
Ações
pontuais, como desoneração da folha de pagamento, reduções tributárias e outros
incentivos específicos a alguns setores já não produzem o efeito esperado.
Erra, como demonstram os números, quem insiste em negar que o país já
experimenta a sensação de que se encaminha para uma recessão. É importante
lembrar que, há exatamente um ano, os mesmos analistas previam crescimento do
PIB de 2,6%. Nesse período, as estimativas foram caindo, até chegar agora ao
nível mais baixo.
O
quadro que se forma pode ser incapaz de segurar os índices de emprego,
extremamente favoráveis nos últimos anos, nos mesmos níveis, o que acabaria por
dar forma aos piores danos da estagnação. Não há, até o momento, nenhum
movimento, por parte do governo, que sinalize alguma mudança de fundo na linha
que orienta os condutores da política econômica. Especula-se que poderão ser
adotadas novas medidas de estímulo ao crédito e ao consumo, o que certamente
será insuficiente.
Para
complicar, o período eleitoral dificulta eventuais medidas corretivas, que
poderiam contribuir para melhorias, mesmo que momentâneas, como a
racionalização no controle de gastos estatais. O maior risco, diante de uma
perspectiva recessiva, é a ampliação do sentimento de que o país ainda poderá
ter mais notícias ruins. Nessas circunstâncias, o pior para todos seria a perda
de confiança na capacidade do governo de reorganizar a economia para o
crescimento.
EM
RESUMO
Editorial
defende que, com estimativas pessimistas de crescimento do PIB, o governo terá
de rever a estratégia para a economia.