Jaime Cimenti
Idades
Lá pela década de 1970, a média
de idade do brasileiro era de cinquenta e poucos anos. Quarenta anos depois,
passa dos setenta. Deixamos de ser um país de jovens, e aí é preciso enfrentar
os desafios individuais e coletivos relacionados com os idosos.
Uns gostam da expressão terceira
idade, outros falam em melhor idade. Melhor nem falar muito em idade e deixar
os números para os queridos médicos. Uns acham que ser velho é uma beleza,
outros reclamam, com razão, do valor da aposentadoria, das doenças e da
desconsideração de muitos com os velhinhos. Todos têm o direito, claro, de
viver como achar melhor e pensar o que quiser sobre a inevitável passagem do
tempo. Já vivemos uma democracia geriátrica.
Antes as pessoas se aposentavam
aí pelos cinquenta, viviam mais alguns anos e pronto. Cadeira de balanço,
jornal, pijama listrado, rádio e televisor, netos, jogo de damas na praça,
cartas para o Correio do Leitor, reclamações na padaria sobre o peso do pão e
outras coisas do tipo estavam relacionadas com os aposentados e os idosos. Hoje
temos novos velhos, com roupas, penteados, hábitos, remédios e cotidiano
diferentes.
Boa parte quer distância da
cadeira de balanço e entende que aposentado não deve ficar muito nos aposentos,
para não se deprimir, ficar doente e ir para o andar de cima antes da hora.
Aliás, muito melhor a palavra jubilado que aposentado. Outros idosos preferem
curtir a lentidão, os descompromissos e os prazeres da contemplação próprios da
idade. Juventude passa, velhice é para sempre, brincam uns. Velhice é uma
questão de tempo.
Memória é onde as coisas
acontecem muitas vezes. Envelhecer é o preço a pagar pela sorte de continuar
vivo. Se você tiver sorte e tomar uns cuidados e não morrer, aí você envelhece.
Boa sorte! Procure bem, não reclame muito, velhice tem suas vantagens, não só
as filas, passagens de ônibus e meia-entrada.
Manter o corpo e a mente ativos,
comer e beber bem, rir, chorar, ter família e amigos, ler, ouvir boa música,
exercitar os neurônios e mais umas coisas podem afastar o alemão Alzheimer. Se
o Alzheimer te pegar, você vai ter a vantagem de conhecer muita gente nova, vai
esquecer o que bebeu e comeu mas, pelo menos, não vai lembrar dos 7 a 1 que
tomamos da Alemanha.
A seleção alemã trouxe o
problemão, mas um deles, Alzheimer, tem a solução, com direito a rima pobre.
Cada idoso é igual e diferente, com seus direitos e deveres, mas o importante é
que a vida siga sendo a arte do bom, feliz e saudável encontro, para todos.