27
de julho de 2014 | N° 17872
PAULO
FAGUNDES VISENTINI
O BRICS e seus
mitos
A
sexta cúpula do agrupamento BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul,
foneticamente “tijolos”, do inglês bricks), realizada este ano em Fortaleza,
atraiu a atenção com propostas inovadoras, acompanhadas de ufanismo, críticas
ou ceticismo. Desde que o acrônimo foi criado em 2001 por Jim O’Neill, da
consultoria Goldman Sachs de Nova Iorque, o exercício de simulação sobre o
rápido crescimento das grandes economias emergentes se tornou uma publicidade
gratuita para os referidos países.
Mas
a sigla somente foi assumida por China, Rússia, Brasil e Índia em 2009, como
resposta à crise financeira de 2008-2009, iniciada nos Estados Unidos e que
atingiu a Zona do Euro. Logo o acrônimo passou a ser definido em torno de
mitos, de fora para dentro: o BRICS é 1) o bloco econômico dos emergentes, novo
centro da economia mundial; 2) uma aliança de regimes autoritários ou
esquerdistas contra as democracias do Atlântico Norte; 3) um grupo dominado
pela China para obter o domínio mundial.
Para
outros, o BRICS: 1) não é sólido porque seus membros são muito diferentes; 2)
tem tido desempenho declinante pela taxa de crescimento menor; 3) propõe
instituições (Banco de Desenvolvimento e Fundo de Reserva) para competir com o
FMI e o Banco Mundial; 4) não é representativo dos emergentes porque deixa de
fora outros países importantes.
São
mitos que necessitam ser esclarecidos. Os integrantes dos BRICS têm sólidas
relações econômicas com os Estados Unidos e Europa e muitos interesses em
comum, e não buscam qualquer ruptura profunda com o atual sistema
internacional. Trata-se de uma coalizão ad hoc (para uma tarefa específica) que
busca responder aos riscos da crise financeira e econômica mundial e nunca
pretendeu ser um bloco econômico.
Os
membros têm, como emergentes, uma posição semelhante na estrutura de poder
político e econômico. Inclusive, houve uma mudança de posição, pois hoje são
eles que lutam contra o protecionismo comercial (que começa a ser praticado
pelos euro-americanos) e defendem as negociações multilaterais. Não foi apenas
seu crescimento que reduziu o ritmo, mas o da economia mundial como um todo, e
eles ainda estão muito à frente dos EUA e da Europa (menos endividados e com
mais reservas). E continuam puxando a economia internacional, particularmente a
China.
Por
fim, a China, espertamente, não deseja qualquer posição de liderança, mas atuar
em conjunto com aliados visando reformas no sistema financeiro e comercial
(sempre postergadas) para manter o crescimento e evitar um colapso mundial. Da
mesma forma, atua em conjunto na ONU para afastar o perigo de que conflitos
localizados se transformem em guerras maiores.
Certamente,
quando o fantasma da instabilidade econômica e política for afastado, as
diferenças e rivalidades entre eles voltarão a se manifestar, e o grupo perderá
sua razão de ser. Como todo tijolo, pode se esfarelar.