ELIO
GASPARI
Vexame, a banca não sabe
contar
Procuradoria-Geral
corrigiu o terrorismo dos doutores e de seus papagaios contra as vítimas dos
confiscos
No
final do ano passado, o Supremo Tribunal Federal esteve prestes a julgar o
litígio dos poupadores das cadernetas de poupança que se sentiram lesados com a
correção monetária de seus depósitos durante os planos econômicos fracassados
do fim do século passado.
Com
o apoio do Banco Central, a banca desencadeou uma operação de terrorismo
político-financeiro, argumentando que se os depositantes prevalecessem,
provocariam um desastre bíblico na economia nacional. Seriam R$ 150 bilhões,
talvez R$ 180 bilhões, quem sabe, R$ 441 bilhões. Uma empresa de consultoria
falou em R$ 600 bilhões.
Um
manifesto assinado por Guido Mantega e cinco ex-ministros da Fazenda, inclusive
aqueles que ajudaram a produzir a ruína da hiperinflação, foram na mesma linha.
Um
dos advogados da banca chegou a mandar uma carta ao ministro Ricardo
Lewandowski prevendo que uma decisão a favor dos poupadores "lançará o
país numa coorte de horrores que, sem exagero, irão do desemprego em massa à
fome da população mergulhada nos sortilégios de uma crise econômica que afetará
toda a nação." Os ilustres causídicos da banca, que já haviam tentado
tenebrosas tentativas no escurinho de dois recessos do STF, conseguiram adiar
para este ano o julgamento do caso.
O Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor sustentava que isso era um exagero e
argumentava que esses mesmos bancos haviam provisionado apenas R$ 11 bilhões.
Na conta do Credit Suisse o litígio custaria R$ 26,5 bilhões.
A
Procuradoria-Geral da República informou que as contas catastrofistas estavam
erradas. A cifra certa, para a PGR, está em R$ 21,9 bilhões. Em vez de
aterrorizar o país com uma conta doida para não pagar coisa alguma, os bancos
poderiam ter feito a conta certa, como fez o Credit Suisse. Afinal, eles a
conheciam.
Ficará
na história da banca brasileira o fato de terem inventado um apocalipse para
ganhar um dinheirinho à custa da boa-fé do público e da sua capacidade de
atemorizar os ministros do Supremo.
Tudo
indica que o Supremo decide a questão ainda neste ano.
PAROLAGEM
Uma
indicação de que os candidatos à Presidência da República dedicam-se a uma
ilustre parolagem quando discutem a saúde pública:
Nenhum
deles tratou em sua plataforma da questão do ressarcimento ao SUS quando sua
rede atende clientes dos planos de saúde. Essa conta deveria ir para as
operadoras e, no ano passado, a Agência Nacional de Saúde arrecadou apenas R$
167 milhões. Melhorou, pois de 2001 a
2010 a Viúva só
conseguiu receber de volta R$ 125 milhões.
A
repórter Barbara Bretanha mostrou que, nos últimos cinco anos, os clientes de
planos atendidos pelo SUS cresceram em 60%. Foram 320 mil internações. Entre os
dez motivos mais comuns estão os partos.
Ganha
uma viagem à Ucrânia quem for capaz de achar uma mulher que, tendo plano,
pretendia parir no SUS.
O
melhor negócio do mundo é vender um plano de saúde para quem a tem e remete o
cliente ao SUS quando ele precisa. O segundo melhor negócio, para candidatos, é
não chatear as operadoras em tempo de arrecadação.
NOTÍCIA
DO BRASIL
Um
passeador de cachorros num bairro do andar de cima de São Paulo cobra meio
salário mínimo mensal ao dono do bicho por dois passeios diários, de meia hora
cada um.
Passeando
dez cachorros, fatura R$ 3.500 sem osso, que equivalem a R$ 4.500 brutos.
Como
na Argentina essa profissão é regulamentada, daqui a pouco aparecerá um sábio
querendo importar a ideia.
Quando
isso acontecer, os cães pedirão que se crie a profissão de passeador de
bípedes.
OFIDIÁRIO
A
cada mau número da economia, o serpentário de Lula repete: "Ele sugeriu a
Dilma a substituição de Guido Mantega".
Tudo
bem, mas quem o colocou na Fazenda?
Padrão
Abdalla para hospitais quebrados
A
rede hospitalar brasileira deve ao médico Kalil Rocha Abdalla, provedor da
Santa Casa de São Paulo, a criação de uma nova metodologia para a internação de
dinheiro da Viúva em instituições médicas inadimplentes: junto com o dinheiro
da Boa Senhora entram também auditores e o Ministério Público.
O
doutor está no seu terceiro mandato, administra a Santa Casa há seis anos, teve
dívidas perdoadas pelo governo, deve pelo menos R$ 50 milhões a fornecedores e,
para receber socorro financeiro, fechou as portas do seu pronto-socorro. Logo
este. Doentes que chegaram à Santa Casa no meio da madrugada bateram com a cara
na porta. (Duas grávidas em trabalho de parto foram atendidas.)
A
Casa de Abdalla é o maior hospital filantrópico do país e, na conta do governo
paulista, a Casa de Abdalla deve R$ 400 milhões.
Há
décadas, esta e outras Santas Casas infeccionam as noções de santidade e de
filantropia. Atendem de graça, mas custam milhões à Viúva, cuja bolsa é
abastecida pela generosidade tributária da patuleia. A Santa Casa do Rio já foi
apanhada até em maracutaias com túmulos. Uma nada tem a ver com a outra e há
instituições exemplares que levam esse nome. Elas surgiram na Colônia, quando
eram a única iniciativa de saúde pública de Pindorama. Chamavam-se Santas Casas
de Misericórdia.
Depois
de fechar a porta do pronto-atendimento para abrir, com sucesso, a Bolsa da
Viúva, o doutor Abdalla, presidente de uma instituição quebrada, deu uma
entrevista investindo-se da soberba de um donatário medieval: "Falei, vou
fechar"; "Ou me dá algum dinheiro, ou não. R$ 3 milhões é insuficiente";
"Estou aqui há seis anos"; "Fechei repentinamente porque chegou
um dia e o fornecedor disse que não ia mais me fornecer material".
Incomodado, despediu-se da repórter Thais Bilenky: "Você está perguntando
para poder futricar. Você devia falar que eu sou bonito, tal. Você não fala.
Você só vai descer o porrete".
Por
mais perigoso que seja uma repórter descendo o porrete, é preferível isso a um
serviço de pronto-atendimento fechado "repentinamente".
Deve-se
ao doutor Abdalla o estímulo a um novo padrão de conduta do Estado. Se um
hospital está em dificuldades financeiras, chama uma auditoria pública para
examinar suas contas. Isso pode ser feito a qualquer momento, sem necessidade
de ações repentinas numa administração que dura seis anos. De quebra, o gestor
do hospital pode ganhar uma visita do Ministério Público, com direito a
porrete.
A
situação da Santa Casa só chegou ao ponto em que chegou porque alguém deixou de
fazer o seu serviço, mas quem pagou a conta foram os doentes. Pagarão duas
vezes: na primeira, não sendo socorridos; na segunda, pagando impostos para
socorrer instituições quebradas.
Em
tempo: o doutor veste-se bem, mas bonito não chega a ser.